sábado, 10 de outubro de 2015

Peter Pan


“Peter Pan” – “Pan”, Inglaterra, Estados Unidos, Austrália, 2015
Direção: Joe Wright

Peter Pan é um personagem que sempre me encantou. Corajoso, galante, brincalhão. Chapeuzinho verde com uma pena, túnica meio esfarrapada, cinto e espada de madeira. Eu vestia a fantasia e fingia voar, como ele.
Para a menina que eu era, imaginativa e ávida por aventuras, o mundo da minha casa se ampliava quando eu brincava que era Peter Pan.
E é esse o ângulo que Joe Wright escolheu para fazer seu filme, uma homenagem à imaginação e ao sonho, que nos faz escapar de um mundo de realidade muito estreito.
O escritor que criou Peter Pan em 1904, o escocês J.M. Barrie (1860-1937), ajudou muitas crianças que viviam vidas sem graça, ou mesmo infelizes, a viajar com o menino voador para a Terra do Nunca, onde existiam fadas luminosas, belas sereias, crocodilos gigantes, florestas encantadas, piratas e índios.
Mas faltava uma coisa nessa ilha encantada: uma mãe.
O inglês Joe Wright, 43 anos, quer contar de onde veio Peter Pan, como nasceu o menino que não sabia que podia voar. Como todo órfão, o que mais fazia falta em sua vida, no lar de crianças abandonadas, era o carinho de sua mãe.
Nas primeiras cenas, vemos quando ela (Amanda Seyfried), abandona o bebê na porta do orfanato e coloca em seu pescoço a correntinha com a flauta e uma carta.
Doze anos depois, durante a Segunda Guerra, bombas caem sobre Londres e Peter sofre nas garras de uma freira que parece bruxa. Para uma criança sem mãe, todas as mulheres são inferiores e más, porque com sua presença denunciam a ausência daquela única que poderia amá-la de verdade.
E Peter sonha. E em sonhos vai para a Terra do Nunca, lugar da Mãe. Ele tem a certeza de que vai encontrá-la.
Na carta que ela deixou está escrito: “Não duvide de si mesmo. Você é extraordinário. Mais do que imagina.”
Escolhendo um registro psicológico, Joe Wright faz das angústias de Peter e de sua fuga da realidade através do sonho e da imaginação, o material para construir a Terra do Nunca, para onde se vai num navio que voa, porque ela está no meio das nuvens do céu. E lá Peter Pan vai descobrir quem é seu amigo e seu inimigo (Gancho e Barba Negra, substitutos paternos), conhecer sua verdadeira história e descobrir quão extraordinário ele realmente é. Uma mensagem que toda criança precisa ouvir.
Joe Wright valeu-se do 3D de forma criativa, os cenários com as cores do arco-íris inventam um lugar de fantasia, maravilhas e perigos, ameaças e descobertas.
O elenco é ótimo, destacando-se o australiano Levi Miller que interpreta Peter Pan com valentia e ingenuidade, Hugh Jackman que faz o Barba Negra, vilão com toque de alta costura e o Gancho de Garret Hedlund, simpático e malandro. Sem esquecer da princesa Tiger Lily ou Tigrinha, valente e encantadora (Rooney Mara).
Joe Wright, de “Desejo e Reparação”2007 e do luxuoso “Anna Karenina”2012, mostra novamente que o cinema, quando bem feito, mexe com nossas memórias mais antigas, funcionando como uma “máquina do tempo”que desperta a criança eterna lá dentro de nós.
Por tudo isso, “Peter Pan” vai agradar pais e filhos.

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