quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

A Esposa




“A Esposa”- “The Wife”, Estados Unidos, 2018
Direção: Bjorn Runge

A aflição dele tem motivo. Escritor maduro, cabelos brancos, óculos, ele sabe que o vencedor receberá um telefonema na manhã do dia seguinte. Não consegue dormir e não deixa a mulher dele em paz. Ele espera aflito e quer companhia nessa espera.
E quando o telefone toca na casa do casal Joseph e Joan Castelman (Jonathan Price e Glenn Close) bem cedo, os pega adormecidos. Acordam sobressaltados e é ele que atende o telefone e ouve o que tanto esperara que acontecesse. De Estocolmo, uma voz dá a notícia. Ele é o novo Nobel de Literatura. Ela escuta na extensão e seu rosto em close expressa um maravilhamento nos olhos brilhantes.
Pulam em cima da cama como crianças.
E ficamos surpresos em ver, desde as primeiras cenas o quanto Joe é dependente de Joan. Ela toma conta do óculos dele, do comprimido e do casaco.
Na festinha à noite, os amigos se reúnem e quando chega o momento do discurso, ele só tem palavras de  agradecimento à sua musa, a esposa.
Ela fica claramente incomodada. Mas imaginamos que é por timidez. Ela seria uma mulher que gosta de ficar na sombra.
Mas, quando começam os “flashbacks”, encontramos uma outra Joan, aluna brilhante do professor Castelman. Ela é atraente e o professor, casado, se encanta com aquela mocinha que olha embevecida para ele. Joe vê nela não só a mulher atraente mas a promessa de uma companheira de vida, com talento na escrita e compreensão dos sacrifícios de sua profissão.
Sim. Joan é tudo isso e mais. Por décadas se dedica a ele, de modo tão exclusivo, que os filhos foram um pouco deixados de lado. Não seria exagerada essa dedicação a corrigir e datilografar os livros de Joseph? Uma secretária não poderia poupar Joan de tanto trabalho?
Mas o filme, adaptado do livro de 2003 de Meg Wolitzer, leva o casal e o filho David (Max Irons) para Estocolmo. No mesmo avião, era do Concorde, há um outro personagem (Christian Slater), um escritor que quer escrever a biografia de Joseph Castelman e quer falar sobre isso. Quando abordados, percebemos um intenso desagrado no casal.
Por que?
Durante toda a estada em Estocolmo vemos que Joan não está bem. Algo a incomoda muito.
Desse ponto em diante o filme vai nos surpreender. Dirigido pelo sueco Bjorn Runge o filme não se salienta por outra coisa que não seja a atuação dos excelentes Jonathan Pryce e Glenn Close em seus closes que mostram o talento imenso dos dois, em seus rostos expressivos.
Glenn Close já ganhou o Globo de Ouro, e é forte candidata ao Oscar, por sua interpretação magistral dessa mulher extremamente inteligente e talentosa mas insegura a respeito de seu lugar no mundo. Obviamente apaixonada pelo marido, ela ainda mantém a submissão juvenil ao professor que a domina. Talvez ela tenha se visto a vida inteira como uma mulher de muita sorte por ter sido escolhida por ele. E deixou-se explorar.
Daqui por diante ela vai se perguntar: valeu a pena?



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