Direção: Stephen
Frears
Uma americana rica e carente, completamente iludida
quanto a si própria, é tema de dois filmes que estão em
cartaz.
O francês “Marguerite”, dirigido por Xavier Gianoli, 44
anos e com a magnífica atriz Catherina Frot, que ganhou o César, o Oscar
francês, por esse papel, é anterior ao de Stephen Frears, 75 anos, consagrado
diretor inglês.
No primeiro, a história se passa nos “anos loucos” em
Paris, logo depois da Primeira Guerra. A intenção é menos biografar do que
inspirar-se na história para fazer uma crítica ao poder do dinheiro e à
hipocrisia dos que bajulavam e viviam dos favores da cantora desafinada, que se
considerava uma soprano coloratura. Há uma melancolia fatal na Marguerite que
canta para não enlouquecer.
Já o filme de Frears, que trabalhou também em Hollywood
(“Ligações Perigosas”1988) e dirigiu sucessos como “A Rainha”2006 e
“Philomena”2013, é a biografia de Florence Foster Jenkins (1868-1944), a
americana rica e patética, interpretada pela também magnífica Meryl Streep, na
sua provável vigésima indicação ao Oscar.
Numa produção cara, com esmerada reprodução dos anos 40
em Nova York, apesar de filmado na Inglaterra, a melancolia aparece apenas em
uma cena mas os risos exagerados, seguidos de aplausos idem, dão o tom de
comédia procurado pelo diretor.
Meryl Streep, toda acolchoada para parecer gorda, veste
modelos impagáveis, de Consolata Boyle, ornados com pencas de detalhes
espalhafatosos como plumas, chapéus extravagantes, coroas e tiaras, broches
enormes, colares de ouro, de pedras e pérolas, muitas pérolas, entremeadas de
cristais.
A sobriedade excêntrica de Marguerite, baronesa francesa
de título comprado, não é motivo de riso mas a americana Florence de Meryl
Streep é uma piada visual pronta.
Quando esta última desafina, quem produz os grunhidos e
as notas falsas é a própria Meryl Streep, que sabe cantar muito bem e aproveita
desse seu dom para adoçar o final do seu filme.
Mas tem uma coisa em “Florence Foster Jenkins” que não
tem em “Marguerite”: Mr St. Clair Bayfield. Hugh Grant, com aquele sotaque
inglês irresistível, no melhor papel de sua vida, faz um filho bastardo de um
lorde que não tem lugar na Inglaterra e vem tentar ser ator na América. Medíocre
na recitação de versos de Shakespeare, ele é o suprasumo de marido para
Florence. Além de pagar muito bem os aplausos e as críticas favoráveis, com o
dinheiro dela, ele a protege, mima de todos os jeitos, dá conselhos nem sempre
acatados, com um afeto que comove. Hugh Grant interpreta o mais amoroso dos
maridos com perfeição. Ele convence. E está mais charmoso do que
nunca.
Simon Helberg, que faz com talento o pianista de
Florence, tem uma mímica facial que dispensa os comentários que passam por sua
cabeça a respeito dos dotes da patroa e, envergonhado a princípio, vê-se
irremediavelmente conquistado pela ingenuidade, generosidade e bom coração da
dama em questão.
Tanto a fábula francesa como a comédia inglesa apesar do
mesmo tema, são bem diferentes e merecem ser vistos.
E, definitivamente, tornaram Florence Foster Jenkins, a
pior cantora lírica do mundo, muito conhecida também pelas plateias de cinema,
já que na Broadway e em West End ela já foi personagem de musical de
sucesso.
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