terça-feira, 10 de setembro de 2013

O Estranho Caso de Angélica



“O Estranho Caso de Angélica”- Idem, Brasil/Espanha/França/Portugal
Direção: Manoel de Oliveira

É uma lição de vida. Com 104 anos, o genial diretor de cinema português, Manoel de Oliveira, consegue pensar e realizar um filme sobre a morte.
“O Estranho Caso de Angélica” parece que foi feito com aquela matéria prima que evitamos. O medo da morte e mais, do sofrimento ao ter que passar por ela, assusta a todos nós, seres humanos. Ora, Manoel de Oliveira está bem vivo mas mais perto dela e deve pensar nela mais do que nós, que achamos, mas não sabemos, que vamos viver mais do que ele.
A história do filme é simples e romântica. Um fotógrafo (Ricardo Trêpa), se apaixona por uma moça morta (Pilar Lopes de Ayala). Ao fotografá-la na “chaise longue” de seda azul, onde parece dormir, com os cabelos louros emoldurando seu belo rosto, ele se assusta. Imagina, ou vê, pelo olho da camêra, que ela sorriu para ele.
E daí em diante, a vida não mais o encanta.
Sonha com Angélica e se vê voando com ela, que veio busca-lo. Ao passar pelo rio, ele colhe uma flor para ela.
Parecem os noivos do quadro de Chagall, sempre voando, vestidos nos trajes do casamento.
Ao acordar, assustado grita:
“- Angélica!”
E esse grito vai ressoar algumas vezes durante o filme. Todos que cercam Isaac, o fotógrafo, pensam que ele enlouqueceu. Viera para documentar o trabalho nas vinhas da região do Douro, feita ainda de modo tradicional, com os camponeses cantando. Agora, esquece-se de tudo, só pensa nela.
Mas Manoel de Oliveira também deve sonhar com Angélica, o anjo da boa morte. Espera encontrá-la e unir-se a ela, num estado inebriado como Isaac. Sonho, desejo de morrer nos braços de uma morte feminina, encantadora, apaixonante.
Acho que todos nós, ainda, mais dia menos dia, vamos precisar de uma Angélica. Um anjo bom que nos faça esquecer que somos mortais e que tememos a morte.
Um pequeno filme precioso.

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