Direção: Joseph Gordon-Levitt
As imagens que aparecem na tela são atropeladas e os
sons atordoantes. Programas de TV, desenhos animados, lutas, garotas com pouca
roupa. O título original, “Don Jon”, aparece pulsando. Nem precisa dizer que a
tradução para o português, que não tem nada a ver com o filme, foi escolhida
para trazer público para o cinema.
Mas, mesmo assim, cuidado. O tema, pode assustar pessoas
conservadoras. O protagonista, interpretado pelo próprio diretor e também
roteirista de seu primeiro filme, Joseph Gordon-Levitt, começa
dizendo:
“- Sim, não vou mentir. Nessa hora, a única coisa que
existe no mundo é aquele peito, aquela bunda...”
Ele olha a tela do computador, onde passa um
filme pornô, que vemos de relance. Pega um lenço de papel da caixa e depois joga
no lixo.
“- Me interesso pelo meu corpo, meu ap, minha família,
minha igreja, minhas garotas e meus pornôs. Estou sendo sincero. Por que me
chamam de Don Jon?”
Ele parece que não sabe, mas vive em função da
pornografia.
Toda noite vai a um clube pegar garotas. Entre amigos
(Rob Brown, o Bobby e Jeremy Luke, o Danny), dão notas de 1 a 10 para as meninas
e Don Jon, invariavelmente, dança com a de melhor nota, se esfrega, leva para o
sofá, para o táxi e para a cama. Só que, depois da transa, sente um apelo
irresistível e vai se satisfazer vendo um pornô.
Para tudo recomeçar metódicamente no dia seguinte.
Aliás, ele tem mania de limpeza. Faxina o ap como
ninguém.
Sua rotina não seria completa sem a macarronada aos
domingos com o pai, machista mal-educado, a mãe, que sonha com netos (Tony Danza
e Glenne Headly, ótimos) e a irmã, muda, sempre navegando no celular e a TV no futebol aos berros. Tudo isso precedido
de uma ida à igreja com toda a família, para confessar seus pecados. Sempre os
mesmos, variando as quantidades.
No trânsito ele é
irritadíssimo.
Até que surge ela, Barbara Sugarman (Scarlett Johansson)
num vestido vermelho provocante e com aquela boca, emoldurada por longos cabelos
louros.
“- É a mulher mais linda do mundo”, exclama Jon de
queixo caído. E vai para cima dela. Só que na hora do táxi, ela vai embora
sózinha, fazendo beicinho de um jeito que deixa Jon mais encantado
ainda.
Apresenta a bela à família e ela conquista a todos.
Netos à vista!
Tudo estaria no melhor dos mundos, se o inesperado não
acontecesse. Não consegue dispensar o ritual pós-transa e Barbara fica
ultrajada.
Por que será que a pornografia tem um apelo irresistível
para Jon? Não seria porque ali ele controla tudo e é dono de seu gozo do jeito
que ele quer? E, mais importante, não corre o risco de se fragilizar com
sentimentos?
Nada contra a pornografia, se isso não estimulasse seu
medo de se envolver com mulheres reais.
O que ele parece não saber é que o sexo depende muito
mais do cérebro e da imaginação. Para não falar da
auto-estima.
Para Jon não adianta ter na cama a mulher nota 10, a
mais atraente no visual e depois se deparar com uma manipuladora que usa o sexo
para controlar e mandar nele.
Nos dois vemos o mesmo problema. Superficialidade. Não há tranquilidade em
lidar com gente real, nem vontade de aprofundar a intimidade. Teriam que sair
desse cenário de acrobacias, corpos perfeitos e egos
avantajados.
Julianne Moore, como Esther, vai ensinar uma ou duas
coisas para Jon.
O filme é engraçado, bem editado e com ótimos
personagens vividos por bons atores. Mas não é para todo mundo porque os mais
conservadores e puritanos vão só condenar as imagens do filme, sem pensar na
mensagem. Uma pena.
Nenhum comentário:
Postar um comentário