“The
English Game”- Reino Unido, 2020
Direção: Brigitte Staermose e Tim Fywell
Em fins do século XIX aconteceu algo impensável até então.
Um tradicional jogo inglês, o futebol amador, ganhou o mundo, tornando-se o
popular esporte que todos conhecemos. Julian Fellowes, o criador de “Downton
Abbey”, escreveu para esta série a história desse jogo, que era visto
anteriormente apenas como um bom exercício para meninos.
Foi uma dura luta fazer o futebol do povo ter acesso a
competições oficiais, com os times de trabalhadores, já que só eram
considerados para a Copa da Inglaterra, os times da elite, que jogavam só por
esporte.
Essa série da Netflix, que tem 6 capítulos, torna-se
interessante porque o futebol é contextualizado. Vamos ver a diferença dos
costumes do século XIX frente aos nossos e perceber valores ligados à classe
social privilegiada que se traduziam em preconceitos inabaláveis.
Os ricos aristocratas gostavam do futebol e jogavam muito
bem entre eles. Claro que não ganhavam nada com isso. Nem precisavam. Era um
jogo de cavalheiros, não de gente do povo. Até isso mudar.
E já vou avisando. Se você não é fã de futebol não se deixe
levar pelo pensamento que a série é chata. O autor escreve um roteiro que se
interessa pela vida dos personagens fora do campo. Tanto os ricos quanto os
pobres.
Assim, enquanto a elite morava em mansões rodeadas de belos
jardins, frequentavam jantares sofisticados, com cristal, cerâmicas finas e
talheres de prata, os operários chegavam em casa exaustos, depois de um dia de
trabalho duro e mal tinham convivência com a mulher e os filhos. E era só nos
fins de semana que tinham tempo para o futebol e as conversas depois no “pub”
local. Havia um abismo entre o modo de viver dos da elite e o povo de
trabalhadores.
Claro que as preocupações também eram totalmente diferentes
e eram quase mundos à parte.
Tudo começou a mudar com a chegada em Windsor, perto de
Londres e onde ficava a Universidade de Eton, dos personagens principais,
Fergus “Fergie” Sutter e Jimmy Love, que realmente existiram. Fergie é
considerado o primeiro jogador profissional de futebol da história, ou seja,
ganhava para jogar e incrementar o time. Os dois começaram suas carreiras na
Escócia, comprados depois para jogar nos times ingleses, Darwen e Blackburn,
ambos de jogadores que eram operários.
Todas as histórias da série vieram da imaginação do criador
porque, apesar das pessoas serem reais, sabe-se pouco sobre eles. O que se sabe
é que, no começo, foi um escândalo saber que os dois ganhavam dinheiro para
jogar.
Quem entendeu a necessidade dos jogadores operários serem
pagos para jogar futebol nos times de trabalhadores foi um aristocrata da
Universidade de Eton, Arthur Kinnaird (Edward Hulcroft, belo homem e bom ator).
Ele se aproximou mais dos operários e viu como viviam. Isso não passava pela
cabeça de sua família de banqueiros.
Kinnaird viu com seus próprios olhos que quem trabalhava
duro durante a semana não tinha fôlego nem tempo para se exercitar e realmente
jogar dentro do campo. Ele entendeu que para ser um jogo com resultados justos,
todos deveriam ter a mesma oportunidade.
Quando a Associação de Futebol da Inglaterra, com Kinnaird
como presidente, admitiu e aceitou a profissionalização, os jogadores passaram
a ser disputados pelos times. Para isso as regras tiveram de ser mudadas em
1885 e nenhum time de amadores ganhou a Copa da Inglaterra depois disso.
aram a ser disputados pelos times. Para isso as regras
tiveram de ser mudadas em 1885 e nenhum time de amadores ganhou a Copa da
Inglaterra depois disso.
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