Direção: Paul Thomas
Anderson
O rastro branco de um
navio no mar azul. Fuzileiros americanos voltam para casa depois da Segunda
Guerra.
O rosto bonito de Joaquin
Phoenix em close. Ele faz Freddie Quell, uma criação que
assombra.
Na praia, os colegas
brincam fazendo uma mulher de areia, peitos-montanhas e um buraco na altura do
sexo.
Freddie “transa” com ela.
Excitado. Rindo. Frente ao mar, se masturba. Depois dorme ao lado da mulher de
areia. Há indícios de que algo está errado com aquele rapaz.
No hospital militar,
frente ao médico psiquiatra, genitaliza as manchas do teste de Rorschach e fala
sobre uma crise de choro por causa de uma carta de uma garota. Ri de maneira
estranha. Sua fala entrecortada é pouco compreensível.
“- Você disse que era uma
visão...” diz o médico.
“- Foi um sonho...”
responde Freddie.
Desajustado. Foi a
guerra? É a bebida que ele prepara misturando tudo que encontra? Não
sabemos.
A vida de Freddie, que
entra clandestino num barco, vai trombar com outro homem que ele encontra,
vestido de vermelho, como um imperador.
Lancaster Dodd (Phillip
Seymour Hoffman) e Freddie Quell se olham. Há um fascínio mútuo. O mestre e o
discípulo se encontraram. O mestre quer submissão, o discípulo hesita em se
entregar porque também quer submeter.
Muito se falou sobre o
personagem que Freddie encontra naquele barco. Dizem que o diretor se inspirou,
para escrever o roteiro, na vida de L. Ron Hubbard, o fundador de uma estranha e
misteriosa religião, a cientologia, seguida por celebridades como Tom
Cruise.
Não importa. O que parece
evidente é que esse dois homens tem dificuldade em lidar com a realidade e
alimentam ilusões grandiosas. O dia a dia não os atrai. E “A Causa”, como é
chamada a crença que o Mestre prega, exige uma entrega total, prometendo o
desligamento da condição humana, prisioneira do tempo.
E, por mais diferentes
que possam parecer, os dois são muito semelhantes em sua marginalidade. Estão no
mesmo barco, viajando na mesma dimensão estranha e fascinante. A vida dos outros
os enfada. No fundo, os aterroriza lidar com os dias, um depois do
outro.
O que fica claro em
Freddie, aparece depois no Mestre, amparado pela esposa fanática (Amy Adams,
assustadora). Ambos são frágeis e temem viver sob a condição humana. A violência
clara em Freddie, se oculta mas está latente em Lancaster.
Paul Thomas Anderson, o
diretor de “Magnólia” (1999) com Tom Cruise, já trazia essas questões naquele
roteiro. Hoje, novamente, muitos se entediam ou saem do cinema
aturdidos.
“O Mestre” vale, sem
dúvida, pela atuação de seus atores, todos indicados no Oscar.
Mas, se o espectador
gostar da bela fotografia (Mihai Malamaire Jr) e de um assunto intrigante, a
condição humana, não vai se espantar quando o filme propõe um labirinto,
acabando na mesma praia do começo, com Joaquin Phoenix alucinado, encontrando
repouso, abraçado novamente com a mulher de areia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário