Direção: Julie Delpy
Tudo começa numa viagem de trem. Albertine, o marido e
os filhos não conseguem se sentar juntos porque ninguém quer ceder seu
lugar:
“-
Pessoas más...”, diz Albertine.
E,
sentando em seu lugar, entre zangada e cansada, ela começa a se lembrar das
férias da infância, em Saint-Malo.
E
somos transportados, aos onze anos dela (Lou Alvarez excelente), ao verão de
1979, que ficou em sua memória como aquele em que sua mãe (Julie Delpy, a
diretora e roteirista) tinha certeza de que o Skylab, um satélite americano fora
de controle, iria cair na Bretanha, onde ficava a casa da avó
deles.
Mamie (Bernadette Lafont) faz 67 anos e a família
inteira, tios, tias e primos de todas as idades se reúnem para comemorar. As
crianças ficam dormindo em barracas no jardim, menos Albertine por causa do medo
de sua mãe de que o Skylab caia justo em sua cabeça, e os adultos na
casa.
Nas refeições, a família, dividida em duas mesas,
adultos e crianças separados, vão comer o carneiro que o tio matou e vai
preparar para o churrasco. Todas as crianças vão espiar a carcaça sem cabeça
pendurada no galpão.
Ironicamente, toda essa função é observada pelo pequeno
rebanho que pasta e bale junto à casa.
Estamos no princípio da era onde tudo é comprado no
supermercado, já embalado e sem semelhança com nada
vivo.
Outra coisa que mostra que os tempos mudaram, é a
observação de Albertine sobre a idade da avó:
“-
Você faz 67 anos? Está velha mesmo.”
A
praia de nudistas, ao lado daquela que a família frequenta, levanta a
curiosidade e a malícia de quase todos.
A
política divide as opiniões e a possibilidade de Mitterrand ganhar as eleições,
é motivo para se pensar em deixar o país. Não os pais de Albertine, de esquerda
e liberais, mas os tios de direita.
Porém entendam, são brigas em família, que não levam a
nada grave. Todo mundo se entende e até protegem as maluquices do tio Hubert
(Albert Delpy, pai da diretora) e compreendem o tio Roger (Dénis Manochet) que
lutou na guerra da Argélia e não se acostuma com os tempos de
paz.
Quarto filme dirigido por Julie Delpy, “O Verão do
Skylab” é terno com a família de Albertine e pronto a ser compreendido por todos
que viveram aquela época e mesmo os que não viveram, porque as famílias felizes
são sempre iguais, as infelizes é que são diferentes, já dizia o grande
Tolstoi.
Todo mundo sai feliz do cinema com o filme. Julie Delpy
é uma diretora que consegue recuperar, com graça e naturalidade, a ternura das
relações humanas.
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