sábado, 9 de abril de 2016

Desajustados



“Desajustados”- “Fúsi”, Islândia, Dinamarca
Direção: Dagur Kári

A câmara, lá do alto, mostra o aeroporto e o carrinho que transporta as bagagens. Parece um mundo de brinquedo. Mas quando se aproxima do condutor, ele é um homem imenso, de enorme corpanzil. A intenção é apontar a relatividade do tamanho? O engano de nossas percepções?
Dagur Kári, o diretor e roteirista islandês, que ganhou o prêmio de melhor filme, melhor ator e melhor roteiro no último Festival de Tribeca, com esse filme “Virgin Mountain” em inglês e “L’histoire du géant timide” em francês, parece que pede, com esse início, que não façamos julgamentos apressados.
Quando vemos Fúsi (o carismático ator Gunnar Jonsson) comendo seu cereal com leite, delicadamente, na cozinha da casa onde vive com a mãe, ele parece um menino bem comportado. Mas ele deve ter uns 40 anos, porque quando o acompanhamos, lidando em silêncio com as brincadeiras de péssimo gosto dos colegas de trabalho, percebemos que compreende o mundo em que vive.
Intrigados, frente àquele homem que gosta de brincar com carrinhos de controle remoto e, com seu único amigo, reconstruir com miniaturas as batalhas famosas da Segunda Guerra, vamos nos envolvendo com sua história.
Ele poderia ser mais independente mas parece que fica com a mãe por inércia ou por falta de interesse em explorar o mundo e as pessoas.
Pensando bem, aquele gigante delicado já deve ter sofrido em suas primeiras tentativas de socialização. O “bullying” não deve ser novidade para ele, que tem paciência com os outros e não revida os insultos e as brincadeiras pesadas. Ao contrário, está sempre disposto a ajudar, quando solicitado. A verdade é que ele tem bom coração e não guarda mágoas.
Quando encontra, na escada do prédio, a menina tristinha que mora no andar de baixo e que pede que ele brinque com ela, ele não recusa. Mal sabe que o pai dela, recém divorciado e fora de si, vai acusá-lo de pedofilia.
A mãe possessiva quer ele por perto para ajudá-la mas quando arranja um namorado e são flagrados na cozinha pelo filho, apesar de Fúsi não tocar no assunto, decide distraí-lo fora de casa. Um chapéu de cowboy e a matrícula numa escola de dança são o presente de aniversário que vai tirar Fúsi de casa em horários semanais regulares. Sossego para os namorados que vão poder ficar a sós.
E uma tempestade de neve vai trazer para a vida daquele solitário, uma companhia feminina, Sjófn (Ilmur Kristjánsdóttir). Ela também está nas aulas de dança, é pequena, loira, alegre e não tem preconceito contra a aparência de Fúsi. Pede uma carona e assim começa uma amizade que leva o gigante romântico a ter coragem de enfrentar sua timidez e ampliar seus horizontes.
Mas, como as aparências enganam, como avisa o diretor desde o início, a moça pode ser mais complicada do que parece.

O certo é que o gigante amável parece ser o menos desajustado dos personagens desse filme que, sem pieguismo, trata da bondade, difícil de ser encontrada nesse mundo egoísta em que vivemos.

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