domingo, 20 de janeiro de 2019

Solo



“Solo”- Idem, Espanha, 2018
Direção: Hugo Stuven
NETFLIX

As Ilhas Canárias e a beleza deslumbrante de uma área desértica frente ao mar, a praia de Jarujo, é o cenário que vai se transformar de sonho em pesadelo para Alvaro Vizcaino (Alain Hernandez), jovem de trinta e poucos anos, bonito, surfista e “bon vivant”.
De dia, a adrenalina das ondas altas que quebram muito perto das rochas, é um perigo que ele e outros procuram.
Um desafio que faz aqueles jovens se sentirem mais vivos e, ao mesmo tempo, os impede de pensar sobre as próprias vidas.
De noite, festas na praia, fogueiras, música e dança, bebida e drogas. E encontros casuais. Procuram liberdade e diversão.
Havia Ona (a bela Alda Garrido) a quem Alvaro levara para um jantar atrás das dunas, à luz de velas, e uma bela Lua Nova no céu. Mas o casal brigava muito por
ciúmes e infidelidades de Alvaro, que não queria aprofundar laços nem com Ona nem com ninguém.
Ele se armara contra os afetos. Usava uma armadura autista para não enfrentar a própria fragilidade. Achava que era autossuficiente. Onipotente.
Alvaro e Nelo (Bem Temple) combinaram aproveitar a vida juntos, surfando todas as ondas, as melhores e conquistando também as mulheres.
Mas Alvaro vai ficar sabendo que Nelo se apaixonara e ia largar aquela vida dos dois. Sentindo-se atraiçoado, Alvaro bebe muito e dorme no carro, na praia mesmo.
Acorda no dia seguinte de ressaca. Estava sozinho.  Pois bem, que assim seja. Com esse espírito, vai descendo as dunas de areia apoiadas nos rochedos que dão para o mar. Sua mente está longe.
E não deu outra. Escorrega num passo mal dado e lá se vai areia abaixo, de bruços, como num tobogã gigante.
A queda acontece. Assustadora. Quebrou o quadril, a mão, sangue no braço e na testa. Inconsciência, frio e medo.
Foram horas de luta com o mar na maré cheia e um sono atormentado numa nesga de areia quando o mar retrocedia.
E os demônios interiores atacam. Lembranças, temores e culpa. Ali ele não vai conseguir escapar de si mesmo como sempre fazia.
O diretor espanhol Hugo Stuven, em seu segundo filme, conseguiu criar suspense e medo com muito pouco. Cenas difíceis, filmadas à altura dos olhos de Alvaro entre as ondas que o jogam nas rochas e com um drone mostrando como somos um nada na imensidão azul.
As cenas são belíssimas, fotografadas com talento por Angel Iguácel, numa natureza de azuis, beges e negros.
“Solo” é um filme que conta um fato da vida real. E parece impossível um ser humano ter sobrevivido a tantas quase mortes. Mas assim foi e mexeu profundamente com Alvaro, que passou a viver transformado para sempre.

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