quinta-feira, 23 de abril de 2020

O Milagre



“O Milagre”- “Mucize”, Turquia, 2015
Direção: Mahsun Kirmizgul

Quem já visitou a Turquia sabe o belo país que nossos olhos descobrem. Istambul, a entrada da Europa para a Ásia, já foi Bizâncio e Constantinopla e é tão fascinante que nos perdemos nos brilhos das águas do Bósforo nas noites de lua e ficamos deslumbrados nas visitas à Agia Sofia, Mesquita Azul, o palácio Topkapi e o Grande Bazar.
Mas a história desse filme se passa no interior da Turquia, nos anos 60, logo após o golpe militar, o primeiro da história moderna do país.
As belezas lá são outras. Cadeias de montanhas de pedras altíssimas, nevadas em seus picos e um grande lago azul são o cenário onde vai acontecer o “milagre” do título do filme. Não do jeito que entendemos os milagres que precisam de santos para intermediar os acontecimentos. Aqui os milagres que acontecem são devidos ao amor e à solidariedade entre as pessoas.
Um professor (Talat Bulut) é nomeado pelo governo para ensinar num vilarejo nas montanhas. Ele vai sozinho porque a mulher e as duas filhas se recusam a deixar suas vidas na cidade. Mas ele decide que vai. É seu dever. Faz parte de sua carreira e não haverá aposentadoria se recusar o posto.
E lá vai ele, de terno e gravata, no ônibus que leva gente e galinhas, sacolejando por uma estrada mal conservada. E uma surpresa no final. O professor fica sabendo que dali teria que seguir à pé porque a estrada para o vilarejo ainda não fora construída.
Ele olha para as duas montanhas que teria que atravessar, além do rio e quase desanima. Mas é verão, os campos estão verdes e com a mala na cabeça e calças arregaçadas, ele atravessa o rio andando.
Um bom tempo depois, ele avista o vilarejo e outra surpresa o espera. Todos os homens armados, o esperam. Afinal ele é um estranho. Mas ficam felizes quando escutam sua explicação de que veio da cidade nomeado como professor pelo governo.
Os chefes do vilarejo se entreolham quando o professor pede para ver a escola. Porque a escola prometida nunca fora construída.
Qualquer outro menos imbuído do dever teria dado meia volta e partido para onde viera. Mas não aquele professor. E a escola é construída com a ajuda dos temidos bandoleiros, o povo da montanha, sempre armados e montados em seus cavalos. Que desmontam e erguem a escola. Um milagre.
Mas o maior milagre que aconteceu foi a relação do professor com Aziz, o filho caçula do chefe do vilarejo, considerado deficiente. Não falava e tinha grande dificuldade para andar por causa dos movimentos espásticos. Seu único amigo era um belo cavalo negro com quem diziam que ele conversava.
Quando o professor conseguiu conquistar sua confiança a vida de Aziz começou a mudar.
O cenário natural é belíssimo e as pessoas parecem pertencer ao local do vilarejo com suas roupas coloridas e típicas. Custa a crer que são atores.
E quem mais se destaca é Mert Turak que interpreta Aziz, “o louco da aldeia”, que vai ser tratado como deveria pelo professor, que encontra o caminho para fazer aparecer o que se encontrava oculto nele.
“O Milagre”, dirigido e roteirizado por Mahsun Kirmizigul é um filme bem cuidado, que faz o espectador conhecer um lugar, uma cultura e uma tradição diferentes das nossas e principalmente se emocionar com uma história bem contada.

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