“A Festa de Despedida”- “Mita Tova”, Israel, Alemanha,
2014
Direção: Sharon Maymon e Tal
Granit
É difícil falar sobre a morte. Por isso a negação em
torno a esse assunto. O que dirá então de tratar da morte concedida como uma
saída digna de uma vida de sofrimentos, com o auxílio de
outros?
Tal desejo de morrer com dignidade foi já assunto de
alguns filmes ao longo dos últimos anos. Como não lembrar de Javier Bardem em
“Mar Adentro” de 2004? E, antes ainda, de “Invasões Bárbaras” de 2002, do canadense Denys Arcand? “Algumas Horas de
Primavera” de 2012, traz Vincent Lindon como o filho que leva a mãe para a
Suiça, para o chamado “suicídio assistido”, legal naquele país. “A Bela que
Dorme” , dirigido por Marco Bellocchio, traz um fato real de eutanásia para as
telas em 2012.
Para não falar no celebrado “Amour” de Michael Haneke e
do filme islandês “Vulcão” de 2011, que tratam do assunto da mesma forma, ou
seja, quando fazer o outro morrer é um ato extremo de
amor.
No agridoce “A Festa de Despedida” é a vez de Israel.
Tema difícil, já que ali a eutanásia é proibida fortemente pela religião e pela
lei que castiga o autor do crime com prisão perpétua.
Mas a dupla de diretores, que ganhou o “Ophir de Ouro”
de direção ( o Oscar de Israel), Sharon Maymon e Tal Granit, soube levar o
roteiro deles com muita inteligência, sabendo trilhar a linha divisória entre o
humor fino e, por vezes negro, evitando cair no sentimentalismo barato, ao falar
sobre o suicídio assistido, a morte conduzida pelo próprio doente, que não
aguenta mais viver do jeito que vive.
O filme, que tem um elenco genial, começa com risos. No
telefone, “Deus” conversa com Zelda, uma paciente que sofre com uma recidiva de
câncer, dizendo a ela que tenha mais um pouco de paciência, já que não havia
vaga no céu no momento.
A brincadeira piedosa é armada por um amigo da
paciente,Yehezkel (Ze’ev Revach) casado com Levana (Levana Finkelstein), todos vivendo num condomínio
aprazível para idosos em Jerusalém.
Mas todo esse clima leve começa a pesar quando Yana
(Alisa Rosen), desesperada com o sofrimento do marido Max (Schmud Wolf), que
pede para morrer, internado no hospital, comove os amigos, que se juntam para
encontrar uma solução.
O “Doutor Morte”, Kervokian, é relembrado, e o inventor
amador Yehezkel, junta-se ao veterinário aposentado (Ilan Dar), também morador
do condomínio, e conseguem fabricar uma máquina que ministraria uma combinação fatal
de duas drogas pelo tubo intravenoso, através de um controle manipulado
pelo próprio doente.
Não é nenhuma surpresa que esse segredo mal guardado se
espalhe e muita gente passe a assediar o grupo de amigos de Max. Todos com o
mesmo problema.
Risos e comoção vão se alternando conforme o filme
avança.
Toques surreais sublimes, como o canto que une vivos e
mortos, são uma pausa para respiração, para depois voltar à
realidade.
Porque é na nossa própria morte e na dos nossos entes
queridos que pensamos enquanto assistimos “A Festa da Despedida”, um filme
humanista, tão triste quanto realista.
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