terça-feira, 2 de agosto de 2016

Florence : quem é essa mulher?


“Florence: quem é essa mulher?”- “Florence Foster Jenkins”, Inglaterra, 2016
Direção: Stephen Frears

Uma americana rica e carente, completamente iludida quanto a si própria, é tema de dois filmes que estão em cartaz.
O francês “Marguerite”, dirigido por Xavier Gianoli, 44 anos e com a magnífica atriz Catherina Frot, que ganhou o César, o Oscar francês, por esse papel, é anterior ao de Stephen Frears, 75 anos, consagrado diretor inglês.
No primeiro, a história se passa nos “anos loucos” em Paris, logo depois da Primeira Guerra. A intenção é menos biografar do que inspirar-se na história para fazer uma crítica ao poder do dinheiro e à hipocrisia dos que bajulavam e viviam dos favores da cantora desafinada, que se considerava uma soprano coloratura. Há uma melancolia fatal na Marguerite que canta para não enlouquecer.
Já o filme de Frears, que trabalhou também em Hollywood (“Ligações Perigosas”1988) e dirigiu sucessos como “A Rainha”2006 e “Philomena”2013, é a biografia de Florence Foster Jenkins (1868-1944), a americana rica e patética, interpretada pela também magnífica Meryl Streep, na sua provável vigésima indicação ao Oscar.
Numa produção cara, com esmerada reprodução dos anos 40 em Nova York, apesar de filmado na Inglaterra, a melancolia aparece apenas em uma cena mas os risos exagerados, seguidos de aplausos idem, dão o tom de comédia procurado pelo diretor.
Meryl Streep, toda acolchoada para parecer gorda, veste modelos impagáveis, de Consolata Boyle, ornados com pencas de detalhes espalhafatosos como plumas, chapéus extravagantes, coroas e tiaras, broches enormes, colares de ouro, de pedras e pérolas, muitas pérolas, entremeadas de cristais.
A sobriedade excêntrica de Marguerite, baronesa francesa de título comprado, não é motivo de riso mas a americana Florence de Meryl Streep é uma piada visual pronta.
Quando esta última desafina, quem produz os grunhidos e as notas falsas é a própria Meryl Streep, que sabe cantar muito bem e aproveita desse seu dom para adoçar o final do seu filme.
Mas tem uma coisa em “Florence Foster Jenkins” que não tem em “Marguerite”: Mr St. Clair Bayfield. Hugh Grant, com aquele sotaque inglês irresistível, no melhor papel de sua vida, faz um filho bastardo de um lorde que não tem lugar na Inglaterra e vem tentar ser ator na América. Medíocre na recitação de versos de Shakespeare, ele é o suprasumo de marido para Florence. Além de pagar muito bem os aplausos e as críticas favoráveis, com o dinheiro dela, ele a protege, mima de todos os jeitos, dá conselhos nem sempre acatados, com um afeto que comove. Hugh Grant interpreta o mais amoroso dos maridos com perfeição. Ele convence. E está mais charmoso do que nunca.
Simon Helberg, que faz com talento o pianista de Florence, tem uma mímica facial que dispensa os comentários que passam por sua cabeça a respeito dos dotes da patroa e, envergonhado a princípio, vê-se irremediavelmente conquistado pela ingenuidade, generosidade e bom coração da dama em questão.
Tanto a fábula francesa como a comédia inglesa apesar do mesmo tema, são bem diferentes e merecem ser vistos.
E, definitivamente, tornaram Florence Foster Jenkins, a pior cantora lírica do mundo, muito conhecida também pelas plateias de cinema, já que na Broadway e em West End ela já foi personagem de musical de sucesso.



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