Direção: Walter
Salles
Mesmo que a relação da
maioria do público com o assunto seja distante, quase todo mundo já ouviu falar
do escritor americano Jack Kerouac, que viveu de 1922 a 1969 e que escreveu o
livro “On the Road” em 1957. Ele foi o poeta ícone da geração “beat” que lia
Proust, Rimbaud e James Joyce.
É importante saber que
essa geração “beat” influenciou muita gente, inclusive os “hippies”, que se
consideravam seus herdeiros.
Kerouac defendia uma
escrita livre e espontânea, um jeito de escrever que marcou a literatura que
apareceu depois dele.
Politicamente, os
escritores dessa geração “beat” identificavam-se com ideias anarquistas e de
esquerda, mas seu principal foco era o auto-conhecimento, que eles achavam que
viria através da adoção de um comportamento transgressivo que ia contra os
valores moralistas da época. Vale lembrar que nesse momento do pós Segunda
Guerra, os Estados Unidos viviam a era do macartismo, como ficou conhecida a
campanha liderada pelo senador McCarthy, de perseguição política aos
considerados comunistas e desrespeito aos direitos civis. Foi o tempo da “caça
às bruxas”.
O novo filme de Walter
Salles, “Na Estrada”, retrata a vida desses escritores, numa adaptação que
parecia impossível de ser feita, do livro “On the Road”.
Depois de muita pesquisa
e com a ajuda de José Rivera no roteiro, lá estão Jack Kerouac (chamado Sal
Paradise no filme, interpretado por Sam Riley, que é o escritor do livro e o
narrador da história), seu maior amigo Neal Cassidy (que ganhou o nome de Dean
Moriarty, na pele vibrante do ator Garrett Nedlund), Alan Ginsberg (que é Carlo
no filme) e William S. Burroughs (o Old Bull impactante de Viggo
Mortensen).
A eles fazem companhia
uma surpreendente Kristin Stewart, fazendo Marylou, a doidivanas primeira mulher
de Dean Moriarty e Kirsten Dunst, a segunda, Camille. Alice Braga aparece numa
ponta sendo Terry e aproveitando bem sua curta presença no
filme.
Feita essa introdução,
talvez necessária para que todos possam apreciar o filme, vamos mergulhar na
época, que foi o que Walter Salles fez, para retratar o espírito do livro “On
the Road”.
Sua câmara acompanha a
agitação dos personagens e só fica estática e comportada ao fotografar os
horizontes descortinados na estrada, no percurso feito por Jack Kerouac com Neal
Cassidy (Sal e Dean no filme), através dos Estados Unidos, de Nova York até o
México.
Mas dentro do carro
Hudson ou nas caronas que pegavam, nem eles nem a câmara admiravam paisagens. Em
closes invasivos, vemos os personagens presos em si mesmos, se interrogando a
respeito de como viver a vida, com a bebida, drogas, sexo e jazz como saídas de
fuga da angústia que sentiam.
Em seu livro, anotado num
bloquinho com um toco de lápis, Sal/Kerouac diz: “Só me interessam os loucos
(...) loucos por viver, que queimam como fogos de artifício na
noite.”
Extremos atraiam esses
escritores que provavam de tudo, não tinham limites e procuravam “algo” que lhes
escapava...
Walter Salles mostra
grande empatia pelo sofrimento existencial desses seres “fora da lei”, marginais
e pensantes. Em “Na Estrada”, filme duro e brilhante, ele não deixa que ninguém
passe ao largo de uma geração que marcou época.
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