Direção: Noah Baumbach
Ela parece um pássaro migratório. Busca a
casa mas vai parando pelo caminho. Porém, diferente dos pássaros, guiados pelo
instinto, Frances (Greta Gerwig) se guia pelas emoções. Ela é um ser caloroso.
Por isso, os momentos de afeto verdadeiro
são preciosos para ela. A melhor amiga, Sophie (Mickey Sumner, que é filha do
músico Sting), é como um porto seguro para ela, do qual não quer partir.
Fica até difícil entender a sexualidade de
Frances. Sua agarração a Sophie seria uma expressão de um amor homossexual?
Talvez não, se pensarmos que ela é tão infantil que mais parece uma menina
agarrada à melhor amiguinha. Onde uma vai, a outra vai atrás. Quase que
respiram juntas, tal a sincronia.
Mas, a tristeza é que Sophie amadurece e
seu amor por Frances é deixado de lado. Arranja sua vida longe dela.
O ninho das duas tem que ser desmanchado.
Momento de crise para Frances, a bailarina
muito alta, que vai viver com dois rapazes.
Para ela, parece que a vida é assim. Viver
o presente. Embarcar em convites por impulso. Deixar rolar.
Frances pertence a uma geração, onde muitos
não querem crescer. Há um apego à infância, a uma vida sem responsabilidades,
um narcisismo intenso que prejudica a avaliação que Frances faz do mundo.
Sua depressão leva à bebida e aí fica tudo
mais complicado.
O que falta a ela? Aos 27 anos, talvez a
vida ainda lhe ensine quem ela é e aí Frances poderá dar uma direção à sua
busca.
Quando visita os pais em Sacramento,
Frances (atuando com os pais verdadeiros da atriz) tem uma primeira intuição de
que a infância já passou e que ela já não é mais a mesma menina de antes. Há
dor mas também uma primeira aceitação de quem ela é.
Há momentos no filme que são pura fruição
do prazer. Inesquecível a cena onde ela dança pelas ruas de Nova Iorque, dando
“jetés” na faixa de pedestres, giros e passos de uma dança que flui livre, ao
som de “Modern Love” de David Bowie.
Noah Baumbach, 44 anos, diretor de “Lula e
a Baleia” de 2005, escreveu o roteiro a quatro mãos com a atriz Greta Gerwig,
que é sua namorada desde 2011.
Em preto e branco, com uma câmara que capta
ângulos originais, ele mais parece fazer um documentário sobre essa moça de 27
anos, bailarina, que não consegue dar um rumo à sua vida.
O problema de Frances parece ser o
amadurecimento, que precisa ser atingido para que ela possa fazer algo que seja
o que ela é, que a faça expressar-se artisticamente com sinceridade e
perseverança.
Muitos dessa geração dos 1990 vão
identificar-se com Frances, uma personagem de carne e osso, muitas aspirações,
tendência à depressão e um certo auto-centramento que impede uma visão mais
ampla do mundo.
Mas ela é adorável.
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