quinta-feira, 24 de maio de 2018

A Escolha de Sofia




“A Escolha de Sofia “- “Sophie’s Choice”, Estados Unidos, 1982
Direção: Alan J. Pakula
Existem filmes inesquecíveis. Transmitem tanta verdade sobre o ser humano em situações limite que se tornam refrãos. Isso acontece quando alguém se vira para você e diz:
“- Foi uma “escolha de Sofia”. ”
E você entende o que a pessoa disse porque viu o filme e não se esqueceu. Trata-se de uma escolha impossível mas que precisa ser feita.
E é bom rever o filme, como eu fiz, porque a cada vez você percebe algo mais. Há muita coisa boa além da história, escrita no livro de John Irving e adaptada para o cinema pelo próprio diretor Alan J. Pakula.
Stingo (Peter MacNicol), o personagem mais jovem, chega a Nova York em 1947, um ano depois da Segunda Guerra. E aluga um quarto no castelinho rosa no Brooklyn, onde vai conhecer Sophia, a polonesa de pele branca e rosto belo que fala com um forte sotaque e procura as palavras, num inglês recém aprendido. Chegara há seis meses da Europa.
O namorado dela, Nathan (Kevin Kline) é judeu, inteligente e vive cercado de livros, dos quais recita trechos de cor mas seu temperamento é instável. Vai da alegria esfuziante ao rancor mais negro, sem que ninguém tenha feito nada demais. E suas brigas com Sophia são sempre trágicas. Ela implorando e ele a maltratando. Uma dupla sadomasoquista que nos envolve com intensidade.
Stingo apaixona-se pelo casal. E ele, que quer ser escritor, tem farto material para observar a natureza humana ali na sua frente, espreitando o casal, fascinado com tudo aquilo que acontece no quarto acima do dele.
Quando a verdade da vida é terrível, contam-se mentiras, verdades imaginárias, alternativas ao horror, que é então banido da mente numa negação tremenda. Quando isso acontece, parece que a pessoa é outra e não aquela que viveu o terrível. Mas a verdade grita lá dentro da alma. Até o dia em que não dá mais para fugir. Há então, uma rendição à realidade. Machuca muito. Mas não se pode evitar.
E é isso que vamos ver numa cena em que Sophia, a incrivelmente talentosa Meryl Streep, com o rosto lavado em lágrimas, debaixo de uma luz azulada, confessa a Stingo o que aconteceu com ela no campo de concentração na Polônia.
Ela ganhou seu primeiro Oscar de melhor atriz com esse papel e para sempre deixou impregnada na nossa retina e no nosso coração aquela cena espantosa.  De forma mansa e arrasadora, a verdade é contada e a ouvimos quase sem respirar.
Há “flashbacks” curtos que não atrapalham o ritmo do que está sendo contado. Ora Sophia, ora Stingo são os narradores.
A fotografia em cores vivas e que varia conforme o tom da cena, em vermelhos e azuis, de Nestor Almendros, cerca os personagens com uma aura surreal.
“A Escolha de Sophia” tem temas universais e prende o espectador, que não pode evitar a emoção que invade a todos. É cinema de primeiríssima.
Você não pode deixar de ver.

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