domingo, 8 de outubro de 2017

Churchill


“Churchill”- Idem, Reino Unido, 2017
Direção: Jonathan Teplitzky

Todo mundo sabe o importante papel desempenhado por Winston Churchill (1974-1965) na história da Inglaterra no século XX. Mas poucos se debruçaram sobre o significado de sua atuação nos dias que antecederam o dia D da Segunda Guerra.
Esse episódio foi o escolhido pelo diretor canadense Jonathan Teplitzky para seu filme “Churchill” que chamou para escrever o roteiro o historiador neo-zelandês, Alex von Tunzelmann.
Aos 70 anos de idade, a 96 horas da Operação Overlord, o Dia D, marcado para 6 e junho de 1944 e que seria a invasão da Normandia pelos Aliados, o grande homem se debate em dúvidas.
O vemos, na pessoa do ótimo ator escocês Brian Cox, numa praia, de sobretudo, chapéu e o inseparável charuto, olhando as águas do mar que se tornam vermelhas com o sangue derramado pelos soldados em Galipoli, Turquia. Churchill volta a pensar nessa campanha da Primeira Guerra, liderada por ele, em 1915, que provocara a morte de 50.000 britânicos e franceses.
Esse episódio volta à sua mente, como um fantasma macabro, para assombrar o grande homem. Ele tinha 41 anos de idade e ordenara o desembarque maciço, como Primeiro Lorde do Almirantado. E a vitória fora dos otomanos.
A Operação Overlord se assemelha em tudo a essa derrota sangrenta na mente de Churchill, agora aos 70 anos de idade. E ele hesita e vive em pesadelos.
A cena da praia termina em preto e branco, ele andando entre corpos de homens mortos e arame farpado.
Haveriam razões objetivas para que Churchill temesse o pior?
Era um plano arriscado, sem dúvida, e os ingleses tinham vivido a derrota em Dunquerque, duro golpe para Churchill. Mas o general americano Dwight Eisenhower (John Slatery) e o marechal britânico Bernard Montgomery (Julian Wadham) acreditavam que seria possível fazer a invasão e vencer as tropas nazistas, libertando assim a França da ocupação alemã.
De que outra ordem poderiam ser as angústias de Churchill? Talvez ele temesse sofrer em sua reputação com a derrota. Como acontecera depois de Galipoli. Poderíamos também pensar numa espécie de preconceito contra os americanos. E temor pela juventude inexperiente dos homens que teimavam em levar a cabo a Operação Overlord.
Mas qual seria o fator principal que sustentava sua teimosa resistência? Aquele era um momento crucial da Segunda Guerra que coincidiria com um momento também crucial na vida daquele homem. A preocupação com a morte dos soldados encobriria uma angústia de ordem pessoal. Tratava-se do momento em que se esbarra na própria fragilidade humana e mortalidade certa. Há sempre um momento assim na vida e todos nós.
A insensatez de Churchill querendo assistir pessoalmente à invasão do Dia D, depois de derrotado na mesa do alto comando, poderia indicar um movimento regido pela culpa que ronda e que aponta o castigo.
Felizmente, numa cena preciosa, o então rei George VI (James Purefoy, ótimo) proíbe com delicadeza real que o Primeiro Ministro da Inglaterra se exponha ao perigo com tanta temeridade.
E ele estava errado, como sabem todos. O dia D foi um sucesso que determinou o começo do fim da guerra.
Talvez só a própria mulher de Churchill, Clementine (Miranda Richardson), tenha percebido a origem daquela teimosia e das visões macabras do marido.
O certo é que ele não perdeu importância depois daqueles quatro dias de tortura e continuaria a ser o líder que a Inglaterra respeitava, reconhecendo nele um dos principais responsáveis pela vitória dos Aliados na Segunda Guerra.


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