Direção: Christophe
Honoré
Paris, 1964. Pessoas bem
vestidas passeiam pelas ruas, admirando as vitrines. Ouve-se, em francês, a
música “These boots are made for walking”, enquanto acompanhamos uma vendedora
da loja de sapatos Roger Vivier, esconder em sua saia rodada, um par vermelho de
salto alto.
A loja está fechando e a
dona dispensa a garota loira que, quando se vê longe, descalça as sapatilhas e
experimenta os sapatos roubados em frente a uma vitrine que lhe serve de
espelho.
Nesse momento, um rapaz a
confunde com uma “profissional” de rua e oferece dinheiro pelos seus serviços. E
ela aceita, no impulso.
Ouvimos uma voz feminina
que comenta em “off ”:
“- Se Roger Vivier nunca
tivesse feito sapatos, mamãe e papai nunca teriam se
encontrado.”
A mãe Madeleine, quando
jovem, é Ludivine Sagnier e Catherine Deneuve, quando mais velha. E a filha Véra
é Chiara Mastroianni, na vida real filha de Deneuve e Marcelo Mastroianni. Ela
puxou a beleza dos pais mas, como atriz, deve ser difícil ser comparada a dois
dos mais talentosos “monstros” do cinema.
No filme, o pai de Véra é
um tcheco alto e bonito, o sérvio Rasha Bukvic, um cliente que se enamora de
Madeleine e a leva para Praga.
E começam assim, as
histórias de amor e dor que todos os personagens do filme vão viver seja em
Praga, Londres, Paris, Montreal ou Nova Iorque, durante um período de 40
anos.
O amor e seus percalços é
o tema de “Bem Amadas”, uma tradução que não tem nada a ver com o espírito do
filme, nem com o titulo em francês, já que nele, tanto homens como mulheres vão
viver seus momentos de bem amados.
É o segundo musical do
diretor francês de 42 anos Christophe Honoré, que já tinha feito “Canções de
Amor” em 2008. Ele segue uma tradição antiga francesa, que todo mundo que gosta
de musicais adorou, quando viu Catherine Deneuve, mocinha, em “Guarda-Chuvas do
Amor”- “Les Parapluies de Cherbourg” de 1964, de Jacques Démy, que ganhou Oscar
de melhor filme estrangeiro, Palma de Ouro em Cannes e Globo de
Ouro.
Como manda essa tradição,
as músicas do filme, escritas por Alex Beaupain, são cantadas sem grandes
orquestrações, nem coreografias. As palavras são entoadas de maneira natural,
sem exageros.
O diretor tcheco Milos
Forman, Louis Garrel, Michel Delpech e Paul Schneider vão contracenar com as
mulheres do filme e também terão que se ver às voltas com tudo que o amor sempre
traz para quem se apaixona.
Como diz o refrão da
última canção: “Posso viver sem você, mas não posso viver sem te
amar.”
Uma reflexão que se impõe
é a comparação do que era o amor livre nos anos 60 e o que é amar agora, com
tudo de pesado que a sexualidade pode trazer hoje em dia para as pessoas. A
descontração versus a paranoia e o perigo real dos tempos de
AIDS.
Há quem irá reclamar de
“Bem Amadas” e dizer que o filme é longo e meloso e que as músicas não são nada
demais. Estes, já estão avisados. Evitem.
Porque “Bem Amadas” é
para pessoas que gostam de experimentar um cinema diferente do habitual, que são
muito românticas e admiram Catherine Deneuve, um ícone das
telas.
E, pode apostar, que não
são tão poucos assim não.
Muito bom!
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