“Na Praia à Noite Sozinha”-
“On the Beach at Night Alone”, Coréia do Sul, 2017
Direção: Hong Sang-soo
Talvez seja interessante que
o espectador saiba, antes de ir ao cinema, de alguns detalhes que fazem desse
filme uma obra extremamente pessoal. Porque tem tudo a ver com a vida do famoso
diretor sul-coreano que tem participado de todos os festivais importantes.
O último filme dele que vimos
por aqui foi “Certo Agora, Errado Antes” de 2015 (minha resenha foi publicada
em 25 de maio de 2016). O filme ganhou o Leopardo de Ouro em Locarno, e deu o
prêmio de melhor ator para Jung JaeYoung, que faz um diretor de cinema.
Em entrevistas nessa época, o
diretor de 56 anos contou como gosta de trabalhar. Ele se inspira com pouca
coisa no início da filmagem e vai construindo a história a cada dia que passa.
Bem, não deve ter sido assim
em “Na Praia à Noite Sozinha”. Porque o que contaram os tabloides coreanos é
que a jovem e famosa atriz Kim Min-hee (que fez a garota artista por quem o
diretor casado se apaixona em “Certo Agora, Errado Antes”e estrela de
“Handmaiden - A Criada” de outro famoso diretor sul-coreano Park Chan- Wook)
seria o pivô de uma separação. O diretor e sua atriz teriam se apaixonado e a
mulher dele negara o divórcio, esperando ele voltar para a casa.
O certo é que o par viajou
pelos Estados Unidos fugindo dos “paparazzi” e só depois de algum tempo houve
uma separação amigável dando fim ao caso.
Ora, quem for ver “Na Praia à
Noite Sozinha”, exibido em Berlim e que deu o Urso de Prata de melhor atriz
para Kim Min-hee, 35 anos, vai ver o que o diretor Hong San-soo fez com essa
história de um amor que ele viveu com sua atriz.
Ela faz o papel dela mesmo,
corajosamente, com outro nome, Young-hee e a vemos em Hamburgo para onde viajou
para tentar esquecer um caso que estava vivendo com um homem casado.
A vemos conversando com sua
amiga Jee-Young (Seo Younghwa, que também foi do elenco de “Certo Agora, Errado
Antes”), que sabe de tudo mas é discreta. Notamos preocupação nela, que é mais
velha e percebe o desespero da jovem. Elas passeiam por uma Hamburgo de ruas
cinzentas, parques vazios e uma praia no inverno.
Uma grave depressão ronda a
atriz famosa. Ao ver uma ponte que deve atravessar, ela para e ajoelha-se
curvando até o chão, como se rezasse. E na praia prateada e gelada, vemos um
homem levando embora a jovem inerte nas costas. Sem mais explicações.
O filme é dividido em duas
partes, com elencos de apoio diferentes. Ela volta para seu país e a história
vai ficando cada vez mais tensa. Num jantar com a equipe técnica de um filme
que está sendo rodado ali, perto de Seul, numa outra praia de ondas verdes, há a
esperada explosão.
A imagem da bela e angustiada
atriz deitada na praia, adormecida, talvez mostre uma saída para sua depressão.
Ao vivenciar intimamente sua
dor ela desperta. Agora, ao invés de ser levada como morta nas costas de um
homem, como na primeira parte do filme, mais madura, ela não responde ao apelo
mortal do homem cinzento no terraço do hotel e caminha com seus próprios pés.
Libertou-se daquilo que ela
mesma chama de auto-destrutividade? Parece.
Um filme que começa na
superfície e vai aprofundando para que o diretor possa nos mostrar o íntimo de
sua personagem, que foi um dia sua bem amada.
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