Direção: Domingos de Oliveira
O acaso é o responsável por muito do que acontece na nossa
vida.
Mas como ter certezas num mundo comandado pelo acaso? Será que é
para se defender desse cenário, onde tudo pode acontecer, que estamos sempre
procurando razões para tudo? Há até quem diga que não existem coincidências.
Em “Paixão e Acaso”, Domingos de Oliveira, 77 anos, diretor e
roteirista, brinca e faz graça dessa nossa desgraça de querer entender e
controlar tudo à nossa volta.
No caso de Inês (Vanessa Gerbelli), uma jovem psicanalista
compenetrada, que trabalha muito, tudo começa a acontecer de maneira diferente
naquele dia em que ela acorda e vê o pai, já morto há três anos, sentado na cama
dela:
“- Pai! Que saudades!”exclama Inês, entre assustada e
feliz.
O clima de farsa instala-se. Ouvimos o pai de Inês
questioná-la:
“- Você não está fazendo a coisa certa. Só trabalha! Há quanto
tempo não vai para a cama com alguém?”
“- Três anos”, responde a filha.
“- Você é fixada em mim! Isto é imoral e revoltante. Sexo é tudo.
Tudo é sexo”, acrescentando, “você vai encontrar o amor! O amor vai encontrar
você!”
E com essa libertação forçada pela autoridade paterna, Inês sai da
prisão que construira para si própria. Ela, que não sabia como escapar desse
luto prolongado que afetava sua libido, acorda.
E, na livraria encontra Fábio (Pedro Furtado), que se diz
apaixonado por ela, à primeira vista.
Numa cena bem humorada, os dois vão procurar livros que tenham a
palavra “amor” no título, num diálogo charmoso. Só olhares, sem
palavras.
Mas, novamente o acaso entra em ação e Inês, que foi conversar com
uma amiga num bar, é surpreendida por Bento (Aderbal Freire Filho), muito mais
velho que ela e pronto, os dois se apaixonam.
Para quem não tinha nenhum, Inês tem agora dois namorados e tem
que revezá-los, contando mentiras para evitar que os dois se
encontrem.
E máximo da ironia
acontece. Fábio e Bento são pai e filho. E também estão de luto porque a mãe
idolatrada e esposa querida, morreu
também há três anos. Mas Inês não sabe de nada.
“Paixão e Acaso” é um filme com cenas divertidas e algumas
reflexões interessantes.
Domingos de Oliveira, que luta há 15 anos com um Parkinson, não
faz disso um drama, trabalha muito e está lançando dois filmes juntos. O outro é
“Primeiro Dia de um Ano Qualquer”.
O genial criador de “Todas as Mulheres do Mundo” de 1966 com Paulo
José e a inigualável Leila Diniz, não perdeu a mão. “Paixão e Acaso” tem altos e
baixos mas é delicado e contemporâneo. E faz rir das angústias quotidianas das
quais ninguém escapa.
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