“Divórcio”, Brasil, 2017
Direção: Pedro Amorim
Uma caminhonete vermelha voa
pelas estradas de terra em Ribeirão Preto. Estamos em 1997.
Como é que é? O motorista
está guiando com as duas mãos amarradas? Ele tira a corda com os dentes, sem
diminuir a velocidade.
Corta para a cena de um
casamento ao ar livre numa fazenda. A noiva caminha triste e lentamente para o
altar, onde a espera um noivo de chapéu texano e terno com colete.
Mas eis que surge o rapaz da
caminhonete à toda e arrebenta o enorme bolo, passando por cima, sem dó nem
piedade.
“- Noeli? ”grita o moço
(Murilo Benício).
“- Júlio! “ responde a noiva
(Camila Morgado, ótima).
O pai da noiva está espumando
de raiva e pergunta aos seus capangas:
“- Como é que ele escapou?
Seu carioquinha de ...”e solta o palavrão.
E, enquanto os dois fogem na
caminhonete, o pai amaldiçoa:
“- Noeli, você morreu para
essa família! ”
Ela joga o véu pela janela.
Tudo isso ao som da canção
sertaneja “Evidências”, que vira rock na voz de Paula Fernandes.
Esse é o início de um filme
brasileiro que me fez dar boas risadas. Fato inédito. Porque não costumo ver
muitas comédias, brasileiras principalmente. Não aguento as piadas
escatológicas, nem o mau gosto do palavreado. Posso estar errada mas tem sido
assim com raras exceções.
Resolvi ver “Divórcio” porque
falaram bem do filme. E, realmente, posso dizer que é uma comédia divertida e
bem realizada.
O diretor Pedro Amorim, 40
anos, formado em cinema pela New York University, acertou em cheio ao escolher
a dupla de atores Camila Morgado e Murilo Benício para interpretar o casal
caipira e pobrinho , que fica rico com um molho de tomate enlatado, receita
secreta da família de Noeli, que vira o queridinho dos brasileiros. Noeli na
lata.
Mas junto com a fortuna
vieram também as reclamações e o tédio no casamento. Júlio reclama de Noeli,
perguntando a toda hora “quanto custou? ”. Tem uma risada irritante e adora
carros grandões. Noeli, além das duas filhas do casal, tem paixão por sua
coleção de sapatos Loboutin caríssimos, lindamente expostos num “closet” tão
grande quanto uma loja e também tem uma risada roncada que lhe valeu o apelido
de “Porquinha”, desde a escola.
O casal acaba num divórcio
litigioso com cenas hilárias, protagonizadas por eles e seus advogados famosos
por suas causas milionárias, que só enriquecem a eles mesmos (André Mattos e
Angela Dippe).
O elenco de apoio tem uma
revelação no ator Gustavo Vaz que faz o ex colega de Noeli, apaixonado por ela
desde a escola e que virou o cantor sertanejo Catanduva. Sem esquecer de
Luciana Paes que faz a engraçada amiga de Noeli.
O filme tem ritmo e um
roteiro bem bolado de Paulo Cursino que explora desde o novo-riquismo, passando
pelas excentricidades do mundo brega sertanejo, indo parar até nas celas de uma
prisão e seus absurdos.
“Divórcio” faz graça em cenas
divertidas mas nunca debochadas. E esse é o acerto maior do filme, que não
precisa ridicularizar ninguém, nem cair no mau gosto para conseguir fazer a
plateia rir.
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