segunda-feira, 28 de maio de 2012

Apenas uma Noite










“Apenas Uma Noite”-“Last Night” França, Estados Unidos 2011
Direção: Massy Tadjedin


Há um mal-estar palpável nos relacionamentos que envolvem homem e mulher na atualidade.
A liberdade sexual trouxe ganhos evidentes mas também causou danos, no caso por exemplo, de relacionamentos superficiais que não duram, principalmente entre os mais jovens. Poucos tem alguma paciência com os defeitos alheios e qualquer situação mais complicada é evitada com a troca de parceiros.
Por outro lado, os homens sempre tiveram mais liberdade para ter várias parceiras e sempre contaram com a conivência da cultura machista no caso de manterem relações com duas ou mais mulheres ao mesmo tempo.
As mulheres, por sua vez, conquistaram direitos iguais aos do homem, adotaram o modelo masculino no campo profissional e partiram para conquistar o mundo.
Mas e como fica o sexo? Sabemos que homens e mulheres não partilham do mesmo modo de viver a sexualidade, nem no gozo, nem na maneira de escolher seus parceiros. E, no entanto, há mulheres que usam o modelo masculino também na cama.
Isso traz uma discussão interessante sobre os temas da monogamia, fidelidade, traição e mentira nos relacionamentos estáveis e no casamento.
Em “Apenas Uma Noite”, a diretora iraniana Massy Tadjedin, que também escreve o roteiro, quer nos desafiar a pensar a respeito dessas questões.
E, para isso usa um casal. Joanna (Keira Knightley) e Michael (Sam Worthington) levam uma vida charmosa, confortável e aparentemente feliz em New York.
Numa noite vão a uma festa onde encontram Laura (Eva Mendes), atraente colega de trabalho de Michael. Joanna, que a câmara flagra no táxi indo para a festa com uma fisionomia estranha, entrega-se a suspeitas e passa a desconfiar da fidelidade do marido.
Ora, será que Joanna observa Laura e Michael na festa dirigida pela insatisfação com a própria vida? Ela é escritora e parece que está sofrendo um bloqueio na criatividade. Nada melhor que procurar fora dela um tema para distrair-se.
Só que o inesperado acontece, justamente na noite em que o marido de Joanna está em viagem de trabalho com Laura. Um antigo amor aparece por acaso e isso a desconcerta. Reviver esse amor não seria mais interessante do que sofrer de ciúmes pelo marido?
O filme faz um vai e vem entre Los Angeles, onde estão Laura e Michael e New York, onde Joanna e Alex (o francês Guillaume Canet) se encontraram.
E as perguntas aparecem. Será que é a insatisfação que leva à traição? Ou é a curiosidade?
Ou seja, os motivos para a traição pertencem à relação que não vai bem ou, mesmo indo bem a relação, alguém pode se sentir tentado a experimentar uma novidade?
É o casamento de Joanna e Michael que está em crise ou isso pode acontecer com casais que se amam?
Entre Michael e Laura, a situação é diferente da de Joanna e Alex? Haveria, no segundo caso um sentimento que justificaria a aproximação dos dois, que não fosse simples e puro desejo, como no caso de Michael e Laura?
E a culpa? Só existe quando há uma relação física ou só o fato de estar envolvido emocionalmente com alguém já traz culpa?
O filme acaba de modo abrupto, fazendo com que as pessoas tenham que conversar, para cada um tentar explicar o caso segundo suas próprias convicções. Ou mudá-las. Conversar e pensar servem para isso também.

A Delicadeza do Amor












“A Delicadeza do Amor”- “La Délicatesse” França, 2011
Direção: David e Stéphane Foenkinos

Uma charmosa ruazinha em Paris. Vemos, de costas, uma mocinha de rabo de cavalo, vestindo um casaco azul marinho com capuz. Anda com um passo leve e parece contente consigo mesma. Nem mesmo precisamos ver seu rosto esboçando um sorriso e os olhos sonhadores sobre a franja, para saber que ela está apaixonada.
Entra em um bistrô. Pega o menú.
Ao lado vemos um rapaz bonito que a observa.
Ouvimos os pensamentos dele:
“Se ela pedir um suco de abricô,vou até a mesa dela.”
Chega o garçom:
“- Por favor, um café”, diz ela.
E, depois de uma pausa:
“-Não. Um suco de abricô!”
Ele corre para ela e os dois saem abraçados.
“- Será que todos os casais visitam o lugar onde se conheceram?” pergunta ela.
“- Claro! Tem alguns que até acendem uma velinha!” responde rindo o rapaz.
Nathalie e François. Estão apaixonados e são jovens.
“- Você quer casar comigo?”
Ela olha para ele, agradávelmente surpreendida.
“- Eu deveria ter sido mais romântico, sabe, um jantar, velas, alianças...”
Dizendo isso, ele se ajoelha aos pés dela, beija sua mão e coloca um anel em seu dedo.
Muitas risadas porque é o anel do chaveiro dele.
“-Você vai ver! Vai ser o máximo ser minha mulher!”
A câmara gira em torno aos dois e a sequência do pedido de casamento se transforma. Os dois estão de branco. Noiva e noivo. Beijos.
Fotos polaroid, nas mais diversas poses dos dois, enchem a tela: esquiando, jantando, dançando, sempre sorrindo felizes para a câmara.
O primeiro amor de Nathalie (Audrey Tautou) é François
(Pio Marmai). Ele é um príncipe encantado, o realizador dos sonhos dela, o que lê seus pensamentos, o belo e encantador François.
Costuma ser assim todo o primeiro grande amor da juventude. É aquele amor idealizado, que não leva em conta o que o ser amado é, mas aquilo que gostaríamos que ele fosse. Amamos uma continuação romântica de nós mesmos. No fundo, amamos o amor.
Geralmente esse amor idealizado dura pouco e caímos na real.
Para Nathalie e François entretanto, não houve tempo para isso.
E ela se transforma perante nossos olhos. Corpo tenso, rosto fechado, roupas escuras e descombinadas, olhar vazio.
O luto pelo amor que não se viveu plenamente é sempre muito mais difícil do que chorar pelo amor que acabou.
Mas ela é jovem e três anos depois aparece Markus (François Damien), de quem ela tenta fugir.
“A Delicadeza do Amor”, dirigido pelos irmãos Foenkinos, fala do amor sem pudor e com simpatia.
O filme se baseou no livro “A Delicadeza” de David Foenkinos, que também é o roteirista.
E a gente sai leve do cinema, levando na memória o sorriso novo no rosto da atriz talentosa que é Audrey Tautou.
Ah! O amor...

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Flores do Oriente










“Flores do Oriente”- “Jin Ling Shí San Chai”, China/ Hong Kong, 2011
Direção: Zhang Yimou

Uma neblina densa cobre a tela. Ouvem-se ruídos de pessoas correndo em meio a escombros, fumaça e fogo.
Não conseguimos identificar ninguém. É uma massa que se mistura no cenário de horror. Fogem desesperados e sem rumo.
Mas a câmara aproxima-se mais e vemos um grupo de mocinhas, lideradas por um rapazinho (o ótimo Huang Tianyuan). Muito pálidas, vestem um uniforme cinza e correm como podem, evitando obstáculos de todo tipo.
Perto delas, um homem branco também corre, tentando não pisar nos corpos que se amontoam nas ruas.
Soldados japoneses enfiam seus fuzis com baionetas nos montes de escombros. Quando a baioneta sai ensanguentada, sinal de gente viva, atiram sem piedade.
Estamos na China em 1937. Depois de conquistar Shangai, o exército imperial japonês luta a última batalha com tropas chinesas na cidade de Nanquim, depois de 20 dias de bombardeios.
“Flores do Oriente”, o último filme do prestigiado diretor chinês Zhang Yimou, 56 anos, dos belíssimos ”Lanternas Vermelhas”1991 e “Clã das Adagas Voadoras”2004, conta o episódio da 2ª Guerra Sino-japonesa, que ficou conhecido como “O Massacre de Nanquim”.
No dia 13 de dezembro de 1937, tropas japonesas mataram milhares de chineses (estima-se um número que vai de 100.000 a 300.000 pessoas). Mas o pior da ferocidade desse massacre foi a caça dos soldados japoneses às mulheres chinesas, que foram estupradas e mortas sem piedade.
No filme, o agente funerário John (Cristian Bale) que tinha vindo enterrar o padre da Winchester Cathedral, refugia-se lá dentro com as meninas.
Logo, um outro grupo, muito diferente, procura abrigo na Catedral: as13 mulheres de um bordel de Nanquim.
Vestidas com roupas coloridas, acessórios extravagantes, muito maquiadas e com sua algazarra, faziam um contraste inesperado com as meninas de uniforme.
Protegidas por John, que se faz passar por padre, tanto as meninas como as prostitutas vão se unir, deixando os preconceitos de lado.
John encanta-se com a líder do bordel, Yo Mo (a linda atriz estreante Ni Ni) provocante e sedutora, com os lábios sempre vermelhos e o corpo insinuante num vestido “sexy”. Mas o amor não tem vez em uma situação angustiante de vida ou morte.
E, no entanto,no final, vai haver um sacrifício em nome de um amor mais generoso e mais solidário que o romântico.
O filme é baseado no livro “The 13 Women of Nanging” da escritora Yan Gelling, que nasceu nos anos 50 em Shangai. Zhang Yimou conta a história de um jeito que emociona e aperta o nosso coração, ao mesmo tempo que o diretor evita ser muito cru, filmando em câmara lenta e através de detalhes menos sórdidos, sem evitar o sangue e a violência.
A direção de arte é um ponto alto e a fotografia esplendorosa.
“Flores do Oriente” é um drama de guerra com um toque original que prende nossa atenção e nos torna solidários com os personagens.
Pena que alguns críticos qualificaram de “estetizante” a maneira de Yimou filmar esse terrivel episódio, ao mesmo tempo que o acusam de mostrar os japoneses de forma maniqueísta, como inimigos impiedosos.
O fato é que até hoje as relações entre China e Japão estão estremecidas e que os chineses tem horror aos japoneses...
Mas vá ver “Flores do Oriente” e julgue você mesmo.


segunda-feira, 21 de maio de 2012

O Que Eu Mais Desejo







“O Que Eu Mais Desejo” – “Kiseki”, Japão, 2011
Direção: Hiroka zu Kore-Eda


Quem já não pensou em realizar um desejo vendo uma estrela cadente no céu?
Pois, no Japão, o menino Koichi (Koki Maeda), só quer um coisa nesse mundo: ter de volta a sua família.
Seu pai e mãe se separaram e ele sente falta do pai e do irmão Rynosuke (Ohshiro Maeda, que é irmão de Koki na vida real). Os dois moram no norte da ilha enquanto ele e a mãe moram no sul, com os avós dele.
A história da estrela cadente, que realiza desejos, ganhou aqui uma nova versão. As crianças acreditam que quando dois trens-bala se cruzam, a energia é tal que um milagre acontece e, quem presencia o evento, realiza um desejo.
Koichi não pensa em outra coisa. Quer planejar uma excursão a esse lugar com poderes mágicos e conseguir ter, de novo, junto a ele e a mãe, pai e irmãozinho.
O quotidiano da cidade e seus habitantes é mostrado na primeira parte do filme por uma câmara tranquila, que deixa os personagens à vontade, em sua vida simples e sem luxos. Quase todos são crianças ou velhinhos aposentados, porque a maioria dos jovens deixaram a pequena cidade à procura de realizar seus sonhos em Tóquio.
E tudo é vida que passa sem atropelos maiores, a não ser por uma apreensão resignada que paira sobre a cidade. Lá existe um vulcão ativo que lança cinzas sobre as ruas e os habitantes de Kagoshima.
Todos vivem sob sua ameaça mas sem pensar muito nisso, numa resignação vital.
No quarto de Koichi vemos, pendurado na parede, um desenho com o vulcão em plena explosão, lançando lavas de fogo para o céu. Para ele, a pior erupção já acontecera. Foi no dia em que seus pais se separaram e ele perdeu a família...
A segunda parte do filme, que conta a execução do plano secreto de Koichi é poética e divertida. Táticas e truques são usados pelas crianças para conseguir a adesão de alguns adultos, enquanto mostram seu lado prático e também seus receios pelo sucesso da excursão.
A cena no jardim sem dono que mostra o encantamento das crianças com as flores que nascem ao léu, é pura delícia.
Kore-Eda é um mestre do cinema japonês que gosta de se ocupar com crianças. O seu “Ninguém Pode Saber” de 2004 é uma denúncia trágica do abandono.
Aqui é a delicadeza que preside ao desenrolar da história, contada sem pressa, fazendo a plateia presenciar as pequenas e as grandes perdas que todos vivem naquela cidade, onde a vida segue seu curso esperado, mesmo que à beira de uma possível tragédia sem aviso prévio.
A perda do narcisismo egoísta infantil vai acontecer quando menos se espera e vai levar um menino ao caminho do crescimento, guiado por um pai ausente fisicamente mas presente na mente do filho.
Ajuda muito a apreciar “O Que Eu Mais Desejo”, o fato de não nos esquecermos de lembrar da nossa própria infância durante o filme. É terapêutico.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Mistérios de Lisboa




“Mistérios de Lisboa”- Idem, Portugal/França, 2010
Direção: Raul Ruiz (1941-2011)


Ver o filme “Mistérios de Lisboa” é como entrar numa máquina do tempo e voltar a Portugal no século XIX.
Em um redemoinho de imagens preciosas, ficamos conhecendo histórias rocambolescas de filhos ilegítimos, amantes secretos, casamentos de fachada, padres com passado enigmático, freis que se encerram em conventos para se mortificar de uma vida de libertino, cartas perdidas, amores incendiários e tudo que a natureza humana esconde quando é reprimida.
Dirigido pelo chileno Raul Ruiz, que morava em Paris e lá morreu em agosto do ano passado com 70 anos, “Mistérios de Lisboa” foi aclamado em festivais do mundo inteiro.
Passou na última Mostra de Cinema de SP para uma plateia estrelada, onde se viam desde atores globais a autores de renome, até quase toda a inteligência paulista. Todos em silêncio interessado durante as quase 5 horas do filme.
Inspirado no romance homônimo de 1854, de Camilo Castelo Branco, escritor português que nasceu em 1825 e suicidou-se em 1890, “Mistérios de Lisboa” é um painel, com tintas de novela, da história e da vida sentimental portuguesa. Dá conta de metade do século XIX e visita o XVIII, extrapolando o tempo e nacionalidades, para mostrar o coração humano que sempre vai chorar amores proibidos e contrariados ou a ausência dele na frivolidade e frieza da vida de certos seres humanos.
O filme começa mostrando ladrilhos portugueses que vão sugerindo a história, antes mesmo que ela seja contada. Assim, uma arara presencia uma conversa num salão, uma gôndola em Veneza leva um casal romântico, um fuzilamento envolve um pelotão de soldados e prisioneiros de guerra, uma casa arde em chamas.
E o narrador assim começa a história:
“Eu tinha 14 anos e não sabia quem eu era... Todos os meninos tinham sobrenomes, férias, passeios e presentes. Eu, não.”
No internato, “João” descobre que era, na verdade, filho de uma Condessa, infeliz no casamento, chama-se Pedro da Silva e Padre Dinis, seu protetor, que o menino sempre pensara que era seu pai, vivera várias identidades na vida e guardava enigmas que mudarão sua posição no mundo.
A fotografia deslumbrante de André Skankowski realça os belíssimos figurinos e cenários de Isabel Branco.
E a câmara dança em torno aos personagens, não se mantendo estática, como se pudesse ajudar a desvendar mistérios, através de seus ângulos originais.
De vez em quando percebe-se uma nota dissonante, um algo que não se encaixa. É a assinatura de Raul Ruiz.
No elenco de atores portugueses e franceses destacam-se Lea Seydoux, como a vingativa Blanche de Montfort e a bela Maria João Bastos que faz a mãe de Pedro, vivido na infância por um comovente João Luis Arrais e Adriano Luz que faz Padre Dinis.
O próprio Raul Ruiz, comentando seu filme, disse:
“- Busco criar emoção, por isso apostei num filme que tem espaço para respirar e pensar.”
Se você gosta disso, corra para ver “Mistérios de Lisboa”.


sexta-feira, 11 de maio de 2012

O Exótico Hotel Marigold



“O Exótico Hotel Marigold “- “The Best Exotic Hotel Marigold”, Inglaterra, 2012
Direção : John Madden

Envelhecer nunca é fácil. Por isso, chamar a velhice de “melhor idade”, só se for contemplando a alternativa.
O diretor John Madden, 63 anos, de “Shakespeare in Love”(1998), que ganhou sete Oscars, inclusive o de melhor filme, dirige “O Exótico Hotel Marigold”, com um ótimo elenco “sênior”, que vai brincar com as mazelas dos mais velhos usando o bom humor britânico.
Baseado no livro de Deborah Moggach, o filme conta a história de sete velhinhos ingleses que, por essa ou aquela razão, decidem mudar-se para a India.
Assim, uma ex-governanta azeda e xenófaba quer assistência médica que não pode pagar na Inglaterra (a ótima Maggie Smith), um casal está arruinado e procura um lugar mais barato para morar, outro ainda quer reencontrar o amor de sua vida (Tom Wilkinson), uma viúva recente e empobrecida quer ir para longe da família e escreve um blog contando o que acontece na viagem (a maravilhosa Judi Dench) e uma solteirona e um solteirão procuram o companheiro que faltou em suas vidas.
Todos pensam ter comprado uma passagem para Shangrilá, onde os sonhos se realizam. Mas, tanto eles como a plateia, vão ver que não é fácil encontrar a Terra Prometida, aquela onde “jorra o leite e o mel”...
A India, que já foi a joia da Coroa Britânica, é hoje um país que se ama ou odeia. Ninguém fica indiferente à antiga terra de sultões e marajás.
Por um lado, a India oferece o que se quer ver, os belos templos e palácios de mármore, as cores dos sáris das mulheres, a luz que não tem igual no mundo, elefantes com orelhas tatuadas, camelos, macacos, vacas sagradas e os sorrisos de um povo acolhedor.
De outro, o viajante vai encontrar a sujeira, a comida de paladar estranho e causadora de indizíveis sofrimentos estomacais, a água que contamina, o trânsito infernal, o calor insuportável ou as chuvas torrenciais e a pobreza onipresente.
E viver lá deve ser muito diferente de fazer turismo. É o que os velhinhos ingleses vão descobrir.
Mas “O Exótico Hotel Marigold”prova que o velho instinto de sobrevivência refloresce quando é invocado. E que o poder de adaptação do ser humano é quase universal.
Chegando à India, os velhinhos do filme vão tentar ajudar Sonny Kapoor (Dev Patel de “Quem Quer Ser um Milionário”)
a tornar realidade o “photoshop”do Hotel Marigold que eles compraram na Inglaterra.
E aprendem que Shangrilá e a Terra Prometida são mitos. Ou melhor, estados de mente que podem ser alcançados depois de muito trabalho interno. Porque implicam em deixar os sonhos da juventude de lado e por a mão na massa da realidade, do momento presente, da vida com seu quotidiano possível e satisfatório.
Quem quer sobreviver, entende rápido o que precisa fazer.
Sem ser um filme com voos originais, “O Exótico Hotel Marigold” diverte com simplicidade.
E talvez os mais jovens aprendam uma ou duas lições de como envelhecer bem. O que já é muita coisa, pensando bem.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios

“Eu Receberia as Piores Noticias dos Seus Lindos Lábios”, Brasil 2011
Direção: Beto Brant e Renato Ciasca

Quem seria aquela bela moça que jaz nua na praia do rio? Longos cabelos negros e olhos assustados, consciente de uma presença estranha, ela se oferece, debruçada.
Seu rosto lambe a areia, seu dorso, arqueado para a frente numa posição de submissão total, sacrifica-se ao mais forte do que ela.
Bela metáfora visual para a Amazonia, indefesa frente ao homem branco destruidor, que não respeita os povos que nela habitam, nem sua condição selvagem...
“Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios”, tem toques ecológicos mas, inspirado no livro de mesmo nome de Marçal Aquino, seu tema é um triângulo amoroso fadado à tragédia. A dupla de diretores, Beto Brant e Renato Ciasca, que já trabalhou junto outras vezes, tem recebido mais elogios que críticas.
A paisagem da floresta cede lugar às casas simples e às ruas de terra batida de Santarém e Itaituba, no Pará. Lá vai ser contada a história de amor de Lavínia e Cauby.
O rio Arapiuns marca o início e o fim da trajetória de uma paixão, grande demais como a própria floresta de suas margens, que acolhe os forasteiros da nossa história.
Sabemos pouco sobre o fotógrafo Cauby (Gustavo Machado), que chega de balsa pelo rio. Foge de um passado penoso ou procura aventuras?
Quando ela aparece, invade a tela com uma beleza sem artifícios. Lavínia (Camila Pitanga), vai ser o eixo em torno ao qual a história vai ser contada.
As lentes do fotógrafo Cauby a elegem como musa e Lavínia se espalha pelas paredes da casa dele, em toda a sua formosura e mistério. Porque ela não se abre. Sua vida vai ser contada aos poucos.
Mas se entrega, como a Iara mítica da praia, a Cauby. Sexualidade à flor da pele, que explode como onda que quebra e vai morrer na cama daquele homem.
Há ainda o pastor Hernani (Zécarlos Machado). O terceiro do triângulo. Bem intencionado, quer redimir a todos porque está em luta interna com seus próprios demônios. Ele é quem traz Lavínia da decadência das calçadas de Copacabana para a floresta.
A fotografia de Lula Araujo é magistral. Tanto os rostos e corpos humanos, como a cidadezinha pobre, são transformados em quadros de um pintor talentoso que não pinta apenas a superfície mas adentra outras camadas, sem perturbar a natureza do que é retratado.
E maravilha nossos olhos com o rio turqueza, as matas verde-amarelas e o rosto transfigurado de Camila Pitanga quando se abre num sorriso iluminado.
Quem gosta de filmes imperfeitos mas com substância, não pode perder “Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios”.




sexta-feira, 4 de maio de 2012

Sete Dias com Marilyn

“Sete Dias com Marilyn”- “My Week with Marilyn”, Estados Unidos, 2011
Direção: Simon Curtis
Marilyn Monroe (1926-1962) era uma alma triste e perturbada em um corpo feminino sedutor. Sua história? Trágica desde o início.
Mesmo assim, ela chegou a ser uma das maiores estrelas do cinema do século XX.
Quanto de tenacidade e de carisma, somados à carência e à fragilidade... Uma mistura perigosa, mesmo sem as pílulas e a bebida que ela tomava para se esquecer do que mais lembrava. Não haveria nunca um lugar seguro nesse mundo para ela, nem quem a protegesse dela mesma.
“Sete Dias com Marilyn” é um relato real escrito por um homem que, aos 23 anos, encontrou Marilyn Monroe e deixou-se enfeitiçar por um sonho.
Ele e ela estavam em Londres. O ano era 1956. Ela era a atriz principal do filme, ele ajudava Sir Laurence Olivier que atuava e dirigia “The Prince and the Show Girl” (traduzido aqui como “O Principe Encantado”).
Colin Clark (vivido por Eddie Redmayne), inglês, com uma rica família aristocrática, filho mais novo de uma prole de superdotados, precisava provar para si mesmo, mais do que a ninguém, que ele também valia alguma coisa.
Marilyn Monroe, insegura e ignorante do próprio brilho, também tinha um problema parecido.
Quando os dois se aproximam, ele diz:
“- Sir Laurence Olivier é um grande ator que quer ser um astro de cinema. Você é uma estrela de cinema que quer ser uma grande atriz. Este filme não vai fazer bem a nenhum dos dois.”
Michelle Williams, que ganhou o Globo de Ouro e foi indicada ao Oscar pelo papel, não se parece fisicamente com Marilyn mas expressa, com talento, a fragilidade da deusa que queria ser amada como uma mulher comum, mas que não acreditava, nem um minuto, no que ela mesma dizia.
Contraditória, ambivalente e melancólica, como podia ela saber o que era o amor que tanto buscava?
Exemplarmente, o filme nos brinda com alguns momentos felizes de dois jovens belos e atraentes, em cenas idílicas no campo inglês. Na volta do passeio, ao som tristonho de Nat King Cole cantando “Autumn Leaves”, Marilyn olha, sem ver, pela janela do carro, que passa por uma floresta ao luar. Ele? Sonha.
Keneth Branagh, também indicado ao Oscar de ator coadjuvante, faz um Sir Laurence Olivier que age como um diretor tirânico e maldoso com Marilyn. Nele palpita uma inveja profunda.
Vivien Leigh (Julia Ormond), 43 anos na época e mulher de Olivier, grita quando vê Marilyn nas primeiras cenas filmadas:
“- Não sabia que ela era tão bonita! Ela brilha na tela! Espero que ela torne sua vida um inferno”, arremata chorando.
Judi Dench, que faz outra atriz do filme, resume o drama do jovem Colin:
“- Como pode ser desesperador o primeiro amor...”
“Sete dias com Marilyn” é uma primavera fugaz que ela e o jovem inglês viveram, cada um à sua maneira.
Ele, certamente, nunca mais a esqueceu...