“Adeus à
Noite”- “L’Adieu à la Nuit”, França, Alemanha, 2019
Diretor:
André Téchiné
Brancas
flores de cerejeiras enfeitam o cenário do sul da França onde vemos Muriel
(Catherine Deneuve tão bela quanto ótima atriz) e seu braço direito Youssef
(Mohamad
Djouri), que passeiam no pomar da fazenda dela, onde se criam cavalos num
haras, com um centro equestre.
Com pesar
encontram uma das árvores destruída.
“- Foi um
javali... Temos que tomar providências...” diz Muriel.
Mas logo,
outro susto. Um eclipse total do Sol faz o dia virar noite. Os dois incidentes
são como que um sinal de mau augúrio nessa história.
Estamos no
primeiro dia de primavera e o neto de Muriel, Alex (Kacey Mottet Klein), veio
visitar a avó antes de partir para uma longa estadia no Canadá. E conhecemos
sua namorada, Lila (Oulaya Amamra), jovem e bela de ascendência árabe.
Deduzimos
que seja muçulmana porque veste uma roupa para nadar no rio.
E começa um
estranho diálogo entre eles:
“- Você faz
o quê se eu morrer?” pergunta ele.
“- Ficarei
orgulhosa”, responde ela.
Entendemos
melhor essas frases quando a avó abraça Alex que chega na fazenda com um jeito
amoroso, para logo depois flagrá-lo orando em árabe num pequeno tapete:
“- Me faço
perguntas... não sabia que era religioso...”
“- Agora
sabe. Faz um mês que me converti ao Islã. Lila me ensinou que existe vida
depois da morte. É a que conta.”
Percebemos
a avó preocupada com o neto. Faz perguntas a Lila e fica sabendo que ela é
convicta de suas ideias e críticas contra a cultura ocidental que ela considera
materialista e corrupta.
Alex parece
nervoso e irritado quando o vemos ir ao cemitério para jogar no mar todas as
flores e enfeites do túmulo de sua mãe. Ele discute com Muriel culpando o pai
pela morte da mãe, apesar da avó dizer que foi um acidente.
Não sabemos
o porquê. Mas por isso ou por aquilo, jovens europeus estão enganando a família
e viajando para Istambul de onde seguem para lutar com armas na Síria.
É difícil
lidar com o fanatismo e a cegueira que levam os jovens a pegar em armas e a
morrer pela causa islâmica.
À noite,
espingarda na mão, Muriel se vê diante do javali.
Os dois se
olham mas ela não atira. Está paralisada pelo perigo que sente que seu neto vai
enfrentar.
Quando ela
lê a carta de despedida que ele deixou no quarto, fica realmente assustada:
“Vou a
caminho da luz pois estou pronto para dizer adeus à noite.”
André
Téchiné,76 anos, famoso cineasta e roteirista francês, inspirou-se num
livro de David Thomson que reúne várias entrevistas sobre esse caso dos jovens
cujo destino é a Síria, “Les Français Jihadistes” de 2014. Téchiné também tenta
compreender um pouco mais sobre o sucesso dos recrutadores da internet.
Na história
de Alex, a morte prematura da mãe, o pai visto como sendo o assassino dela na
visão equivocada do filho, a influência de Lila, amiga de infância e agora sua
mulher, explicam em parte porque ele se tornou um guerreiro islâmico
fundamentalista. Uma coisa que o também muçulmano Youssef, braço direito de
Muriel, diz que suja o nome da religião muçulmana.
Alex recusa
o mundo real em que vive e vai partir para um destino terrível.
Téchiné não
tem respostas prontas para esse suicídio da juventude. Ninguém tem.
“Adeus à
Noite” é uma denúncia.
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