Direção: Hugo
Prata
Acho que todos os que viveram a época
que o filme “Elis” retrata, dos anos 60 a começo dos anos 80, lembram-se bem da
primeira vez que ouviram a voz de Elis Regina.
Eu estava fazendo a lição do colégio
e ouvindo o programa “Pick-Up do Picapau”no rádio:
“- Menina, você vai ser a maior
cantora do Brasil!”, vaticinou ele, que tocava no seu programa à tarde o que de
melhor havia na música brasileira.
Elis (1945-1982), veio do sul, Porto
Alegre, e chegou ao Rio com seu pai, no dia depois do golpe militar de 1964. Com
o dinheiro contado, ganho em shows desde os 13 anos de idade, aquela menina
viera ao Rio tentar a sorte e mostrar a voz que tinha.
E o filme dirigido por Hugo Prata
conta a trajetória dela, desde o Beco das Garrafas, passando pela TV, maridos e
filhos, alegrias e tristezas, até o final, aos 36 anos de idade, misturando
muita cocaína com álcool.
Como não se emocionar com a recriação
do festival da TV Excelsior em 1965 quando ela cantou “Arrastão”de Vinicius de
Moraes e Edu Lobo?
Quem era jovem não perdia o “Fino da
Bossa”, comandado por ela e Jair Rodrigues. A gesticulação com os braços, o
sorriso grande e aquela voz que ninguém esquece.
Depois, veio o casamento com Ronaldo
Bôscoli em 1967, o primeiro filho, shows em Paris e o
sucesso.
Há quem ache o filme superficial e o
acusam de não ir fundo nos conflitos que ela viveu. Pode ser mas quem viveu o
tempo dela não estranha o filme, ao contrário, se emociona lembrando dela e de
nós mesmos naquela época.
Andreia Horta, que vive a personagem,
o faz com tal talento, que a impressão é ver Elis rediviva. Dubla com perfeição
e não imita o mito, traz Elis de novo para nossos olhos e
ouvidos.
Há uma reconstituição de época
primorosa e o elenco que traz à frente Lucio Mauro Filho como Miéle e Gustavo
Machado como o “Velho”, apelido de Ronaldo Bôscoli, é
excelente.
Com o segundo marido, César Camargo
Mariano (Caco Ciocler) que durou de 1972 a 1981, há momentos de grande beleza e
descobertas musicais que fazem juntos e que são de grande qualidade cênica e
muito bem exploradas pela câmara, como na cena perto dos rostos dos dois no
piano.
Lenny Dale (Julio Andrade) não dança
mas convence na figura daquele que ensinou Elis a mexer o corpo e criar sua
marca registrada, o movimento dos braços. É ele que ela visita na prisão da
ditadura, que a envolveu num dos piores momentos da vida dela e que levou a
vaias durante shows e a pecha de colaborar com os
militares.
O repertório escolhido traz quase
todos os sucessos dela, a começar por “Como nossos pais”que Andreia Horta dubla
em silhueta, à inesquecível interpretação de “Atrás da Porta”de Chico Buarque e
“O Bêbado e o Equilibrista”de João Bosco e Aldir Blanc que virou um hino contra
a ditadura militar.
Certamente aquela que muitos
consideram a maior cantora do Brasil merece outros filmes, porque há muito o que
contar sobre ela e o Brasil onde ela viveu.
Mas esse “Elis”de Hugo Prata já é um
bom começo.
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