segunda-feira, 21 de maio de 2012

O Que Eu Mais Desejo







“O Que Eu Mais Desejo” – “Kiseki”, Japão, 2011
Direção: Hiroka zu Kore-Eda


Quem já não pensou em realizar um desejo vendo uma estrela cadente no céu?
Pois, no Japão, o menino Koichi (Koki Maeda), só quer um coisa nesse mundo: ter de volta a sua família.
Seu pai e mãe se separaram e ele sente falta do pai e do irmão Rynosuke (Ohshiro Maeda, que é irmão de Koki na vida real). Os dois moram no norte da ilha enquanto ele e a mãe moram no sul, com os avós dele.
A história da estrela cadente, que realiza desejos, ganhou aqui uma nova versão. As crianças acreditam que quando dois trens-bala se cruzam, a energia é tal que um milagre acontece e, quem presencia o evento, realiza um desejo.
Koichi não pensa em outra coisa. Quer planejar uma excursão a esse lugar com poderes mágicos e conseguir ter, de novo, junto a ele e a mãe, pai e irmãozinho.
O quotidiano da cidade e seus habitantes é mostrado na primeira parte do filme por uma câmara tranquila, que deixa os personagens à vontade, em sua vida simples e sem luxos. Quase todos são crianças ou velhinhos aposentados, porque a maioria dos jovens deixaram a pequena cidade à procura de realizar seus sonhos em Tóquio.
E tudo é vida que passa sem atropelos maiores, a não ser por uma apreensão resignada que paira sobre a cidade. Lá existe um vulcão ativo que lança cinzas sobre as ruas e os habitantes de Kagoshima.
Todos vivem sob sua ameaça mas sem pensar muito nisso, numa resignação vital.
No quarto de Koichi vemos, pendurado na parede, um desenho com o vulcão em plena explosão, lançando lavas de fogo para o céu. Para ele, a pior erupção já acontecera. Foi no dia em que seus pais se separaram e ele perdeu a família...
A segunda parte do filme, que conta a execução do plano secreto de Koichi é poética e divertida. Táticas e truques são usados pelas crianças para conseguir a adesão de alguns adultos, enquanto mostram seu lado prático e também seus receios pelo sucesso da excursão.
A cena no jardim sem dono que mostra o encantamento das crianças com as flores que nascem ao léu, é pura delícia.
Kore-Eda é um mestre do cinema japonês que gosta de se ocupar com crianças. O seu “Ninguém Pode Saber” de 2004 é uma denúncia trágica do abandono.
Aqui é a delicadeza que preside ao desenrolar da história, contada sem pressa, fazendo a plateia presenciar as pequenas e as grandes perdas que todos vivem naquela cidade, onde a vida segue seu curso esperado, mesmo que à beira de uma possível tragédia sem aviso prévio.
A perda do narcisismo egoísta infantil vai acontecer quando menos se espera e vai levar um menino ao caminho do crescimento, guiado por um pai ausente fisicamente mas presente na mente do filho.
Ajuda muito a apreciar “O Que Eu Mais Desejo”, o fato de não nos esquecermos de lembrar da nossa própria infância durante o filme. É terapêutico.

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