“Francofonia: Louvre sob Ocupação”- “Francofonia”,
França, 2015
Direção: Aleksander Sokurov
“- E se o Louvre fosse mais valioso do que a própria
França?”, pergunta em meio a seu último filme, o brilhante diretor e roteirista
Aleksander Sokurov, que tem formação de historiador.
E sua tese é que não podemos viver sem museus porque é
lá que encontramos nossa história e identidade:
“- O Louvre fala dos homens. Do que
mais?”
Como narrador, o diretor caminha com a câmara pelos
corredores e salões do museu, inaugurado em 1793, capturando a beleza e a
grandiosidade das telas penduradas em suas paredes:
“- Tudo que existe está aqui. Um templo dedicado à
pintura”, exclama Sokurov, nesse original documentário com
ficção.
O primeiro grande quadro que vemos é de Géricault
(1791-1824), “Le Radeau de la Méduse – A balsa da Medusa”, pintado em 1818-1819.
É uma metáfora sobre o perigo de perdermos tudo: a arte e a
vida.
Sokurov contrapõe a essa metáfora do século XIX , a de
um navio em alto mar, que ele vê pelo Skype, em meio a uma tempestade. Grandes
ondas castigam a embarcação que leva uma preciosa carga de um museu em
“containers”. Diz o diretor:
“- Assim como o oceano, as forças da História não tem
piedade...”
Marianne (Johanna Korthas Altes), a mulher que simboliza
a França Republicana é perseguida por fantasmas nos corredores do Louvre e
repete sem cessar, assustada:
“- Liberté, egalité, fraternité”, o lema da Revolução
Francesa.
Napoleão (Vincent Nemeth) é outro personagem que anda
pelo Louvre mostrando a Sokurov tudo que ele pilhou em suas campanhas militares
em países longínquos.
“- Nenhuma cidade está a salvo de um
desastre.”
Com essa frase, o diretor introduz a história da
ocupação de Paris pelos alemães em 1940, quando foi considerada uma “cidade
aberta”. Conta sobre os franceses que lutaram, os que fugiram e os que se
resignaram.
Alemanha e França assinam um armistício mas quem garante
como vai se portar o invasor daquele centro de cultura que é
Paris?
Sokurov usa atores para encenar o episódio da salvação
das obras de arte do Louvre pelo diretor Jacques Jaujard
(1895-1967), ajudado pelo alemão responsável pela
conservação das obras de arte e monumentos dos países ocupados, Conde Franz von
Wolff Metternich (1893-1978).
Antes da ocupação, 6.000 caixotes contendo tudo que
havia no Louvre foi levado para lugares escolhidos. Só deixaram algumas
esculturas e os afrescos.
E quando Berlim pedia que o conde alemão trouxesse de
volta as obras de arte do Louvre, ele se valia da burocracia para impedir que os
poderosos que cercavam Hitler pilhassem o museu.
É um filme diferente do famoso “Arca Russa” de 2002 de
Sokurov no qual, em uma só tomada, conta a história da Rússia nos últimos 200
anos, filmando pelos salões do museu Hermitage, em São
Petersburgo.
“Francofonia”, onde Sokurov usa imagens de arquivo
alternadas com outra belíssimas que ele filma na atualidade, é um filme que
ensina não só a história do Museu do Louvre mas que traz reflexões de Alexander
Sokurov sobre a arte e seu papel na vida da humanidade.
Imperdível para quem ama a arte europeia e Paris, lugar
onde estão os seus maiores tesouros, no museu dos museus, o
Louvre.
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