Direção: Emmanuelle Bercot
Na cena inicial, uma juíza de menores, Florence Baque
(Catherine Deneuve, sempre bela e competente), pergunta
a uma jovem mãe solteira (Sara Forestier), com um bebê inquieto, chorando no
colo , por que seu outro filho não vai à escola há três meses. Um menino, de uns
seis anos, olha assustado os adultos.
A assistente social diz para a juíza que é difícil
estabelecer um diálogo produtivo com Madame Ferrandot, mãe do
menino.
Para nosso espanto, a mãe diz, olhando o
filho:
“- Ele é esperto. É um bicho dentro de casa. Aqui vira
um santo. Parece que sabe que está num tribunal. Quero me livrar
dele.”
E sai, deixando as duas mulheres com um ar de surpresa e
desânimo:
“- Espero que haja vaga no Lar das Crianças” diz a
assistente social.
Assim começa a história de Malony Ferrandot,
interpretado com garra pelo novato Rod Paradot.
Na próxima cena ele já tem uns 14 anos e guia um carro
como um louco, incentivado pela mãe no banco de trás, com o
irmãozinho.
Quando volta ao tribunal da juíza, vai ter que responder
por roubo de carro e guiar sem carteira de motorista.
Malony não vai à escola, usa drogas, provavelmente será
expulso e sua atitude frente à juíza é de descaso.
A mãe, tão imatura quanto o filho, também usa drogas, é
ambivalente, troca muito de parceiros e não parece ser a pessoa indicada para
educar ninguém. Seus repentes no tribunal, aos gritos e choro convulsivo,
parecem com o comportamento de Malony. Só que ele é bem mais agressivo. Enfrenta
um educador numa instituição, xinga o homem bem maior que ele e o agride, tendo
que ser contido.
Quando a juíza o recebe novamente, retira tesouras e
objetos pontiagudos da sala, antes de fazê-lo entrar. Sabe com quem está
tratando. Dessa vez, ele responde por roubo com violência. Chega
algemado.
“- Estou cansada de ficar atrás dele. Criei um monstro.
Ele é como o pai”, reclama a mãe choramingando.
“- O que quer fazer de sua vida, Malony?”pergunta a
juíza, severa.
Ele vai para um centro de recuperação mas se mete em
brigas e não coopera com os educadores.
Vai ser longo e difícil o caminho de Malony. Mas algo
nele faz tanto a juíza, como o educador Yann (Benoit Magimel), não desistirem de
tentar fazer ele compreender que tem que mudar de
atitude.
Garotos delinquentes geralmente terminam mal. Mas no
caso de Malony, muitas variáveis entraram em jogo para que ele pudesse ter uma
chance. Sua agressividade e incapacidade de tolerar frustrações, cedem aos
poucos, dando lugar a uma postura mais produtiva. Não sabemos por quanto tempo,
mas torcemos por ele.
O filme mostra que o Estado tem o seu papel de educador
mas que precisa de alguma reação positiva para poder recuperar um garoto como
Malony.
E, em tempo de debate sobre a maioridade penal, a
diretora, que abriu o Festival de Cannes de 2015 com seu filme, disse em
entrevista:
“Entendo que o jovem não deva permanecer impune, mas
colocá-lo na cadeia com adultos não é a solução. Isso só piora o
problema.”
“De Cabeça Erguida” é um filme que ousa ter um olhar de
esperança para os jovens que, por isso ou aquilo, não conseguem levar uma vida
sem cair na marginalidade.
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