segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Cosmópolis



“Cosmópolis”-“Cosmopolis”, França/Canadá/Portugal/
Itália 2012
Direção: David Cronenberg


Verborrágico, claustrofóbico, cruel. Eis o retrato do mundo por David Cronenberg, um cineasta que volta a usar uma linguagem de pesadelo em seu novo filme,“Cosmópolis”, baseado no romance de Don DeLillo de 2003.
Vemos uma fila de limusines brancas. Motoristas esperam.
É em uma delas que Eric Packer (Robert Pattinson) vive, praticamente encerrado. Bilionário de 28 anos, apático e paranoico, ele vive refugiado em um mundo à parte dos outros mortais.
Por que ele está naquela limousine?
“- Preciso cortar o cabelo”, diz o bilionário.
Um segurança o informa que o trânsito está terrível porque o presidente visita a cidade.
“- Que presidente?”
Packer é alienado da realidade. Só lhe interessam suas próprias questões.
O mundo o visita lá dentro da limo. São seus consultores para assuntos de todo o tipo, que ele recebe um a um. Dentre eles, uma Juliette Binoche, bela como nunca, é Didi, consultora de arte. Ela lhe oferece um Marc Rotko, depois de uma transa acrobática. Mas Packer quer comprar a famosa “Capela de Rotko”.
“- Vai ser difícil... O que vai fazer com ela? A Capela pertence ao mundo...”, responde ela.
Outro que o visita é um jovem que entende de finanças.
“- O yuan não pode subir mais”, diz ele. “Eric, estamos especulando no vazio”.
Mas Eric muda de assunto. Sua confiança em si mesmo é o contraponto da desconfiança que tem pelos outros.
Sai da limousine e entra num táxi onde está sua mulher (Sarah Gadon), bela e riquíssima também. Mas parece que o casamento vai mal.
A realidade ronda o refúgio de Packer e, ao longo do filme que se passa em um dia, deixa suas marcas. Pessoas revoltadas em passeata picham o carro dele.
Mas parece que nada o abala. Uma auto-confiança arrogante esconde uma fragilidade de base. Em seu corpo, ele encontra uma falha, escondida em suas vísceras.
“- Você tem uma próstata assimétrica”, diz o médico que vem examiná-lo dentro da limo.
Ele escuta o diagnóstico enquanto fala de finanças com outra informante.
E parece preocupado pela primeira vez.
A câmara de Cronenberg está o tempo todo com Eric Packer, dentro da limousine que é blindada e à prova de som. Só sai com ele nas raras vezes em que Eric visita o mundo de fora.
“Cosmópolis” é um filme difícil de ver porque nos aprisiona no mundo de Eric Packer. Personagem controlador e egoísta, ele prende também o espectador e o asfixia. Muitas vezes nos perdemos nos diálogos longos, dos quais somos excluídos.
O diretor canadense David Cronenberg usa aqui o cinema para falar de política. Os rumos da humanidade nos levaram a uma crise. O capitalismo à moda de Packer não produz nada, só especula.
“O espectro do capitalismo ronda o mundo”, diz um letreiro luminoso.
Enquanto isso, rolam drogas e danças entre os mais jovens que ocuparam um teatro. E um funeral que passa e atrapalha mais o trânsito, lembra a Packer o escândalo da morte...
A cena final traz o excelente Paul Giamatti numa de suas fantásticas interpretações.
Não vá ver esse filme se você se enerva e se angustia quando é deixado de lado. É de propósito. Mas, para alguns, Cronenberg dessa vez exagerou.
Acho que é direito dele.



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