Direção: Luc Besson
A primeira imagem do filme já é comovente. Uma menina pequena,
sentada no colo do pai, pede que ele lhe conte uma
história.
“- Posso contar uma de quando a Birmânia era chamada de País do
Ouro.”
Ela se aconchega. Eles estão num jardim, à sombra de palmeiras, à
beira de um lago.
“- Era uma vez um lindo país onde havia florestas de ébano e teca
por toda a parte. Naquele tempo, tigres vagavam nas selvas e manadas de
elefantes caminhavam nas planícies. Havia muita riqueza nesse país. Safiras
azuis e rubis vermelhos... Mas essa é uma história triste porque vieram soldados
de um país distante e tiraram tudo de nós. Ficamos muito pobres...”, finaliza,
levantando a filha e pousando-a na grama do jardim.
Colhe uma flor e com ela enfeita o cabelo da menina, que o olha
encantada.
Vestido em seu uniforme do exército, vira-se e dá um adeus, antes
de entrar no carro.
Foi a última vez que ela viu o pai, em Ragum, na Birmânia, onde
moravam. Ela tinha dois anos de idade.
Assim começa a história verdadeira de Aung San Suu Kyi,que muito
cedo perdeu o pai, herói nacional na luta pela independência do país, colonizado
pelos ingleses.
No golpe militar de 1962, instalou-se na Birmânia (hoje Mianmar),
um governo de generais, conhecido como um dos mais cruéis e repressivos do
mundo.
Michelle Yeoh faz, com elegância e sobriedade, o papel dessa
mulher que vai viver fora de seu país, casa-se na Inglaterra, tem dois filhos e
que, por causa da doença de sua mãe, volta e se vê compelida a abraçar a causa
de seu povo, vítima da tirania.
Ela lidera, então, uma luta de resistência pacifica contra o
governo brutal de seu país, discursando em comícios, com sinceridade e firmeza,
para uma população que a venera e levanta retratos de seu
pai.
Carismática, ela defendeu eleições democráticas, enfrentando
ameaças terríveis, prisão domiciliar por mais de 15 anos, afastamento do marido
(o ótimo David Thewlis) e dos filhos, que ela viu poucas vezes em todos esses
anos, impedidos pela não concessão de vistos pelos generais, que queriam
forçá-la a deixar o país.
Magrinha, voz suave e firme, rosto bonito, franja, cabelos sempre
presos num coque baixo, enfeitados com as orquídeas do jardim, usando a saia
longa e blusa do traje local, ninguém adivinharia a força e a tenacidade que a
distinguiam, não importa o que acontecesse.
A revista Time colocou-a na capa, chamando-a de “Orquídea de Aço”
quando em 1991, seus filhos e marido receberam por ela o prêmio Nobel da
Paz.
O filme de Luc Besson é quase austero de tão simples. O roteiro de
Rebecca Frayn conta a história sem malabarismos.
Alguns críticos reclamaram que o filme dá muita ênfase ao
casamento e vida doméstica de Suu Kyi. Pode-se responder dizendo que, assim
fazendo, a roteirista mostrou o tamanho da renúncia afetiva da líder birmanesa
em prol da causa de seu país.
De qualquer modo, o diretor Besson oferece a tela a Aung San Suu
Kyi e à sua mensagem em defesa da democracia ao mundo.
Recentemente, aos 67 anos, ela foi empossada como membro do
Parlamento e fez sua primeira viagem internacional desde 1988, sendo recebida
com honras por chefes de estado.
Só por nos mostrar a existência dessa mulher valente, o filme de
Luc Besson vale a pena ser visto.
“A Dama de Yanoun”, como Suu Yi é também chamada, emociona e
ensina a todos o quanto vale lutar por um sonho em que se
acredita.
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