“Vision”-
Idem, Japão, França, 2018
Direção:
Naomi Kawase
Uma
floresta de cedros, muito verde no verão, vermelha no outono, com altas copas
de árvores, esconde um rio e uma aldeia minúscula e encobre um mistério, que
envolve a natureza e a humanidade. Parece que lá existem plantas medicinais
colhidas pelos locais dentro de uma antiga tradição.
Chegam de
trem na floresta de Nara, a francesa Jeanne (a bela e expressiva Juliette
Binoche) e uma acompanhante. Ela escreve ensaios sobre viagens e olha a
paisagem com olhos de encanto e procura.
Jeanne
espera encontrar ali, onde pouca gente vive, uma planta lendária chamada
“vision”, que traria conforto à fraqueza, angústia e dor dos homens.
O ritmo do
filme é lento e pode aborrecer quem não admirar as belas fotografias da
natureza, imagens capturadas pelo estreante e inspirado Arata Dodo. Porque a
maior atração do filme, além da Binoche, é transportar a plateia para um lugar
encantado, cuja paz só é interrompida por lenhadores e caçadores raros. Ou
seja, a presença humana.
Naomi
Kawase, uma das mais prestigiadas cineastas do Japão, conseguiu convencer uma
das mais famosas estrelas do cinema a trazer seu belo e expressivo rosto para
construir uma personagem complexa, que não é só a jornalista que ela diz ser.
Assim, ouve-se um velho habitante da região, referir-se a uma cientista
estrangeira que visitara a floresta há 20 anos atrás. O certo é que Jeanne
procura pela planta. Quer consolo sobre algo em seu passado? É o que intuímos
por imagens passadas rapidamente na tela.
Jeanne vai
viver ou reviver um amor que aconteceu em sua juventude. Tudo volta à sua mente
e ao seu coração quando
encontra Tomo ( Masatochi Nagase), um homem solitário e seu cão. O aparecimento
de um jovem perdido e ferido, Rin, aprofunda laços entre eles, formando uma
trindade benfazeja.
Há uma
leitura possível do filme que nos leva a pensar em como o destino destrutivo da
humanidade, com suas guerras e agressividades, caminha sempre para um
renascimento. A planta que marcaria esse reinício do ciclo seria uma metáfora
para o instinto de vida que não é inimigo do instinto de morte, mas seu
complementar.
A velha Aki
(Mari Natsuki) que diz ter 1.000 anos, é cega e parece ser um espírito da
floresta. Ela reconhece Jeanne e a esperava para que tudo acontecesse como tem
que acontecer. A vivência do ciclo natural sem dor nem angústia. A morte como
uma passagem para a vida.
A floresta
vai ensinar esse conhecimento. O fogo traz a água e tudo volta a viver.
Mas quem se
encanta com o jeito de Naomi Kawase contar histórias, como fez nos seus
filmes de maior sucesso “Sabor da Vida” 2015 e ”Esplendor” 2017, não vai
entender direito esse roteiro dela com cigarras, números primos, aceleração da
vida que tem que ser destruída por si mesma a cada 997 anos e a planta regeneradora.
Quem quer
tudo explicadinho não vai gostar. Quem admira o Japão, a Binoche e curte a
natureza vai sair pensativo do cinema. Como eu.
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