Direção: Beto Brant e Renato Ciasca
Quem seria aquela bela moça que jaz nua na praia do rio? Longos cabelos negros e olhos assustados, consciente de uma presença estranha, ela se oferece, debruçada.
Seu rosto lambe a areia, seu dorso, arqueado para a frente numa
posição de submissão total, sacrifica-se ao mais forte do que
ela.
Bela metáfora visual para a Amazonia, indefesa frente ao homem
branco destruidor, que não respeita os povos que nela habitam, nem sua condição
selvagem...
“Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios”, tem
toques ecológicos mas, inspirado no livro de mesmo nome de Marçal Aquino, seu
tema é um triângulo amoroso fadado à tragédia. A dupla de diretores, Beto Brant
e Renato Ciasca, que já trabalhou junto outras vezes, tem recebido mais elogios
que críticas.
A paisagem da floresta cede lugar às casas simples e às ruas de
terra batida de Santarém e Itaituba, no Pará. Lá vai ser contada a história de
amor de Lavínia e Cauby.
O rio Arapiuns marca o início e o fim da trajetória de uma paixão,
grande demais como a própria floresta de suas margens, que acolhe os forasteiros
da nossa história.
Sabemos pouco sobre o fotógrafo Cauby (Gustavo Machado), que chega
de balsa pelo rio. Foge de um passado penoso ou procura
aventuras?
Quando ela aparece, invade a tela com uma beleza sem artifícios.
Lavínia (Camila Pitanga), vai ser o eixo em torno ao qual a história vai ser
contada.
As lentes do fotógrafo Cauby a elegem como musa e Lavínia se
espalha pelas paredes da casa dele, em toda a sua formosura e mistério. Porque
ela não se abre. Sua vida vai ser contada aos poucos.
Mas se entrega, como a Iara mítica da praia, a Cauby. Sexualidade
à flor da pele, que explode como onda que quebra e vai morrer na cama daquele
homem.
Há ainda o pastor Hernani (Zécarlos Machado). O terceiro do
triângulo. Bem intencionado, quer redimir a todos porque está em luta interna
com seus próprios demônios. Ele é quem traz Lavínia da decadência das calçadas
de Copacabana para a floresta.
A fotografia de Lula Araujo é magistral. Tanto os rostos e corpos
humanos, como a cidadezinha pobre, são transformados em quadros de um pintor
talentoso que não pinta apenas a superfície mas adentra outras camadas, sem
perturbar a natureza do que é retratado.
E maravilha nossos olhos com o rio turqueza, as matas
verde-amarelas e o rosto transfigurado de Camila Pitanga quando se abre num
sorriso iluminado.
Quem gosta de filmes imperfeitos mas com substância, não pode
perder “Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos
Lábios”.
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