“O Milagre”- “Mucize”, Turquia, 2015
Direção: Mahsun Kirmizgul
Quem já visitou a Turquia sabe o belo país que nossos olhos
descobrem. Istambul, a entrada da Europa para a Ásia, já foi Bizâncio e
Constantinopla e é tão fascinante que nos perdemos nos brilhos das águas do
Bósforo nas noites de lua e ficamos deslumbrados nas visitas à Agia Sofia,
Mesquita Azul, o palácio Topkapi e o Grande Bazar.
Mas a história desse filme se passa no interior da Turquia,
nos anos 60, logo após o golpe militar, o primeiro da história moderna do país.
As belezas lá são outras. Cadeias de montanhas de pedras
altíssimas, nevadas em seus picos e um grande lago azul são o cenário onde vai
acontecer o “milagre” do título do filme. Não do jeito que entendemos os
milagres que precisam de santos para intermediar os acontecimentos. Aqui os
milagres que acontecem são devidos ao amor e à solidariedade entre as pessoas.
Um professor (Talat Bulut) é nomeado pelo governo para
ensinar num vilarejo nas montanhas. Ele vai sozinho porque a mulher e as duas
filhas se recusam a deixar suas vidas na cidade. Mas ele decide que vai. É seu
dever. Faz parte de sua carreira e não haverá aposentadoria se recusar o posto.
E lá vai ele, de terno e gravata, no ônibus que leva gente e
galinhas, sacolejando por uma estrada mal conservada. E uma surpresa no final.
O professor fica sabendo que dali teria que seguir à pé porque a estrada para o
vilarejo ainda não fora construída.
Ele olha para as duas montanhas que teria que atravessar,
além do rio e quase desanima. Mas é verão, os campos estão verdes e com a mala
na cabeça e calças arregaçadas, ele atravessa o rio andando.
Um bom tempo depois, ele avista o vilarejo e outra surpresa
o espera. Todos os homens armados, o esperam. Afinal ele é um estranho. Mas
ficam felizes quando escutam sua explicação de que veio da cidade nomeado como
professor pelo governo.
Os chefes do vilarejo se entreolham quando o professor pede
para ver a escola. Porque a escola prometida nunca fora construída.
Qualquer outro menos imbuído do dever teria dado meia volta
e partido para onde viera. Mas não aquele professor. E a escola é construída
com a ajuda dos temidos bandoleiros, o povo da montanha, sempre armados e
montados em seus cavalos. Que desmontam e erguem a escola. Um milagre.
Mas o maior milagre que aconteceu foi a relação do professor
com Aziz, o filho caçula do chefe do vilarejo, considerado deficiente. Não
falava e tinha grande dificuldade para andar por causa dos movimentos
espásticos. Seu único amigo era um belo cavalo negro com quem diziam que ele
conversava.
Quando o professor conseguiu conquistar sua confiança a vida
de Aziz começou a mudar.
O cenário natural é belíssimo e as pessoas parecem pertencer
ao local do vilarejo com suas roupas coloridas e típicas. Custa a crer que são
atores.
E quem mais se destaca é Mert Turak que interpreta Aziz, “o
louco da aldeia”, que vai ser tratado como deveria pelo professor, que encontra
o caminho para fazer aparecer o que se encontrava oculto nele.
“O Milagre”, dirigido e roteirizado por Mahsun Kirmizigul é
um filme bem cuidado, que faz o espectador conhecer um lugar, uma cultura e uma
tradição diferentes das nossas e principalmente se emocionar com uma história
bem contada.
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