“A Escolha
de Sofia “- “Sophie’s Choice”, Estados Unidos, 1982
Direção:
Alan J. Pakula
Existem
filmes inesquecíveis. Transmitem tanta verdade sobre o ser humano em situações
limite que se tornam refrãos. Isso acontece quando alguém se vira para você e
diz:
“- Foi uma
“escolha de Sofia”. ”
E você
entende o que a pessoa disse porque viu o filme e não se esqueceu. Trata-se de
uma escolha impossível mas que precisa ser feita.
E é bom
rever o filme, como eu fiz, porque a cada vez você percebe algo mais. Há muita
coisa boa além da história, escrita no livro de John Irving e adaptada para o
cinema pelo próprio diretor Alan J. Pakula.
Stingo
(Peter MacNicol), o personagem mais jovem, chega a Nova York em 1947, um ano
depois da Segunda Guerra. E aluga um quarto no castelinho rosa no Brooklyn,
onde vai conhecer Sophia, a polonesa de pele branca e rosto belo que fala com
um forte sotaque e procura as palavras, num inglês recém aprendido. Chegara há
seis meses da Europa.
O namorado
dela, Nathan (Kevin Kline) é judeu, inteligente e vive cercado de livros, dos
quais recita trechos de cor mas seu temperamento é instável. Vai da alegria
esfuziante ao rancor mais negro, sem que ninguém tenha feito nada demais. E
suas brigas com Sophia são sempre trágicas. Ela implorando e ele a maltratando.
Uma dupla sadomasoquista que nos envolve com intensidade.
Stingo
apaixona-se pelo casal. E ele, que quer ser escritor, tem farto material para
observar a natureza humana ali na sua frente, espreitando o casal, fascinado
com tudo aquilo que acontece no quarto acima do dele.
Quando a
verdade da vida é terrível, contam-se mentiras, verdades imaginárias,
alternativas ao horror, que é então banido da mente numa negação tremenda.
Quando isso acontece, parece que a pessoa é outra e não aquela que viveu o
terrível. Mas a verdade grita lá dentro da alma. Até o dia em que não dá mais
para fugir. Há então, uma rendição à realidade. Machuca muito. Mas não se pode
evitar.
E é isso que
vamos ver numa cena em que Sophia, a incrivelmente talentosa Meryl Streep, com
o rosto lavado em lágrimas, debaixo de uma luz azulada, confessa a Stingo o que
aconteceu com ela no campo de concentração na Polônia.
Ela ganhou
seu primeiro Oscar de melhor atriz com esse papel e para sempre deixou
impregnada na nossa retina e no nosso coração aquela cena espantosa. De
forma mansa e arrasadora, a verdade é contada e a ouvimos quase sem respirar.
Há
“flashbacks” curtos que não atrapalham o ritmo do que está sendo contado. Ora
Sophia, ora Stingo são os narradores.
A fotografia
em cores vivas e que varia conforme o tom da cena, em vermelhos e azuis, de
Nestor Almendros, cerca os personagens com uma aura surreal.
“A Escolha de
Sophia” tem temas universais e prende o espectador, que não pode evitar a
emoção que invade a todos. É cinema de primeiríssima.
Você não
pode deixar de ver.
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