“Lizzie”- Idem, Estados Unidos, 2018
Direção: Craig William MacNeil
Já no prólogo, ficamos sabendo que algo terrível aconteceu
naquela casa. Uma moça que vai até o fundo do jardim, volta para dentro da casa
e ouve-se um grito. A criada que limpa os vidros da janela olha assustada. Um
corpo de mulher ensanguentado está caído no chão.
Era o dia 4 de agosto de 1982 na cidade de Fall River em
Massachussets, Estados Unidos. O duplo homicídio do Sr e Sra Borden ficou
famoso. Foram escritos livros, peças de teatro, até uma canção popular e as
manchetes de jornais da época diziam que só uma pessoa louca ou com o “coração
negro com a raiva do inferno” poderia ter cometido tal crime.
Mas quem matou os Borden?
Naquela casa morava uma família rica. Lizzie Borden (Chloe
Sevigny), que tem 32 anos, é solteira, bem como sua irmã mais velha Emma (Kim
Dickens), a madrasta das duas, Abby (Fiona Shaw) e seu marido, Andrew Borden
(Jamey Sheridan), homem autoritário e com fama de ser sovina, pai das duas
moças. A criada Bridget (Kristen Stewart), irlandesa, trabalhava para a família
há seis meses e era conhecida como “Maggie”, nome dado a todas as empregadas
irlandesas da época para facilitar.
O filme conta uma versão dos fatos, baseado em teorias que
foram objeto de comentários na comunidade mas nunca se provou o que realmente
aconteceu naquela casa na manhã fatídica.
Haviam rumores sobre ameaças que a família recebia,
endereçadas a Andrew Borden. E é fato que ele não era querido na cidade. Parece
que alguns fazendeiros locais haviam pedido empréstimo a Borden e dado suas
terras como garantia. E ele as tomara quando as dívidas não foram pagas. Há uma
conversa de Lizzie com o pai sobre o assunto.
Mas a relação do Sr Borden com as filhas era distante e
autoritária. Assistimos a uma cena em que Lizzie, vestida para ir ao teatro, é
confrontada pelo pai que quer impedir que ela saia sozinha à noite. Ela
enfrenta o pai mas tem uma convulsão no teatro. O que hoje sabemos ser
epilepsia era visto com maus olhos pela ignorância da época, que achava que
isso era sinal de loucura ou, pior ainda, de possessão.
“- Você nos envergonha” diz o pai para Lizzie.
John Morse (Dennis O’Hare), o irmão da madrasta, se tranca
no escritório com o cunhado e passa a ser beneficiário no testamento,
prejudicando a herança das irmãs.
Lizzie que se aproximou de Bridget e ensinou a moça a ler,
aliou-se a alguém com razões próprias para odiar o Sr Borden que invadia o seu
quarto à noite.
Se mulheres da família não eram respeitadas, o que dizer das
criadas? Naquela casa e naquela época, o machismo reinava. As mulheres não
tinham voz nem direitos. O filme faz uma alusão discreta sobre uma atração
entre Lizzie e Bridget, mas fica tudo no ar.
“Lizzie” não é um filme escandaloso. Nem sanguinolento
demais. Mostra um crime famoso e teoriza sobre quem foi que matou o casal. O
elenco é ótimo, com destaque para Chloe Sevigny, que também produziu o filme.
Mas falta algo. Talvez uma loucura explícita para justificar
o crime brutal. Mas será que foi ela mesmo a assassina?
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