quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Paixão e Acaso


“Paixão e Acaso”- Brasil, 2012

Direção: Domingos de Oliveira


O acaso é o responsável por muito do que acontece na nossa vida.

Mas como ter certezas num mundo comandado pelo acaso? Será que é para se defender desse cenário, onde tudo pode acontecer, que estamos sempre procurando razões para tudo? Há até quem diga que não existem coincidências.

Em “Paixão e Acaso”, Domingos de Oliveira, 77 anos, diretor e roteirista, brinca e faz graça dessa nossa desgraça de querer entender e controlar tudo à nossa volta.

No caso de Inês (Vanessa Gerbelli), uma jovem psicanalista compenetrada, que trabalha muito, tudo começa a acontecer de maneira diferente naquele dia em que ela acorda e vê o pai, já morto há três anos, sentado na cama dela:

“- Pai! Que saudades!”exclama Inês, entre assustada e feliz.

O clima de farsa instala-se. Ouvimos o pai de Inês questioná-la:

“- Você não está fazendo a coisa certa. Só trabalha! Há quanto tempo não vai para a cama com alguém?”

“- Três anos”, responde a filha.

“- Você é fixada em mim! Isto é imoral e revoltante. Sexo é tudo. Tudo é sexo”, acrescentando, “você vai encontrar o amor! O amor vai encontrar você!”

E com essa libertação forçada pela autoridade paterna, Inês sai da prisão que construira para si própria. Ela, que não sabia como escapar desse luto prolongado que afetava sua libido, acorda.

E, na livraria encontra Fábio (Pedro Furtado), que se diz apaixonado por ela, à primeira vista.

Numa cena bem humorada, os dois vão procurar livros que tenham a palavra “amor” no título, num diálogo charmoso. Só olhares, sem palavras.

Mas, novamente o acaso entra em ação e Inês, que foi conversar com uma amiga num bar, é surpreendida por Bento (Aderbal Freire Filho), muito mais velho que ela e pronto, os dois se apaixonam.

Para quem não tinha nenhum, Inês tem agora dois namorados e tem que revezá-los, contando mentiras para evitar que os dois se encontrem.

E  máximo da ironia acontece. Fábio e Bento são pai e filho. E também estão de luto porque a mãe idolatrada e  esposa querida, morreu também há três anos. Mas Inês não sabe de nada.

“Paixão e Acaso” é um filme com cenas divertidas e algumas reflexões interessantes.

Domingos de Oliveira, que luta há 15 anos com um Parkinson, não faz disso um drama, trabalha muito e está lançando dois filmes juntos. O outro é “Primeiro Dia de um Ano Qualquer”.

O genial criador de “Todas as Mulheres do Mundo” de 1966 com Paulo José e a inigualável Leila Diniz, não perdeu a mão. “Paixão e Acaso” tem altos e baixos mas é delicado e contemporâneo. E faz rir das angústias quotidianas das quais ninguém escapa.

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