quinta-feira, 12 de julho de 2012

Até a Eternidade





“Até a Eternidade”- “Les Petits Mouchoirs”, França, 2010
Direção: Guillaume Canet

Um “nightclub” em Paris. Música e risos. Homens conversam no banheiro. Um deles senta-se numa mesa mas logo sai, depois de beijar na boca uma garota que ele, visivelmente, não conhece.
Parece bêbado ou drogado porque sai meio que cambaleando do lugar. Põe o capacete e o vemos na sua moto, em uma Paris que amanhece, deserta.
A moto cruza a ponte sobre o Sena e um caminhão enorme aparece do nada. Ouve-se um estrondo. Gritamos juntos no cinema. Aconteceu uma tragédia.
A tela fica escura.
Quando voltam as imagens, estamos no elevador de um hospital e os amigos do motoqueiro (impossível não ter morrido, pensamos nós), revezam-se para vê-lo num leito de UTI, olhos fechados, rosto todo cortado, dentes quebrados, um colar ortopédico no pescoço e tubos por todo o lado.
Consternação geral e aquele clima...
Marion Cotillard, que faz Marie, parece ser a mais próxima de Ludo (Jean Dujardin), o acidentado. Seus olhos azuis transmitem preocupação.
“- Você está linda de máscara...Vou sair daqui amanhã”, sussurra Ludo no ouvido dela.
Na sala de espera, choro e palavras de consolo.
Já fora do hospital, os amigos de Ludo conversam:
“- É maldade deixá-lo”, diz um.
“- Esperem. Ludo é como um irmão. Mas não podemos fazer grande coisa. Ele está na UTI”, diz outro.
“- Vamos por duas semanas e voltamos. São as nossas férias. Que tal?”, arremata alguém.
“- É a melhor solução”, concordam todos.
“Até a Eternidade”, filme escrito e dirigido por Guillaume Canet, seu terceiro longa, tem como tema a amizade. Há quem considere esse sentimento como mais importante que o amor.
O grupo de amigos, todos entre 30 e 40 anos, sai sempre juntos para as férias na casa de Max (François Cluzet). Não abrem mão do mar azul, areias brancas e do barco que o amigo Max conduz, se exibindo e mandando em todo mundo.
Deixam Ludo na UTI porque não há nada a fazer. A não ser, talvez, esperar que ele melhore ou piore, em companhia. Mas como ninguém é santo, o egoísmo prevalece.
O filme de Guillaume Canet fala também sobre o que acontece quando amigos ficam juntos numa casa. Claro que vai haver conflito, confidências que esperam aprovação, segredos compartilhados, maus humores que transparecem mais do que nunca mas, haverá também, o afeto que une aquelas pessoas que estão lidando com a ideia da morte estar rondando.
Há ali um provável luto a ser trabalhado. E, por isso, os amigos se distraem com a sexualidade uns dos outros, os homens rivalizam entre si para ver quem é o melhor em tudo e as mulheres fazem o grupinho à parte para criticar.
Tudo muito humano, simpático e envolvente.
Há porém, a figura do pescador, que é o mensageiro da verdade que incomoda...
Talvez Canet tenha exagerado no tempo porque o filme tem 158 minutos. Mas, talvez não. Como aprofundar o olhar sobre os personagens e torná-los tão parecidos com a gente? Ele precisava de mais cenas.
O saldo é positivo para o marido de Marion Cotillard, aquele que acabou de deslumbrar as mulheres que o viram em “Apenas Uma Noite”, como o amante francês de Keira Knightley.
Bom diretor, roteirista e ator, o belo Guillaume Canet não aparece em “Até a Eternidade” mas merece a atenção do público que gosta de comédias dramáticas.
Ele tem também bom gosto. Escolheu Nina Simone para cantar “My Way” nas cenas finais. Levem seus lencinhos.

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