“Churchill”- Idem, Reino
Unido, 2017
Direção: Jonathan Teplitzky
Todo mundo sabe o importante
papel desempenhado por Winston Churchill (1974-1965) na história da Inglaterra
no século XX. Mas poucos se debruçaram sobre o significado de sua atuação nos
dias que antecederam o dia D da Segunda Guerra.
Esse episódio foi o escolhido
pelo diretor canadense Jonathan Teplitzky para seu filme “Churchill” que chamou
para escrever o roteiro o historiador neo-zelandês, Alex von Tunzelmann.
Aos 70 anos de idade, a 96 horas da Operação Overlord, o Dia D, marcado para 6 e
junho de 1944 e que seria a invasão da Normandia pelos Aliados, o grande homem
se debate em dúvidas.
O vemos, na pessoa do ótimo
ator escocês Brian Cox, numa praia, de sobretudo, chapéu e o inseparável
charuto, olhando as águas do mar que se tornam vermelhas com o sangue derramado
pelos soldados em Galipoli, Turquia. Churchill volta a pensar nessa campanha da
Primeira Guerra, liderada por ele, em 1915, que provocara a morte de 50.000
britânicos e franceses.
Esse episódio volta à sua
mente, como um fantasma macabro, para assombrar o grande homem. Ele tinha 41
anos de idade e ordenara o desembarque maciço, como Primeiro Lorde do
Almirantado. E a vitória fora dos otomanos.
A Operação Overlord se
assemelha em tudo a essa derrota sangrenta na mente de Churchill, agora aos 70
anos de idade. E ele hesita e vive em pesadelos.
A cena da praia termina em
preto e branco, ele andando entre corpos de homens mortos e arame farpado.
Haveriam razões objetivas
para que Churchill temesse o pior?
Era um plano arriscado, sem
dúvida, e os ingleses tinham vivido a derrota em Dunquerque, duro golpe para
Churchill. Mas o general americano Dwight Eisenhower (John Slatery) e o
marechal britânico Bernard Montgomery (Julian Wadham) acreditavam que seria
possível fazer a invasão e vencer as tropas nazistas, libertando assim a França
da ocupação alemã.
De que outra ordem poderiam
ser as angústias de Churchill? Talvez ele temesse sofrer em sua reputação com a
derrota. Como acontecera depois de Galipoli. Poderíamos também pensar numa espécie
de preconceito contra os americanos. E temor pela juventude inexperiente dos
homens que teimavam em levar a cabo a Operação Overlord.
Mas qual seria o fator
principal que sustentava sua teimosa resistência? Aquele era um momento crucial
da Segunda Guerra que coincidiria com um momento também crucial na vida daquele
homem. A preocupação com a morte dos soldados encobriria uma angústia de ordem
pessoal. Tratava-se do momento em que se esbarra na própria fragilidade humana
e mortalidade certa. Há sempre um momento assim na vida e todos nós.
A insensatez de Churchill
querendo assistir pessoalmente à invasão do Dia D, depois de derrotado na mesa
do alto comando, poderia indicar um movimento regido pela culpa que ronda e que
aponta o castigo.
Felizmente, numa cena
preciosa, o então rei George VI (James Purefoy, ótimo) proíbe com delicadeza
real que o Primeiro Ministro da Inglaterra se exponha ao perigo com tanta
temeridade.
E ele estava errado, como
sabem todos. O dia D foi um sucesso que determinou o começo do fim da guerra.
Talvez só a própria mulher de
Churchill, Clementine (Miranda Richardson), tenha percebido a origem daquela
teimosia e das visões macabras do marido.
O certo é que ele não perdeu
importância depois daqueles quatro dias de tortura e continuaria a ser o líder
que a Inglaterra respeitava, reconhecendo nele um dos principais responsáveis
pela vitória dos Aliados na Segunda Guerra.
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