Direção: Isabel
Coixet
Juliette Binoche, 52 anos, talentosa
e carismática, é daquelas atrizes que gostam de escolher figuras femininas
fortes, ou que impressionem por algo dramático, para interpretá-las no
cinema.
Isabel Coixet, catalã, 56 anos, é uma
das mais importantes diretoras de cinema da Espanha. Foi ela que apresentou
Binoche a Josephine Peary (1863-1955), uma dama da alta burguesia de Washington,
casada com o famoso explorador do Ártico, Robert Peary (1856-
1920).
“Ninguém Deseja a Noite” inspira-se
na figura da mulher do homem que disse ter chegado em primeiro lugar ao Polo
Norte em 1909, fato depois contestado por Frederick Cook que afirmava ter
chegado antes, em 1908. Até hoje há controvérsias. Mas parece que Peary foi
realmente o primeiro a chegar ao Polo Norte.
Josephine acompanhou o marido em seis
de suas expedições e foi a primeira mulher a fazer isso. Era chamada de a
”Primeira Dama” do Ártico. Deu a luz à sua filha, que nasceu em plena paisagem
de gelo, muito próxima ao Polo Norte. A bebê era chamada de “Snow Baby - O bebê
da Neve” e serviu de tema para um livro escrito por sua mãe em 1901, com esse
título. Além desse, Josephine escreveu mais dois livros: “My Artic Journal”1893
e “Children of the North”em 1903.
O filme de Isabel Coixet inspirou-se
nessa figura de mulher mas se valeu de uma liberdade poética. Transformou a
esposa do explorador em companheira de 18 semanas de inverno polar da innuit
Allaka (Rinko Kikuchi), que Josephine não sabia, mas era a amante de seu marido,
de quem esperava um filho.
Vemos na tela uma mudança radical de
postura em Josephine Peary. De uma mulher segura de si, arrogante mesmo, que
pensa ter força suficiente para enfrentar o inverno de seis meses sem sol e
propõe-se a esperar o marido sozinha em um acampamento precário até sua volta do
Polo norte, ela vira outra pessoa.
No início, vestida de veludo
vermelho, gola de raposa prateada, chapéu de astracã preto e coberta de peles, lá vai
Josephine em seu trenó puxado por cães, com o guia Bram (Gabriel Byrne). Em
outros dois trenós seguiam esquimós, um deles a moça
Allaka.
A natureza selvagem e de extremos que
Josephine pensa que vai conseguir enfrentar, mostra-se muito mais terrível do
que ela imaginava. A mocinha esquimó, no começo desprezada pela americana, vai
desempenhar um papel importante na convivência das duas, que marca uma
humanização de Josephine, que vai precisar da simplicidade de Allaka e de seu
coração solidário. Mais que tudo, vai precisar dos conhecimentos de
sobrevivência que Allaka conhece.
Imagens belíssimas da paisagem
desértica e escura do inverno polar mostram a pequenez do ser humano naquele
cenário sem luz, só sombras. Tanto fora quanto dentro da pequena cabana ou do
iglú de Allaka, o clima é de claustrofobia, já que a natureza as capturou numa
armadilha, impedindo que possam sair de lá.
Só a solidariedade pode salvá-las e,
acreditando estar perto da morte, Josephine descobre a própria humanidade e a de
Allaka, igualadas no sofrimento e medo.
O filme é difícil de ver por essa
angústia de morte próxima num deserto gelado. Mas vale a pena pela atuação
magnífica de Binoche e de Kikuchi e pela beleza terrível de uma natureza que
raros humanos conhecem. Algo assustador mas também de uma tal grandiosidade que
fascina.
Um filme
raro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário