domingo, 26 de novembro de 2017

Barreiras


“Barreiras”- “Barrage”, Luxemburgo, Bélgica, França, 2017
Direção: Laura Schroeder

Estamos num cenário onde o feminino reina. Só elas tem direito ao jogo em curso. Uma disputa.
Tudo começa na tela com a figura de uma moça que se confunde com Isabelle Huppert. É ela? Não é? É a filha dela, Lolita Chammah, que se parece muito com a mãe.
Catherine, filha de Huppert na vida real, também é filha de Elizabeth, a personagem de Isabelle Huppert no filme “Barreiras”. Não descobriríamos logo esse detalhe importante se a semelhança não fosse tamanha. É quase como se víssemos Isabelle Huppert em duas fases da vida. É de propósito. Porque existe uma confusão na história. Quem é quem aqui?
Isabelle Huppert aparece depois que Catherine busca alguém numa escola de tênis. Uma partida entre duas meninas acontece na quadra, onde ela se senta na plateia.
Atrás da rede Elizabeth, que sempre foi professora de tênis, critica os erros e corrige os gestos de Alba (Themis Pauwells), uma garota de 11 anos, magrinha, olhos claros, cabelos presos numa trança. Mas quem é Elizabeth na vida de Alba?
Em outra cena, um senhor mais velho pergunta a Catherine se viu a mãe dela:
“- Ela não atende ao telefone...”
“- Mas ela não pode tratar você assim! Você tem direito! ”
E vemos quando Catherine encontra Alba no jardim da casa:
“- Sabe quem sou? ”
A menina quieta, baixa os olhos.
“- Da última vez que nos vimos, você era menor do que essa raquete. Vi você jogando lá no clube. Eu também jogava mas desisti... Acha que vou embora de novo? ”
“- Não sei... Mas você não tem nada a ver aqui ” e entra correndo na casa.
Vamos descobrir as relações entre as três quando Catherine vai atrás de Alba e encontra Elizabeth comandando exercícios  abdominais da menina. Quando Elizabeth vê Catherine, seu rosto mostra surpresa e cautela. E diz, depois de um silêncio:
“- Você usa vestido agora? Fica bem em você. Também gosto do seu cabelo. É um prazer ver você. Vem comigo”, diz levando Catherine para fora do quarto. E continua em outro tom, bem mais frio:
“- Você devia ter prevenido que vinha. Alba está se preparando para o campeonato. A viagem com você está fora de questão. “
Então as gerações estão em conflito. Compreendemos que Catherine, mãe de Alba, deixou a filha com a avó Elizabeth. Por que? Ela tinha problemas. Drogas? Mãe solteira? Imaturidade? Não sabemos. Só o que fica claro é a relação nada amistosa entre as duas.
A reaproximação entre mãe e filha será difícil.
Elas tem muito a se dizer? Não. Não viveram as experiências da vida juntas. E esse vazio entre elas Catherine preenche com músicas que ela canta para Alba. Como se fossem acalantos. E dançam, uma de frente para a outra.
Os vazios são também preenchidos com belas imagens da floresta e do lago da barragem. Um corredor para permitir a passagem dos peixes é metáfora para brechas nas barreiras entre Catherine e Alba.
Mas como pode ser mãe quem não foi filha? Um sonho de Catherine ilustra a distância e o estranhamento que ela viveu com a mãe.
Há no filme uma lentidão que pode irritar. A situação e a forma como foi tratada pela direção de Laura Schroeder agradará a pessoas mais maduras. Os mais jovens podem se entediar.

Mas agora só o tempo e paciência podem ajudar. Nada mais.


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