“A Colina Escarlate”- “Crimson Peak”, Estados Unidos,
2015
Direção: Guillermo del Toro
Uma mocinha loira, muito pálida (Mia Wasikowska), olha a
câmera e diz:
“- Fantasmas são reais. Disso tenho certeza. A primeira
vez que vi um, tinha 10 anos. Foi o de minha mãe. Ela morreu de cólera. Caixão
fechado. Sem adeuses. Não a vi até que ela voltou...”
“- Quando chegar a hora, tenha cuidado com a Colina
Escarlate... Ela disse isso para mim, numa noite de pesadelo. Levei muito tempo
para entender esse aviso, mas então, era tarde demais.”
Esse monólogo é o prólogo de uma história que envolve
ambição, vingança, amores proibidos e assassinatos. Maldade e loucura vão
engendrar atos cruéis numa mansão secular, onde os fantasmas sobrevivem
alimentando-se de desejos do passado.
Todo um jogo de emoções fortes acontece em cenários
majestosos, de uma beleza arrepiante.
Os personagens, interpretados com ardor por atores que
aceitaram o convite do diretor e escritor mexicano Guillermo del Toro (“O
Labirinto do Fauno”2006), 51 anos, são arquétipos góticos em uma história que
todos que leram Mary Sheley e Edgard Allan Poe
conhecemos.
Mas não é a surpresa que Guillermo del Toro quer
alimentar. Ele não quer assustar o público com monstros canibais. Seu desejo é
mostrar a beleza exótica e sedutora, cenários que existem em sonhos e
personagens movidos por alucinações.
“A Colina Escarlate” é um pesadelo sofisticado. As
emoções fortes estão no centro de tudo. Fantasmas são só veículos de lembranças.
Ou de avisos.
A heroína Edith, sem mãe e com o pai morto em
circunstâncias misteriosas, é um brinquedo nas mãos dos irmãos Lucille (Jessica
Chastain, morena e fatal) e Thomas Sharpe (Tom Hiddleton), aristocratas ingleses
falidos e sem escrúpulos.
A produção de arte é excepcional e nenhum detalhe passa
desapercebido. A iluminação à luz de candelabros adensa o clima de mistério. Os
figurinos de Kate Hawley são uma lição do uso de tecidos para realçar a beleza
dos corpos e chamam tanto a atenção, que eu, às vezes me distraia da
trama.
Destaque para a cena da valsa com a vela, em que Mia
Wasikowska usa um vestido de seda champanhe, ornado com fios de pérolas, cabelos
num coque sedutor. Ou ainda, o vermelho escuro com gola de tule bordada que
veste Jessica Chastain ao piano. Inesquecível a blusa de organza plissada de Mia
e o azul marinho de veludo, deslumbrante, que acompanha Jessica Chastain na
escada monumental de Alerdalle Hall.
E os insetos sempre presentes, obsessão de del Toro, são
metáforas das duas personagens femininas. Assim, Edith é a borboleta colorida e
diurna, enquanto Lucille é a mariposa negra, apavorante e noturna, que são
multidão na mansão que afunda no barro sanguíneo.
“A Colina Escarlate”, cercada pela neve tingida de
sangue, é um filme saído da imaginação e da fantasia extraordinárias de um dos
mais originais diretores do cinema contemporâneo. Eu
recomendo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário