“Uma Vida Oculta”- “A Hidden Life”, Estados Unidos, 2019
Direção: Terrence Malik
Ele vivia num paraíso escondido. Aquelas altas montanhas
cercando o vale onde poucos habitavam teciam um elo com a natureza. Viviam
rodeados de beleza natural intocada. As estações do ano regiam suas vidas na
pequena aldeia de Radegund.
Franz Jagerstatter (August Dihel) é um homem desligado do
mundo lá fora. Ele ama Fani (Valerie Pachner), docemente, sem arroubos. As
filhas trouxeram mais carinho para sua casa simples mas bela e funcional.
Ali onde moram o trabalho é diário, intenso e silencioso. O
trato com os animais é cercado de cuidados. O dia e a noite marcam afazeres e
descanso.
Não há luxo. Apenas o essencial. Mas nada falta aos que não
exigem o supérfluo. São felizes com aquilo que tem. Risos são frequentes em
conversas de poucas falas.
Mas no mundo lá fora começa a guerra e, a princípio, parecia
que era coisa dos outros, não deles.
Quanto se enganavam. Porque a Áustria caíra sob o domínio do
nazismo. Como destoavam da simplicidade dos camponeses locais com seus gestos
arrogantes, uniformes e botas brilhantes. Chegaram em Radegund porque
precisavam de soldados. Cada vez que o rapaz do correio passava com a bicicleta
era mais um homem que era retirado da companhia dos seus para ir lutar por
ideias que não eram deles. Mas a obediência às convocações era fruto do medo
das ameaças dos alemães. Todos colaboraram. Menos um.
Franz luta consigo mesmo. Sabe que a família sofrerá com o
que vai acontecer. Mas não há outro caminho para ele.
Escutamos em “off”, marca registrada do diretor Terrence
Malik, os monólogos internos do camponês. Ele vai se rebelar pacificamente. Não
vai para a guerra, nem vai fazer a saudação nazista.
Franz Jagerstatter sofreu humilhação, tortura e fome mas não
se dobrou ao nazismo. Fani e as crianças eram hostilizadas pelos outros aldeões
que temiam a ira que se abateria sobre a aldeia por causa de um só homem.
Nada tirou Franz do caminho moral que escolhera. O Deus em
que ele acreditava ditava essa posição frente à vida.
Hostilizado até pela Igreja Católica, Franz resistiu a todos
os argumentos e tentações e manteve suas convicções.
Em 2007 ele foi reconhecido como mártir e beatificado pelo
papa alemão Bento XVI.
Terrence Malik, 77 anos, Urso de Ouro em 1999 por “Além da
Linha Vermelha” e Palma de Ouro em 2011 por “Árvore da Vida”, alguns dos
prêmios de sua carreira, em “Uma Vida Oculta”, com imagens belíssimas, conta
uma história real sobre um homem que não se deixa levar pelo medo e mantém suas
convicções até o fim. Exemplo de correção moral, importante para ser pensada
nos dias de hoje.
O filme tem 3 horas de duração, o que pode afastar quem não
sabe que, com Terrence Malik, esse é um tempo muito bem aproveitado tanto para
nossos olhos quanto para nossa alma.
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