sábado, 27 de agosto de 2016

Café Society


“Café Society”- Idem, Estados Unidos, 2016
Direção: Woody Allen

Todo fã de Woody Allen sabe o gosto que dá ouvir as músicas de jazz instrumentais, enquanto na tela negra aparecem os créditos em letras brancas. Um ritual que nos prepara para todo filme do genial cineasta.
As cidades podem ser Paris, Roma, Londres ou Nova York e a época varia mas a sensação de prazer é sempre a mesma. Em “Café Society” não é diferente.
Vamos transitar entre o apartamento do jovem judeu Bobby Dorfman (Jesse Eisenberg, ótimo) e seus pais (Ken Stott e Jeanne Berlin, hilários), no Bronx, Nova York e a casa modernista do tio Phil (Steve Carell, cada vez melhor) em Los Angeles.
Instigado pela mãe, Bobby desiste de ser um ninguém em Nova York e parte para a costa leste, onde o tio Phil, agente de grandes nomes de Hollywood, vai acolher o sobrinho e arranjar algo para ele fazer. Ao redor da piscina azul do agente ilustre, rolam festas onde todos estão sob uma luz dourada de um eterno por do sol, desfilando roupas com toques dos anos 30 mas que poderiam ser usadas hoje.
E como o tio Phil é muito ocupado, com a agenda repleta de almoços, jantares e festas com gente importante, manda sua secretária Vonnie (Kristen Stewart, deliciosa) guiar o sobrinho pelos pontos turísticos da cidade. Ela é linda, jovem e usa com graça uma fita com lacinho no cabelo.
E, um clichê saboroso é encenado em torno a um triângulo inesperado.
Vonnie e Bobby, de tanto passear juntos, de amigos passam a namorados e ele planeja voltar para Nova York, casar com ela e ser feliz num apartamento em Greenwich Village:
“- Não vamos ser ricos mas felizes. Eu vou mimar você.”
Vonnie parece encantada mas há algo que a prende a um outro misterioso namorado. Ela não escondeu dele esse caso que já dura um ano.
“I Only Have Eyes for You” toca enquanto eles vão ao cinema, a um restaurantezinho mexicano e à praia, onde se amam numa cena perfeita em que uma caverna enquadra o mar e emoldura o par enamorado.
Mas, como sabemos, nada disso vai durar e só resta a Bobby lamentar que a vida é uma comédia, escrita por um comediante sádico.
O clichê vai até as últimas consequências e um desolado Bobby volta para Nova York para trabalhar com o irmão Ben (Corey Stol), um gangster sem escrúpulos, que vai ter um fim previsível, com um toque de humor negro preciso.
O “nightclub” do irmão é o lugar onde todos que contam estão se divertindo e daí o título do filme.
“I’ll take Manhattan” será a trilha musical para um reencontro de Bobby, já casado com outra Veronica (Blake Lively, bela), também apelidada Vonnie , com a primeira Vonnie. Linda a cena no Central Park onde a luz é branca e brilhante no mármore da ponte e no vestido dela (Vittorio Storaro é o fotógrafo, ganhador de três Oscars, impecável e inspirado).
Mas como diz a música “Anos Dourados” do Chico, “é desconcertante rever o grande amor”.
Woody Allen, 80 anos, está mais em forma do que nunca. Fazendo o narrador do filme, ele acrescenta inflexões próprias à história que está sendo contada. E é muito simpático ouvi-lo, como se fosse nosso amigo de longa data. Cria-se uma intimidade entre ele e a plateia.
Já sabíamos que Woody Allen é um romântico que não crê na vida eterna mas no grande amor que marca as pessoas justamente por não ter sido vivido.
Há beleza e saudades em “Café Society”, que abriu o Festival de Cannes desse ano e principalmente uma nostalgia dos nossos anos dourados.
“Café Society” é cheio de charme e imperdível.



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