Direção: Benh
Zeitlin
Ela aparece brincando com
lama. Faz um bolo e o coroa com um patinho vivo. Cabelos encarapinhados, botas
de borracha brancas, calcinha e camiseta. Vive entre galinhas, patos, porcos,
cachorro, gato, siris. Todos no meio do lixo.
A casa dela é difícil de
descrever. Um “trailler”, talvez, montado sobre uma estrutura estranha. O acesso
é por uma escada precária e, lá dentro, uma bagunça de coisas misturadas num
espaço pequeno.
Ouvimos seus pensamentos,
assim como ela ouve o coração dos bichos, colocando-os na
orelha:
“Aposto que eles falam
quero comer. Mas às vezes falam num código que eu não
entendo...”
A câmara está sempre
próxima do rosto dela que mostra um ar de concentração e olhos atentos. É uma
criança mas passa uma determinação e reflexão difíceis de encontrar em meninas e
meninos de sua idade, uns 7 anos.
Mora com o pai Wink (
Dwight Henry), doente e alcoólatra, como todos que vivem nessa comunidade à
beira de um rio no sul dos Estados Unidos. Ele a ensina a sobreviver, a ser dura
e selvagem e amar a “Banheira”, o lugar pantanoso onde moram.
“Mamãe, é você? “,
pergunta a menina quando ouve um som diferente ou vê uma luz na
floresta.
Hushpuppy procura a mãe
que fugiu dali nadando. E escuta as preleções de uma vizinha que diz que todos
serão destruídos quando as calotas polares descongelarem e os “airoques”, bichos
pré-históricos, saírem vivos do gelo onde dormem.
Pesadelos de olhos
abertos mostram a ela grandes pedaços de gelo caindo e vultos congelados
espreitando no escuro.
“Adorável Sonhadora”, o
titulo em português, não tem nada a ver com o original que é algo como “As
Bestas do Sul Selvagem”. Mostra pessoas que vivem totalmente à margem da nossa
cultura e não são apenas pobres, querem permanecer selvagens, dentro de seu
território.
Benh Zeitlin, o diretor
estreante de 30 anos, nasceu em Nova Iorque de pai brasileiro, radicado nos
Estados Unidos. Ele vive em Nova Orleans e foi lá que rodou seu curta sobre o
furacão Katrina de 2005 que destruiu a Louisianna, “Glory at Sea” (2008).
Seu longa, protagonizado
por amadores, foi baseado na peça de Lucy Alibar, amiga de infância, “Juicy and
Delicious”. Escreveram o roteiro juntos:
“Depois do Katrina eu
estava muito ligado nos temas da água e da perda dos lugares. “Juicy” é sobre a
perda de uma pessoa. Percebi que podia juntar as duas coisas, a perda do lugar e
da pessoa e foi assim que surgiu a personagem Hushpuppy “, diz o diretor em
entrevista.
Quvenszhané Wallis tinha
8 anos quando fez o filme e agora vai completar 10. Indicada ao Oscar de melhor
atriz, se ganhar, será a mais jovem oscarizada da história desse prêmio. Além de
bem dirigida, a menina mostra talento e maturidade, aliados a uma graça natural
que ela empresta à sua personagem.
“Adorável Sonhadora”
foi indicado também a melhor filme, melhor diretor e melhor roteiro adaptado.
foi indicado também a melhor filme, melhor diretor e melhor roteiro adaptado.
Sucesso de público nos
Estados Unidos, é um filme tocante e terrível, que mostra o mundo recriado na
cabeça de uma criança que vive como um bichinho e quer permanecer
assim.
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