Direção: Benoit Jacquot
A beleza, aliada a uma certa postura atrevida e
ambiciosa, pode ser uma maldição para uma mulher sem posição social, nem
dinheiro, parece querer dizer o filme de Benoit Jacquot, adaptação do livro do
francês Octave Mirbeau, de 1900, que conta a história de uma arrumadeira, no
começo do século XX. Outra desejo dessa história é olhar a classe alta pelos
olhos de seus empregados, principalmente mulheres.
Célestine (a belíssima Léa Seydoux) é uma arrumadeira
fina e jovem que já trabalhou em algumas casas da elite francesa e não tem uma
boa opinião sobre seus patrões.
Ela parece um quadro de Renoir quando aparece na tela
com um vestido azul petróleo, enfeitado de rendas, que realça sua cintura fina.
Seu rosto é perfeito, olhos azuis sob longos cílios, boca petulante e cabelos
louros num coque de cachos no alto da cabeça e chapéuzinho com
fitas.
Tanta elegância não condiz com seu estado de
desempregada e destoa das outras que foram procurar emprego na mesma agência. A
aparência já nos diz algo sobre Clémentine. Ela sabe que é
bonita.
“- A senhorita é instável”, diz a dona da agência, que
lhe oferece um cargo no interior.
Percebemos que censura Célestine por sua
insubmissão.
“- Prometo me comportar bem”, responde a moça, olhos
baixos.
Por que será que ela muda tanto de emprego?
Em “flashback”, ela pensa na única boa lembrança de sua
vida com patrões. Na Normandia:
“- Não lhe ofereço uma posição alegre...Bem sei...”, diz
a senhora que a contrata para cuidar do neto doente.
Em “off”, ouvimos ela dizer:
“- Basta me falar com doçura e eu aceito tudo que me
pedem”.
O jovem doente melhora a olhos vistos com a presença de
Célestine, vestida de azul céu, na praia com ele.
“- Você nunca mais nos deixará, meu anjo”, diz a
avó.
Mas a paixão que ela desperta nos homens pode ser fatal
e Célestine, de luto, vai parar na casa de um homem que só a quer na
cama.
Até uma dona de um bordel elegante a aborda na rua em
Paris, convidando-a a ser uma das suas “privilegiadas”. Ela guarda o cartão na
bolsa e chora em silêncio.
O novo emprego que ela aceita, no interior, não é
diferente dos outros. O patrão a assedia, a patroa implica com ela, ela fica só
no mundo porque sua mãe morreu e o vizinho estranho faz propostas indecentes.
E Célestine fica conhecendo melhor o misterioso Joseph (Vincent Lindon),
o homem que trabalha como cocheiro e jardineiro na mesma casa em que ela é
arrumadeira. Fascista, anti-semita, ladrão e talvez até coisa pior, ele diz a
ela que são parecidos e que a deseja. E ela se agarra a ele como numa tábua de
salvação.
Sua carência e ambição a controlam e ela o seguiria até
o inferno.
Léa Seydoux, o centro do filme, interpreta seu papel com
brilho, combinando mais com os salões burgueses do que com seu quartinho no
sotão.
Mas “O Diário de uma Camareira” deixa uma impressão de
superficialidade. Resta a beleza de Célestine, as paisagens francesas e a tarefa
de pensar sobre os personagens e sentir que não foram aprofundados.
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