Direção: Laura Schroeder
Estamos num cenário onde o
feminino reina. Só elas tem direito ao jogo em curso. Uma disputa.
Tudo começa na tela com a
figura de uma moça que se confunde com Isabelle Huppert. É ela? Não é? É a
filha dela, Lolita Chammah, que se parece muito com a mãe.
Catherine, filha de Huppert
na vida real, também é filha de Elizabeth, a personagem de Isabelle Huppert no
filme “Barreiras”. Não descobriríamos logo esse detalhe importante se a
semelhança não fosse tamanha. É quase como se víssemos Isabelle Huppert em duas
fases da vida. É de propósito. Porque existe uma confusão na história. Quem é
quem aqui?
Isabelle Huppert aparece
depois que Catherine busca alguém numa escola de tênis. Uma partida entre duas
meninas acontece na quadra, onde ela se senta na plateia.
Atrás da rede Elizabeth, que
sempre foi professora de tênis, critica os erros e corrige os gestos de Alba
(Themis Pauwells), uma garota de 11 anos, magrinha, olhos claros, cabelos
presos numa trança. Mas quem é Elizabeth na vida de Alba?
Em outra cena, um senhor mais
velho pergunta a Catherine se viu a mãe dela:
“- Ela não atende ao
telefone...”
“- Mas ela não pode tratar
você assim! Você tem direito! ”
E vemos quando Catherine
encontra Alba no jardim da casa:
“- Sabe quem sou? ”
A menina quieta, baixa os
olhos.
“- Da última vez que nos
vimos, você era menor do que essa raquete. Vi você jogando lá no clube. Eu
também jogava mas desisti... Acha que vou embora de novo? ”
“- Não sei... Mas você não
tem nada a ver aqui ” e entra correndo na casa.
Vamos descobrir as relações
entre as três quando Catherine vai atrás de Alba e encontra Elizabeth
comandando exercícios abdominais da menina. Quando Elizabeth vê
Catherine, seu rosto mostra surpresa e cautela. E diz, depois de um silêncio:
“- Você usa vestido agora?
Fica bem em você. Também gosto do seu cabelo. É um prazer ver você. Vem
comigo”, diz levando Catherine para fora do quarto. E continua em outro tom,
bem mais frio:
“- Você devia ter prevenido
que vinha. Alba está se preparando para o campeonato. A viagem com você está
fora de questão. “
Então as gerações estão em
conflito. Compreendemos que Catherine, mãe de Alba, deixou a filha com a avó
Elizabeth. Por que? Ela tinha problemas. Drogas? Mãe solteira? Imaturidade? Não
sabemos. Só o que fica claro é a relação nada amistosa entre as duas.
A reaproximação entre mãe e
filha será difícil.
Elas tem muito a se dizer?
Não. Não viveram as experiências da vida juntas. E esse vazio entre elas
Catherine preenche com músicas que ela canta para Alba. Como se fossem
acalantos. E dançam, uma de frente para a outra.
Os vazios são também
preenchidos com belas imagens da floresta e do lago da barragem. Um corredor
para permitir a passagem dos peixes é metáfora para brechas nas barreiras entre
Catherine e Alba.
Mas como pode ser mãe quem
não foi filha? Um sonho de Catherine ilustra a distância e o estranhamento que
ela viveu com a mãe.
Há no filme uma lentidão que
pode irritar. A situação e a forma como foi tratada pela direção de Laura
Schroeder agradará a pessoas mais maduras. Os mais jovens podem se entediar.
Mas agora só o tempo e
paciência podem ajudar. Nada mais.
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