segunda-feira, 16 de julho de 2012

Na Estrada










“Na Estrada”–“On the Road”, França / Inglaterra/ Estados Unidos / Brasil, 2012
Direção: Walter Salles
Mesmo que a relação da maioria do público com o assunto seja distante, quase todo mundo já ouviu falar do escritor americano Jack Kerouac, que viveu de 1922 a 1969 e que escreveu o livro “On the Road” em 1957. Ele foi o poeta ícone da geração “beat” que lia Proust, Rimbaud e James Joyce.
É importante saber que essa geração “beat” influenciou muita gente, inclusive os “hippies”, que se consideravam seus herdeiros.
Kerouac defendia uma escrita livre e espontânea, um jeito de escrever que marcou a literatura que apareceu depois dele.
Politicamente, os escritores dessa geração “beat” identificavam-se com ideias anarquistas e de esquerda, mas seu principal foco era o auto-conhecimento, que eles achavam que viria através da adoção de um comportamento transgressivo que ia contra os valores moralistas da época. Vale lembrar que nesse momento do pós Segunda Guerra, os Estados Unidos viviam a era do macartismo, como ficou conhecida a campanha liderada pelo senador McCarthy, de perseguição política aos considerados comunistas e desrespeito aos direitos civis. Foi o tempo da “caça às bruxas”.
O novo filme de Walter Salles, “Na Estrada”, retrata a vida desses escritores, numa adaptação que parecia impossível de ser feita, do livro “On the Road”.
Depois de muita pesquisa e com a ajuda de José Rivera no roteiro, lá estão Jack Kerouac (chamado Sal Paradise no filme, interpretado por Sam Riley, que é o escritor do livro e o narrador da história), seu maior amigo Neal Cassidy (que ganhou o nome de Dean Moriarty, na pele vibrante do ator Garrett Nedlund), Alan Ginsberg (que é Carlo no filme) e William S. Burroughs (o Old Bull impactante de Viggo Mortensen).
A eles fazem companhia uma surpreendente Kristin Stewart, fazendo Marylou, a doidivanas primeira mulher de Dean Moriarty e Kirsten Dunst, a segunda, Camille. Alice Braga aparece numa ponta sendo Terry e aproveitando bem sua curta presença no filme.
Feita essa introdução, talvez necessária para que todos possam apreciar o filme, vamos mergulhar na época, que foi o que Walter Salles fez, para retratar o espírito do livro “On the Road”.
Sua câmara acompanha a agitação dos personagens e só fica estática e comportada ao fotografar os horizontes descortinados na estrada, no percurso feito por Jack Kerouac com Neal Cassidy (Sal e Dean no filme), através dos Estados Unidos, de Nova York até o México.
Mas dentro do carro Hudson ou nas caronas que pegavam, nem eles nem a câmara admiravam paisagens. Em closes invasivos, vemos os personagens presos em si mesmos, se interrogando a respeito de como viver a vida, com a bebida, drogas, sexo e jazz como saídas de fuga da angústia que sentiam.
Em seu livro, anotado num bloquinho com um toco de lápis, Sal/Kerouac diz: “Só me interessam os loucos (...) loucos por viver, que queimam como fogos de artifício na noite.”
Extremos atraiam esses escritores que provavam de tudo, não tinham limites e procuravam “algo” que lhes escapava...
Walter Salles mostra grande empatia pelo sofrimento existencial desses seres “fora da lei”, marginais e pensantes. Em “Na Estrada”, filme duro e brilhante, ele não deixa que ninguém passe ao largo de uma geração que marcou época.

Nenhum comentário:

Postar um comentário