“À Beira Mar”- “By the Sea”, Estados Unidos,
2015
Direção: Angelina Jolie Pitt
O Citroen conversível vai pelas estradinhas e leva um
casal glamuroso. A ilha de Malta, com seu mar azul e falésias altas de pedra
clara, parece um destino romântico para aquela dupla bonita e bem
vestida.
São os anos 70 e ela usa um chapéu com estampa de onça e
enormes cílios postiços. Chegam numa prainha branca, com uma baía quase que se
fechando em círculo.
Passam pelo bar do local e o dono, Michel (Niels
Arestrup), os leva a uma antiga mansão sobre os rochedos, o
hotel.
“- Eu sou Roland (Brad Pitt) e essa é minha mulher
Vanessa (Angelina Jolie Pitt), apresenta ele ao
francês.
O casal entra no quarto com suas malas Vuitton e ,
imediatamente, mudam a posição dos móveis. A escrivaninha vai para a frente da
porta-janela que abre para um terraço. De uma valise de couro sai uma máquina de
escrever vermelha.
Roland senta-se à escrivaninha, enquanto Vanessa o
observa, deitada na cama, fingindo ler uma revista.
Nenhuma palavra. O clima entre os dois parece
tenso.
Dia seguinte, ela de camisola e robe de seda e rendas
negras, parece pior do que no dia anterior.
“- Vá escrever, eu fico bem”.
Roland manda um beijo falado, pega o chapéu e
sai.
Para quem ela telefona? O número toca, toca mas ninguém
atende.
Roland passa seus dias mais bebendo do que escrevendo no
bar, sempre sózinho. Conversa com o dono e fica sabendo que ele ficou viúvo há
um ano e ainda não se conformou. Vive olhando o retrato da falecida. E ,
surpreso porque ele está sempre só, pergunta ao
escritor:
“- Onde está sua mulher?”
“- No hotel.”
“- Estão casados há quanto
tempo?”
“- 14 anos.”
“- Ela parece agradável...Vou lhe dar um conselho que
você não me pediu. Ame-a.”
“- Ah! Ela não é assim tão fácil de amar...É adorável
mas pode ser bem dura.”
Todas as noites ele volta tarde para o quarto e ela já
está dormindo.
Muitas vezes vemos Vanessa chorando, expressando uma
angústia difícil de suportar. Toma muitas pílulas. Quase não sai do quarto. Vai
raramente ao terraço de onde observa um barqueiro.
Ficamos intrigados. O que será que aconteceu com ela? O
marido parece preocupado. Nas poucas vezes em que ela se aproxima do mar,
tememos por ela. Não parece apegada à vida.
Chega um casal de recém-casados no hotel (Mélanie
Laurent e Melvil Poupard), felizes e apaixonados. Isso vai mexer profundamente
com Vanessa.
Os acontecimentos se precipitam quando ela encontra, por
acaso, um buraco na parede que dá para o quarto do casal. E começa a
observá-los. Torna-se uma obsessão.
Quando o marido descobre, a história entra num novo
patamar, onde os conflitos serão mais claros e vai acontecer uma
catarse.
Somos nós agora os “voyeurs” que olhamos a intimidade do
casal que observa o casal feliz.
Angelina Jolie Pitt dirige o filme e escreve o roteiro.
Ela já havia dirigido “Na Terra de Amor e Ódio”2011 e “Invencível”2014. Mas “À
Beira Marӎ um filme muito diferente dos anteriores. Passa para o espectador a
estranha sensação de estar observando algo tão íntimo, que sentimos
desconforto.
Jolie Pitt disse em Cannes que seu filme era sobre o
luto e que ela estava sob o impacto da morte de sua
mãe.
O filme é bonito, bem fotografado por Christian Berger,
colaborador de Michael Haneke, mas o roteiro peca pela circularidade e diálogos
fracos.
Imagens falam mais alto do que qualquer discurso. E o
tempo passa para todos nós. Só o mar continuará impecavelmente azul na ilha de
Malta, quando todo mundo já não estiver mais aqui. C’est la
vie...
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