Direção: Pablo
Larrain
Existem assuntos perigosos. Há que ter maturidade para
mexer com eles. Foi o que aconteceu com o filme “O
Clube”.
Pablo Larrain, diretor chileno, 39 anos, ganhou o Urso
de Prata ou seja, o Grande Prêmio do Júri, no Festival de Berlim em fevereiro de
2015, com seu último filme. A crítica já tinha recebido bem o anterior “No”, que
ganhou em Cannes o prêmio da Quinzena
dos Realizadores, o prêmio do público na Mostra de São Paulo e foi finalista no
Oscar para filmes estrangeiros.
Mas, foi “O Clube” que alçou Pablo Larrain à seleta
comunidade dos grandes cineastas contemporâneos, com excelentes críticas em
Berlim.
A história, escrita por Larrain, Guillermo Calderón e
Daniel Villalobos, se passa numa cidadezinha litorânea no Chile, “La Boca”,
escura, pobre e destituída de encantos. O mar cinzento parece gelado e as areias
da praia são negras. Mesmo quando o sol brilha, o vento cortante não deixa que
ele aqueça aquele lugar esquecido do mundo.
Dentro da casa amarela, no alto da encosta próxima ao
mar, é tão escuro, que mal identificamos os personagens que lá habitam. São
quatro homens idosos, sentados à mesa do jantar. Comem silenciosos. Uma mulher
mais jovem, está entre eles.
O mar ruge, lá embaixo na
noite.
De dia, vemos esses homens (Alfredo Castro, Jaime
Vadell, Alejandro Goic e Alexandro Sieveking) andando acompanhados de um galgo.
A mulher (a excelente Antonia Zegers, mulher do diretor) desce a colina, com o
cachorro pela coleira, e se aproxima de outras pessoas, também com cães. Vai
haver uma corrida.
Da encosta, os quatro homens acompanham os
acontecimentos com binóculos e comemoram sem alarido. O cão deles, Rayo,
ganhou.
“- Com essa, já temos 400 mil. Vamos correr a regional e
depois Santiago”, diz o homem que se ocupa com os treinos do galgo na praia
negra.
Mas, um novo morador chega na
casa:
“- Talvez alguns de vocês conheçam o padre Matias. De
agora em diante, fará parte dessa comunidade”, diz o padre que trouxe o homem
grande, de cabelos grisalhos revoltos e barba.
Aquela que se intitula irmã Monica, recebe o
recém-chegado:
“- É uma casa de meditação. Muito importante para a
Igreja”, fala ela, enquanto passa para o padre Matias Lazcano (José Sozo), as
regras que ele deve obedecer. Não poderá ir ao povoado, a não ser em horários
determinados e sozinho.
“- É absolutamente proibida a comunicação com alguém de
fora.”
“- Não sei por que me submeter às mesmas regras que
eles. Não cometi pecado. Não sou homossexual. Tive um
probleminha...”
É só nesse momento que nos damos conta de que os
personagens são padres excomungados da Igreja Católica, que praticaram delitos,
tais como pedofilia, corrupção política e tráfico de bebês. Naquela casa a
negação é regra, aliada à mentira e à falsidade. Entre eles, ninguém é culpado
de nada.
E é justamente a chegada do padre Lazcano que vai
deflagrar uma tragédia, lançando uma luz indesejável sobre aquelas pessoas
escondidas do mundo.
Um jovem jesuíta virá com uma missão mas os
acontecimentos se precipitarão e outro caminho terá que ser escolhido.
Larrain disse numa entrevista:
“- Fui educado em escolas católicas. Dos padres que eu
conheci, alguns permaneceram homens honrados, respeitáveis. Outros estão na
prisão ou tem problemas legais. E outros ainda, estão perdidos. O filme é sobre
os que se perderam”. E acrescenta que “O Clube” é um filme sobre “amor, paixão e
redenção”.
Quem gosta de acompanhar os grandes filmes, elogiados
pela crítica séria, não pode perder esse último trabalho de Pablo Larrain, que
ainda vai dar muito o que falar, por causa de seu
talento.
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