Direção: Edward Zwick
No século passado, muita gente jogava xadrez, algo que
mudou totalmente. É um jogo difícil, que exige concentração, memória, poder de
antecipar os próximos movimentos do adversário porque é um jogo baseado na
lógica e horas de estudo dos jogos entre mestres para aprender aberturas e
táticas de defesa. Além disso , a criatividade é a marca dos
campeões.
Mas “O Dono do Jogo” dirigido por Edward Zwick, 63 anos,
de “Lendas da Paixão”1984 e “Diamante de Sangue” 2006, não é um filme sobre
xadrez. Trata-se de contar a ascensão e queda de uma celebridade, usada
politicamente pelos Estados Unidos em plena “guerra fria”, para derrotar os
soviéticos.
O menino judeu, nascido em Chicago em 1943, aparece em
1951, morando no Brookyn, em Nova York, com sua mãe judia-suíça, Regina (Robin
Weigert), naturalizada americana e sua irmã mais velha, Joan (Lily
Rabe).
Numa cena, vemos uma reunião de pessoas conversando
sobre política e comunismo. Bobby vê um carro estacionado em frente à casa e a
tela mostra que ele é fotografado. Quando corre para contar para a mãe, ela diz:
“- Um homem lá fora no carro? Eles querem bisbilhotar o
meu trabalho. Nunca responda nada a eles, Bobby. Coloque-o para dormir”, diz
para a filha.
Na verdade, a mãe de Bobby era mesmo vigiada pelo FBI
por causa de sua simpatia pelo comunismo.
E é um garoto assustado, de 8 anos, que não consegue
dormir, atento a barulhos e com o rostinho preocupado, que vemos valer-se de seu
tabuleiro de xadrez para refugiar-se em um mundo onde se sentia mais
protegido.
Mente brilhante, ele logo ganhava de todos os que se
reuniam nos clubes de xadrez de Nova York. Foi campeão americano 8 vezes, em
oito participações. A primeira vez que ganhou o título, em 1967, tinha 14 anos e
foi o mais jovem campeão americano.
Pouco tempo depois, assistimos a outra cena, em que ele
escuta barulhos que vem do quarto da mãe. Furioso, ele vai
interpelá-la:
“- E o meu pai? Ele existe? Não se
lembra?”
“- Ele foi embora”, responde a mãe querendo justificar a
presença de outro homem em sua cama.
“- Volte para Moscou com seus amigos comunistas! Eu
preciso de silêncio. Escuto vocês transando todas as noites! Preciso de
silêncio!” grita Bobby e histericamente expulsa os dois de
casa.
Essa necessidade de fechar-se num mundo silencioso tem
uma clara motivação sexual, com raízes em um complexo de Édipo complicado. Sua
mãe nunca contou a ele sobre seu pai e o menino se ressentia disso.
Ao longo do filme vamos ver Bobby interromper jogos para
exigir silêncio e mesmo quando conseguia, não se livrava dos barulhos em sua
cabeça.
Logo aparecem delírios persecutórios envolvendo russos e
judeus (apesar dele mesmo ser judeu). Há uma rebeldia e uma provocação frente à
autoridade que parecem vir de um menino carente de pai.
Seu treinador, o padre Bill Lombardy (Peter Sarsgaard,
excelente) e o advogado (Michael Stuhlborg), que viu em Bobby o potencial para
ser um campeão, conversam durante o ponto alto do filme, em 1972, Reykjávik,
Islândia, quando Bobby Fisher (Tobey Maguire, impecável) enfrenta o campeão
russo Boris Spassky (Liev Schreiber, soberbo), para quem ele havia perdido o
torneio em 1966, em Santa Monica. Desse jogo sairia o campeão do
mundo:
“- Ele tem medo de perder”, diz o
advogado.
“- Ele tem medo de ganhar e não saber o que virá
depois”, retruca o padre.
No final, vemos o próprio Bobby Fisher (considerado
pelos grandes mestres do xadrez o melhor enxadrista do século XX) uma figura
exótica, de cabelos e barba longos e brancos, chegando à Islândia em 2005, onde
viveu até sua morte em 2008, com apenas 68 anos.
Uma mente brilhante e uma pessoa enigmática.
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