sábado, 18 de novembro de 2017

Victoria e Abdul - O Confidente da Rainha



“Victoria e Abdul – O Confidente da Rainha”- “Victoria e Abdul”, Reino Unido, Estados Unidos, 2017
Direção: Stephen Frears

Esta é a segunda vez que Judi Dench, 82 anos, interpreta a Rainha Victoria no cinema. A primeira foi no filme “Sua Majestade, Mrs Brown” com o qual ganhou o Globo de Ouro 1998. E é a terceira vez que trabalha com o cineasta também inglês como ela, Stephen Frears, 76 anos.  Nessas duas ocasiões foi indicada ao Oscar de melhor atriz (“Sra Henderson apresenta” de 2006 e “Philomena” de 2013). Judi Dench já foi indicada ao Oscar de melhor atriz por cinco vezes mas só ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante por “Shakespeare Apaixonado” em 1998 quando interpretava Elizabeth I.
A Rainha Victoria vai dar a ela o tão esperado Oscar de melhor atriz? Mereceria, pois está fantástica mais uma vez nos seus cenários reais. E o diretor Stephen Frears (“A Rainha” que deu o Oscar a Helen Mirren), consegue fazer um retrato íntimo da Rainha Victoria, como se entrasse na vida dela pela porta de sua condição humana e não como personagem da realeza.
Quando a vemos no filme pela primeira vez, ela está vestida de negro de viúva, brincos, colar, broche e tiara de diamantes. Mas as pedras brilham mais do que seus olhos, baixos, que só enxergam o prato que ela come vorazmente. A corte em volta da grande mesa do almoço que comemorava o Jubileu de Ouro, os 50 anos de seu reinado, tem que comer depressa, no ritmo da rainha.
Mas, quando se aproxima dela o garboso Abdul Karim (Al Fazal), um funcionário indiano escolhido para levar para a rainha uma moeda cerimonial, um “mohur”, seguido de outro indiano ambos em trajes de gala, o mais alto diz:
“- Um presente do Império da Índia. ”
E aquele jovem de 24 anos, dono de uma bela presença, comete o erro imperdoável, para o qual tinha sido avisado inúmeras vezes pelo cerimonial:
“- O mais importante é jamais olhar para a Rainha!”
Mas, voltando de costas como fora treinado, Abdul não somente olha mas sorri para aqueles olhos azuis penetrantes que o encaram.
E, no dia seguinte, na hora do café da manhã, o médico dr Reid (Paul Higgins) e os demais à volta da rainha, levam o primeiro susto:
“- Vossa Majestade gostou do “mohur”? ”
“ - Achei o mais alto tremendamente atraente !”
E convoca os dois indianos para sua criadagem particular durante todo o Jubileu.
Estamos em 1887 e a Rainha Victoria tinha 68 anos. Aquela troca de olhares durante o banquete fora o primeiro passo para uma relação íntima e duradoura que, por 14 anos, uniu a soberana com um simples indiano muçulmano, escrevente de uma prisão em Agra. Porque Abdul tinha tudo que a rainha precisava. Caloroso, doce e servil, falava bem e contava histórias que abriram um mundo para aquela senhora deprimida, gorda, cujos olhos não brilhavam há muito tempo. Ela o fez seu “munshi”, professor e guia espiritual.
E era tanta a intimidade dos dois que os ciúmes e a repulsa racista da corte interferiram cruelmente quando Victoria morreu em 1901. O filho Bertie (futuro Eduardo VII) e a família real fizeram desaparecer todos os indícios dessa relação, que ficou totalmente esquecida por 100 anos.
O roteiro do filme, escrito por Lee Hall, baseou-se no livro de 2010 do jornalista indiano Shrabani Basu que pesquisou e encontrou os diários de Abdul.
Aquela que foi a rainha com o mais longo reinado do Império Britânico, aparece aqui como uma inesperada figura nada politicamente correta, que ansiava por um pouco de calor humano, que era tudo que ela não tinha, rodeada que estava de pessoas frias que apenas exerciam suas funções bem remuneradas enquanto esperavam que ela morresse.

Comovente.

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