terça-feira, 22 de maio de 2018

Entre Laços




“Entre Laços”- “Karera ga honki de amu toki wa”, Japão, 2017
Direção: Ogigami Naoko

Tomo (Rinka Kakihara) tem 11 anos e vive com sua mãe. Mas ela é descuidada e chega em casa quase sempre bêbada. Segue seu instinto de fêmea e prioriza seus amores.
Quem sofre muito com isso é sua filha, pequena ainda, que só tem para comer os bolinhos de arroz comprados por sua mãe e largados junto a pratos sujos e roupa jogada pelo chão.
Até a noite em que a mãe não volta para casa e Tomo resolve procurar seu tio Makio (Kenta Kiritani).
“- Foi demitida outra vez...  Sua mãe é irresponsável. Vou levar você para a minha casa. ”
Percebemos que há algo que o tio quer contar mas não sabe como. Apenas diz para Tomo que está morando com uma pessoa “diferente”, importante para ele.
“- Eu falei de você para ela. Ela não é comum. Vai gostar de minha sobrinha. ”
Quando chegam, uma moça alta os recebe com um sorriso:
“- Sou Rinko. Entre! ”, diz olhando Tomo.
“- Minha casa não está diferente? ” pergunta o tio.
E quando sentam à mesa para jantar, a menina sorri. Nunca tinha visto tanta variedade de pratos.
“- Coma tudo o que quiser ”, diz Rinko.
“- Ela é ótima cozinheira! ”
E Tomo come com vontade, cansada dos bolinhos de arroz comprados pela mãe dela.
Com naturalidade e poucas explicações, Rinko conta sua condição de mulher transgênero para a menina:
“- Maiko contou para vc? Sobre mim? Sabe, nasci menino. “
A maneira tranquila mas principalmente a delicadeza e o carinho de Rinko conquistam Tomo, que era preconceituosa na escola, fugindo de um garoto que gostava de outro menino e queria ser amigo dela.
Aos poucos, a estranheza que Tomo pudesse ter desaparece e ela aceita e gosta da presença de Rinko em sua vida. Para quem não teve o amor da mãe, Rinko que sempre quis ser mãe, é uma dádiva.
O filme da diretora japonesa Ogigami Naoko trata da transsexualidade de maneira quase didática, de uma forma que qualquer criança entende. O preconceito é mostrado também mas não há julgamentos nem explicações complicadas e muito menos cenas de sexo.
É um filme para quase todos. Talvez até para os mais conservadores. Rinko (Toma Inkuta, que é homem) convence na interpretação da personagem que sempre foi mulher para si mesma.
“Entre Laços” ganhou o Prêmio Teddy no Festival de Berlim de 2017, dado ao melhor com temática LGBT.
Delicadeza, afetos entrelaçados com tricô e um piano que toca uma musiquinha gostosa, aumentam o prazer de assistir a esse filme comovente e belo.

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