segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Ponte dos Espiões



“Ponte dos Espiões” - “Bridge of Spies”, Estados Unidos, 2015
Direção: Steven Spielberg

Um texto na telona explica que vamos assistir a fatos ocorridos no auge da chamada “Guerra Fria”, entre Estados Unidos e a União Soviética (hoje Rússia), em 1957, quando ambos os lados tem espiões que são caçados.
O filme é uma aula de história magistral, sobre um episódio ocorrido no século XX, dada por Steven Spielberg, que, com seu talento para a narração em belas imagens, prende nossa atenção com cenas iniciais onde aparecem ruas na chuva, homens de sobretudo e chapéu, guarda-chuvas e carros negros com agentes do FBI e da CIA.
Um homem acaba de ser surpreendido em seu apartamento. Vimos, na cena anterior, que ele lia com um lupa um papelzinho escondido numa moeda que ele recolhera debaixo de um banco, frente ao rio. Parecia ser somente um pintor de certa idade, talentoso. Mas o FBI prende Rudolf Abel (interpretado com brilho e simpatia pelo inglês Mark Rylance) como suspeito de ser um espião soviético.
Tom Hanks (um dos atores preferidos de Spielberg) é um advogado de uma seguradora, conhecido por suas estratégias de defesa bem articuladas. Mas até ele se surpreende quando é chamado para defender o suposto espião soviético perante um tribunal americano.
“- É uma honra ser escolhido, mas não faço isso há anos”, responde Jim Donovan para o representante do governo que faz o convite.
O advogado é o protótipo do americano patriota que acredita na Constituição. O lema de que todos tem direito a um julgamento justo, o conduziu a vida toda. Então, não soa bem a seus ouvidos que até o juiz desse caso espera que ele defenda Rudolf Abel, mas apenas para mostrar que há justiça no país.
“- Você vai defendê-lo, mas todos sabemos que ele será condenado”, diz o juiz.
Da noite para o dia, Donovan passa a ser mal visto por onde passa e, até a polícia, que vem investigar um atentado a tiros em sua casa, acha que ele é um traidor da pátria por defender o soviético.
Era uma época em que os Estados Unidos eram sinônimo de anticomunismo. As crianças prestavam juramento à bandeira na escola e eram ensinados a como sobreviver, em caso de ataque nuclear. Havia histeria no ar.
Quando questiona a sentença do juiz, que quer ver o soviético na cadeira elétrica, Jim Donovan parece prever o futuro. Ele argumenta que, vivo, Abel poderia ser moeda de troca, se um espião americano caísse nas mãos do inimigo.
Foi o que aconteceu em 1962, quando o piloto americano Gary Powers caiu com seu U2, que fotografava território inimigo. É Donovan que vai negociar a troca dos espiões.
Complicação extra acontece quando um estudante americano é preso em Berlim Oriental.
Todo o suspense e tensão é gerado por impasses nas conversas entre o advogado e as outras autoridades envolvidas. Vai e vem angustiantes, num lugar perigoso, gelado e infestado de ameaças.
Essa história, contada através de um roteiro brilhante, escrito por Matt Charman e pelos famosos irmãos Cohen, tem até bastante humor, principalmente nas conversas de Donovan e seu cliente soviético.
“Ponte dos Espiões” é um filme para quem conhece e, principalmente, para que não conhece esse período da história do século XX.
Aprender com Spielberg é um privilégio.

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