sábado, 4 de julho de 2020

Encontros e Desencontros



“Encontros e Desencontros”- “Lost in Translation”, Estados Unidos, 2003
Direção: Sofia Coppola

Tóquio é uma cidade que tem várias atrações. Nos hotéis a sofisticação, nas ruas de comércio de produtos caros pessoas “cool” desfilam vestes excêntricas, nos jardins a perfeição da natureza, o povo no metrô tão limpo e os restaurantes para todos os bolsos. As garotas coloridas e risonhas vestidas em quimonos são turistas também. Se você der sorte pode ver uma gueixa de verdade se for no bairro delas.
É nessa cidade bela e fria que chegam dois americanos que lá vão se encontrar. Talvez isso só fosse possível  em Tóquio que deixa o estrangeiro perdido e solitário.
Bob Harris (Bill Murray), um ator americano de uns 50 anos, veio fazer um comercial para o whiskey Suntory. Sonado, ele é recebido no Park Hyatt Hotel por um séquito de japoneses que se curvam e dão as boas vindas. Ele só quer dormir. Mas o pior é que o fuso horário é tão louco que ele não consegue.
E vai para o bar famoso do hotel. Mas está inquieto e quando dois sujeitos se aproximam para puxar conversa e dizem que são fãs dele, é a gota d’água. Volta para o quarto. São 4:20 da manhã. Chega um fax de Lydia, sua mulher.
Charlotte (Scarlet Johansson), muito jovem, loura e linda, também não consegue dormir. O marido, tão jovem quanto ela, ronca alto.
A hora de acordar chega e os dois desconhecidos estão no mesmo elevador. Ele nota a loura. Mas ela ainda não acordou direito.
O filme do whiskey é muito atrapalhado. O fotógrafo, jovem e estrelíssimo, grita em japonês e a tradutora não passa tudo que ele diz para Bob. Mas finalmente a coisa sai.
Charlotte não está bem. No templo budista que ela vai visitar, sozinha, porque o marido foi trabalhar, ela acompanha de longe uma noiva e um noivo num ritual no templo. Seu rosto expressa comoção com a cena. E tristeza.
No quarto olha a cidade pela janela, telefona chorosa para alguém que não tem tempo para consolá-la, espalha flores artificiais pelo quarto. Está perdida.
Os dois desconhecidos procuram um ao outro mas ainda não sabem. Até que, à noite, seus olhares se cruzam e ela sorri. É só o começo de algo que não é fácil de encontrar. Um homem mais velho e uma mulher bem jovem vão se aproximar para um encontro que vai preencher um lugar único na vida deles, apesar de tão pouco tempo juntos. Há uma compreensão e empatia instantâneas.
Sofia Coppola, 59 anos, era bem mais jovem quando escreveu, dirigiu e produziu esse filme, que lhe deu um Oscar de melhor roteiro original e um Globo de Ouro de melhor filme. Tinha 42 anos e “As Virgens Suicidas” de 1999, seu primeiro longa, tinha sido muito bem recebido. Depois vieram “Marie Antoinnete” 2006, “Um Lugar Qualquer” 2010 que ganhou o Leão de Ouro de Veneza, “Bling Ring” 2013, “O Estranho que Nós Amamos” 2017 e o novo filme “On the Rocks” 2020 que também tem Bill Murray.
Filha do cineasta Francis Ford Coppola (“Godfather”), ela tem uma família de diretores de cinema. A mãe Eleanor que fez sucesso com “Paris Pode Esperar” 2016 e Roman, o irmão de “Moonrise Kingdon” 2012.
“Encontros e Desencontros” no título em português e “Lost in Translation” no original, sugerem aquela comunicação entre seres humanos que é rara e sem grandes arroubos, nem sexualidade explícita. É bem mais do que isso e não pode ser posto em palavras. Está além. E é só deles dois. O que explica o sussurro final, só para ela ouvir.
Adoro.


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