Direção: Matt Ross
A primeira cena é assustadora. Um cervo pasta
tranquilo na floresta. Mal sabe o que o espera. Escondida na folhagem, uma cara
pintada de preto, espreita. E, sem alarde, corta o pescoço do animal com uma
faca.
Não se assuste como eu. Trata-se de uma família
que vive à maneira de uma tribo de selvagens. Caçam a própria comida, plantam e
colhem legumes e frutas, dormem sob as estrelas e não tem laços com a sociedade
de consumo.
Mas, longe de ser ignorantes, sabem muito mais
do que os meninos e as meninas que vão a escolas tradicionais. As crianças dessa
família aprendem com o pai e com a mãe, professores instruídos em filosofia,
matemática, física, política, história, poesia e literatura. Tem acesso a uma
biblioteca eclética e sabem quem é Noam Chonsky, além de falar diversas
línguas.
Ben Cash (Viggo Mortensen, ótimo) zela pela
saúde e treinamento de seus filhos, verdadeiros atletas, tanto os três meninos
quanto as três meninas, assim como cultiva o intelecto deles.
Com a mãe, Leslie, afastada da família por uma
grave doença, o pai lidera e é obedecido cegamente, porque as crianças sabem que
existe amor em tudo que o pai faz com eles. São felizes.
Quando algo triste acontece, aquelas crianças
vão conhecer o mundo onde os outros americanos vivem e vão se espantar em como
são gordos e como colecionam coisas de que não precisam.
Na casa dos avós maternos vão entrar em contato
com o jeito americano de viver e até gostar de algumas coisas.
E aí emerge um conflito entre o modo de vida
que sempre conheceram e as novidades que a avó e o avô (Frank Langella, sempre
perfeito) proporcionam.
O filme é divertido, original, inteligente e
tem roteiro e direção de Matt Ross, que disse ter se inspirado em sua própria
infância e no fato de ter se tornado pai, para fazer esse filme.
Quando recebeu o sim de Viggo Mortensem (já
indicado ao Globo de Ouro), que considerava o ator ideal para interpretar o pai,
tudo estava a postos para rodar seu segundo longa, que ganhou o prêmio de
direção na mostra “Um Certain Régard” no Festival de Cannes.
Com uma história simples e uma boa direção,
“Capitão Fantástico” levanta questões sobre o papel de pai e mãe, faz críticas aos valores de nossa sociedade de
consumo, muito dependente de tecnologia e certamente condena o modo raso como
estamos educando nossas crianças, sem dar a elas a capacidade de fazer escolhas
diferentes em seu modo de vida.
É um filme que mostra o valor da liberdade na
escolha informada do modo de viver de cada um. E que não obriga à unanimidade.
Ao contrário, acolhe o que pode parecer excêntrico para alguns mas a escolha
certa para outros.
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