quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças




“Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças”- “Eternal Sunshine of the Spotless Mind”, Estados Unidos, 2004
Direção: Michel Gondry

Se viver é perigoso, o amor, um dos sentimentos mais desejados, é também um dos mais temidos, porque expõe o ser humano ao que há de mais sublime e também à mais infernal das torturas. Pois não há amor sem momentos infelizes. Somos diferentes uns dos outros e atraídos, quase sem escolha, porque é algo emocional, a seres que vão nos transportar tanto ao céu quanto ao inferno.
E se pudéssemos apagar os amores intensos e infelizes? Tirar da memória e fazer com que desapareçam os traços daquilo que não queremos mais?
Esse é o tema do roteiro assinado por Charlie Kaufmann, que ganhou o Oscar de melhor roteiro original, nesse filme que tem como título uma frase de um poema do poeta inglês, Alexander Pope (1688-1744).
Não esperem uma ordem cronológica. O charme do filme é que estamos com Joel (Jim Carrey) e Clementine (Kate Winslet) e vemos começar o amor deles num trem. Depois vamos ver a festa na praia, o casaco laranja e a outra primeira conversa dos dois.
Estranho? Pois isso é a memória de Joel. Os bons momentos e logo os males daquele amor. Mas não queira compreender tudo de cara. Dê um tempo.
Porque a fantasia de apagar da mente o amor que nos faz infelizes, é procurada primeiro por Clementine, a dos cabelos cada dia de uma cor. Aquela que ao ver um bebê, inveja sua mente inocente que, assim pensa ela, não guarda lembranças indesejadas.
Joel fica furioso ao descobrir que Clementine entregou-se a essa experiência de apagá-lo da memória na Clínica Lacuna. Entende porque ela se afastou dele e sofre mais ainda. A impulsividade dela, o pouco caso com aquilo que viveram, tudo dói no peito de Joel.
Então ele também vai se expor ao mesmo tratamento.
Só que há algo que não é explicado nisso tudo. E se no meio Joel quiser parar? Pode ser que ele entenda melhor o que está fazendo e não queira se perder numa espécie de demência.
Como ele vai poder sair daquilo? É um pesadelo.
Quanto mais que os assistentes do médico (Tom Wilkinson) são dois irresponsáveis (Mark Rufallo e Kirsten Dunst)?
Na verdade, a fantasia que tem um lado tentador, ou seja, apagar da memória aquilo que nos tortura, passa a ser um método que ensina ao incauto Joel que, sem lembranças, ele não é mais ele mesmo. Como continuar a viver sem se lembrar dela? Esboça-se a compreensão de que ela é um pedaço dele e ele um pedaço dela.  
O filme é muito bem planejado. Os efeitos especiais originais e belos. E a trilha sonora é muito bem escolhida.
Um filme inesquecível.

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