Direção: Todd Field
Ela destoava das outras mães de crianças pequenas que,
conversando sobre banalidades, inclusive sexo com os maridos, olhavam os filhos
brincando.
Recém chegada no bairro, morando na casa imponente herdada
da sogra, parecia que Sarah (Kate Winslet, maravilhosa atriz) não queria estar
ali. Meio mal vestida, cabelos um pouco desgrenhados, ela dava a impressão de
que não estava no parquinho por vontade de socializar com as outras mães. Vinha
por Lucy mas que também não fizera amigos.
Na hora do lanche dos pequenos, ela já esquecera de trazer o
de Lucy duas vezes, lembra uma das mães, com olhar desaprovador. E manda o
filho dar a ela um biscoito.
De repente, todas olham para um homem bonito (Patrick
Wilson) que chega com o filho nos ombros. Elas se agitam:
“- Quem é ele? ”, pergunta Sarah.
“- O rei do baile, que já não aparecia há algumas semanas”,
explica uma delas. “Se bem que era melhor que ele não viesse. Porque a gente
não precisava se arrumar, por um pouco de maquiagem...”
“- Como é o nome dele? ”
“- Ninguém conversou com ele”, responde a outra, olhando de
um modo meio escandalizado para Sarah.
Mais tarde vemos o alvo das mães em casa e ele é casado com
uma linda mulher (Jennifer Connelly) que trabalha com documentários para a
televisão. Ela é a provedora da casa, estrita quanto aos gastos do marido e
espera que ele cuide do filho de dia e estude à noite na biblioteca. Ele
precisa fazer o Exame da Ordem para poder advogar. Mas não se esforça. Ao invés
de ir para a biblioteca, ele ficava admirando os garotos do skate, lembrando de
quando era livre como eles. Como Sarah, ele parecia entediado com a vida. E
sentia a mesma irritação.
No dia seguinte, as mães do parquinho estavam mais agitadas
do que o normal. A grande novidade era que o pedófilo que fora preso por
exibir-se a uma criança, saíra da cadeia e voltara a morar com a mãe, ameaçando
a paz do bairro.
O bonitão estava no parquinho e quando ele se preparava para
sair, Sarah num ímpeto diz que vai perguntar o nome dele. Uma das mães tira uma
nota de 5 dólares e, ironicamente, aposta que ela não iria ter coragem de pedir
o número do telefone dele.
E Sarah vai. Ele comenta que ela é a primeira pessoa a falar
com ele:
“- Você põe elas nervosas! Sabe o que seria divertido? Me
abraça na despedida.”
E, boquiabertas, as mães veem os dois conversarem, o abraço
e para escândalo maior, Sarah dar um beijo inesperado na boca dele. Debandada
geral.
O filme tem um narrador mas sua função não se refere a
fatos. Ele descreve o que acontece no íntimo dos personagens.
Por isso sabemos que Sarah está no seu limite. Formada em
Literatura Inglesa sente-se desperdiçada naquela vidinha sem graça. O marido
nem a nota e, para cúmulo, ela pega ele se masturbando na frente do computador.
Assim, Sarah e Brad, tinham algo em comum: sonhos de uma
felicidade improvável. Inseguros, imaturos, carentes, sob a capa de proteção
que encontraram nas suas vidas, fervilhavam as insatisfações.
“Pecados Íntimos – Little Children” baseado no romance de
Tom Perrotta que escreveu o roteiro com o diretor Todd Fields, mostra que
ninguém ali cresceu. O título em inglês parece mais apropriado para aqueles
adultos imaturos, sem coragem de mudar algo em suas vidas insatisfatórias.
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