“Os Meyerowitz: Família não se escolhe”- “ The Meyerowitz
Stories”, Estados Unidos, 2017
Direção: Noah Baumbach
Infelizmente, a Netflix não prima pela qualidade dos filmes.
A maioria é descartável, mero passatempo. Certo, há um público para um
cinema-diversão em casa. Mas não é uma boa alternativa para os filmes em cartaz
nos cinemas, a não ser para pessoas que não tem escolha.
Por isso, esse filme é uma exceção bem vinda.
“Os Meyerowitz” é dirigido por Noah Baumbach, 49 anos,
responsável pelo delicioso “Frances Ha” de 2012 e “Enquanto Somos jovens” de
2015. Roteirista inteligente, com um humor fino e personagens nunca rasos, foi
indicado ao Oscar por melhor roteiro original do seu filme “A Lula e a
Baleia”de 2005.
Aqui ele conta a história de uma família que tem Dustin
Hoffman, 80 anos, como um escultor que vive em Nova York e que não teve o
sucesso que achava que merecia. Ele sempre se viu mais como artista do que como
pai ou marido.
Professor aposentado, dono de uma única peça “lendária”,
parece que adquirida e perdida no acervo do MoMA, seu ego enorme o protege da
decepção no balanço de sua vida.
Já os três filhos, gerados em casamentos com mães
diferentes, reclamam entre si da falta de atenção do pai deles, do egoísmo e da
falta de acolhimento. São adultos, mas excetuando o mais moço (Ben Stiller),
bem sucedido como empresário em Los Angeles, os outros dois (Adam Sandler e
Elizabeth Marvel) sentem-se fracassados. São aquele tipo de flho que culpa o
pai e a mãe por sua vida chata e não gloriosa, prato cheio para um bom
terapeuta.
Os atores são todos de primeira linha, criando uma família
disfuncional em torno ao pai, casado com uma Emma Thompson engraçada, sempre um
trago a mais do que deveria, mas, em tese, recuperando-se do vício com uma
versão própria dos Alcoólicos Anônimos.
Até Candice Bergen, numa ponta, faz lembrar a mulher
belíssima e boa atriz que ela continua a ser.
Adam Sandler, em especial, está ótimo e convincente como
Danny, o filho mais velho, que manca por causa de um quadril que ele evita
tratar, preferindo chamar a atenção por esse defeito. É o que se considera mais
injustiçado pelo pai que prefere o mais novo, à sua maneira distraida. Para
compensar não ser o filho mais amado, acha que faz o melhor amigo e pai de sua
filha Eliza (Grace Van Patten), uma mocinha que tem a maior paciência com os
parentes e se dedica a fazer filminhos na faculdade de cinema, quase
pornográficos, com personagens surreais.
No lançamento do filme no Festival de Cannes desse ano, Noah
Baumbach disse que “Os Meyerowitz” não era para ser um produto Netflix mas que
foi comprado na pós-produção e que ele tinha sido muito bem cuidado.
Bom sinal. Será que a Netflix está acordando para a
qualidade de conteúdo de seus filmes? Tomara.
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